Luiz Bandeira
Entregadores de aplicativos de delivery e motoboys de Teresópolis se uniram em uma paralisação que faz parte de um movimento nacional que protestam contra a precarização do trabalho, manifestação que atinge 22 estados do Brasil. Organizados principalmente por meio de grupos de WhatsApp, os profissionais anunciaram a suspensão dos serviços nos dias 31 de março e 1º de abril, buscando melhorias nas condições de trabalho e nas tarifas oferecidas pelas empresas de entrega, como o iFood. Em Teresópolis, a concentração dos entregadores, tanto motoboys quanto ciclistas, ocorreu na Praça Olímpica Luiz de Camões, no centro da cidade, após uma motociata partindo do Alto.
Renato Cruz, um dos líderes locais do movimento, explicou que, apesar dos esforços para entrar em contato com a empresa, não houve resposta satisfatória. Segundo ele, a comunicação com o iFood é limitada a uma inteligência artificial em São Paulo ou no Rio de Janeiro, e até o momento não houve avanços. Em outras cidades, como São Paulo e Rio, já ocorreram paralisações em frente à sede da empresa, mas nada foi resolvido até o momento. Renato destacou que a principal exigência é a melhoria das taxas pagas aos entregadores, que, segundo ele, são baixíssimas. A taxa mínima, hoje de R$ 6,50, deveria ser aumentada para R$ 10, de acordo com os manifestantes. Além disso, a taxa por quilômetro, atualmente em R$ 1,50, também precisa ser revisada, com um aumento para R$ 2,50, visando uma compensação mais justa, principalmente para os entregadores de bicicleta, que enfrentam distâncias consideráveis para entregar produtos com uma tarifa inadequada.

Prejuízo nas entregas agrupadas
Renato também apontou um problema com as entregas agrupadas. Quando várias entregas são realizadas simultaneamente, o valor pago aos entregadores não é proporcional, o que gera prejuízos. Ele exemplificou: “Se a taxa de uma entrega é R$ 6,50, e temos três entregas, o valor deveria ser R$ 19,50, e não R$ 14 ou R$ 13, como tem acontecido.”
O movimento já alcançou grande adesão. De acordo com Renato, 22 estados e mais de 47 municípios estão participando da paralisação. Em Teresópolis, o apoio também veio de algumas empresas locais, que decidiram fechar as portas e informar aos clientes que o iFood não funcionaria naquele dia. Além disso, algumas empresas demonstraram solidariedade ao movimento, sabendo da difícil realidade enfrentada pelos entregadores.

Boa adesão local
Outro líder do movimento, Vitor Pain destacou a adesão total dos profissionais à paralisação e a importância de se unirem por uma causa comum. Ele comentou que, apesar de terem reunido cerca de 150 pessoas em Teresópolis, sabia que muitos outros estavam em casa, com o aplicativo desligado, contribuindo para a mobilização. Vitor agradeceu a todos que participaram, tanto os que estavam presentes quanto os que se uniram à causa de forma indireta.
A situação de alguns trabalhadores é especialmente preocupante. Vitor citou o caso de Léo, um entregador que sofreu um acidente e, por causa de uma entrega paga a apenas R$ 6,50 não pode mais trabalhar. Léo, com a perna enfaixada, ainda estava presente no local da manifestação, mas estava recebendo apenas R$ 700 da empresa, o que não é suficiente nem para cobrir seus custos médicos. “Estamos aqui não só para paralisar, mas para apoiar uns aos outros”, afirmou Vitor, refletindo sobre a vulnerabilidade da profissão. “Hoje é o Léo, mas amanhã pode ser qualquer um de nós”, pontuou
Além disso, Vitor mencionou que, apesar da paralisação, muitos entregadores também precisavam aproveitar o momento para estar com suas famílias. “Com a taxa tão baixa, temos que trabalhar o dia inteiro, muitas vezes deixando nossa família de lado. Então, aproveitando a paralisação, vou aproveitar para ficar com a minha família, e quem puder fazer o mesmo, será ótimo”.

Trajetos menores
Eles também pedem que o iFood revise as condições de trabalho, especialmente para os entregadores de bicicleta, que enfrentam longas distâncias e condições desfavoráveis para realizar as entregas. O movimento está crescendo em todo o Brasil, com a adesão de mais estados e municípios, e os entregadores afirmam que a luta por melhores condições de trabalho está apenas começando. “Se for necessário, vamos continuar lutando. A nossa categoria não vai parar. Esta é a primeira paralisação, mas se for preciso, faremos outras. Nossa luta é por condições dignas para todos”, finalizou Renato Cruz.
Essa mobilização em Teresópolis e em todo o país busca não apenas mudanças imediatas nas tarifas e nas condições de trabalho, mas também um reconhecimento adequado da profissão, essencial para a sociedade, mas ainda subvalorizada pelas empresas de delivery.

EXIGÊNCIAS DA CATEGORIA
- A definição de uma taxa mínima de R$ 10 por corrida até quatro quilômetros;
- Aumento do valor para R$ 2,50 por km;
- Limitação das entregas por bicicletas a um raio máximo de três quilômetros;
- O pagamento integral de taxa em cada um dos pedidos, mesmo em entregas agrupadas na mesma rota.