No próximo dia 30 os moradores de várias comunidades do Segundo Distrito de Teresópolis poderiam se organizar para comemorar mais um aniversário de importante unidade escolar da rede municipal de educação. Porém, o único motivo para possível reunião nessa data segue sentido contrário: Se houver movimentação, será para reclamar mais um ano de abandono, o décimo primeiro, do prédio onde deveria funcionar o estabelecimento de ensino que homenageia Aluizio de Souza Silva, antigo morador da localidade de Providência. Construída com recursos municipais, a escola no quilômetro 62 da estrada Rio-Bahia nunca sequer foi inaugurada por conta de problema no acesso. Desde 2008 moradores escutam promessas de intervenções junto à Concessionária Rio-Teresópolis (CRT), responsável pela administração da rodovia, e, agora, a atual gestão anuncia nova ideia: “Em audiência celebrada pela Vara da Infância, da Juventude e do Idoso de Teresópolis, entre o Ministério Público e a Prefeitura, ficou acordado que o imóvel seria cedido para a Secretaria Municipal de Saúde que encaminhou pedido de informação à CRT sobre a possibilidade de fazer uma unidade de saúde naquele lugar”, informou o governo Claussen quando questionado pelo Diário se havia alguma novidade em relação ao espaço. Ainda segundo a nota, “os estudantes da região são atendidos nas escolas municipais Albino Teixeira, em Providência; Alice Suassuna, em Cuiabá; Rui Barbosa, em Gamboa; e Serra do Capim, na localidade de mesmo nome, no 2º Distrito”.
Além de total depredação,local vem sendo utilizado como depósito de lixo
Porém, tais jovens poderiam estar melhor abrigados, em uma escola que foi anunciada como modelo na época, tivesse sido construída em local mais seguro em relação ao trânsito. Hoje, mesmo que fosse feita uma grande intervenção na rodovia, com construção de um trevo para retorno e instalação de radares para reduzir a velocidade dos veículos nas proximidades do prédio público, por exemplo, seria necessário mais um investimento milionário no estabelecimento. Sobraram praticamente só as paredes, o piso e parte do telhado da Aluízio de Souza. Esquecida por todos os últimos prefeitos que passaram pelo Palácio Teresa Cristina, a unidade escolar foi totalmente depredada.
Atendendo a demanda das comunidades da região, a reportagem do jornal O Diário e Diário TV esteve no local diversas vezes nos últimos anos. Nesta terça-feira (03), ficamos impressionados com o que encontramos. Mesmo cercada de residências, e com grande movimentação na rodovia, furtaram todas as janelas, três portões de aço, forração do teto, pias, vasos e, pasmem, até azulejos. Em vários cômodos, o acabamento está sendo retirado para ser reaproveitado em outras obras. Das dezenas de cadeiras e mesas, que não se sabe o motivo de terem continuado guardadas naquele local, sobraram apenas as partes plásticas – que não têm nenhum valor comercial. Os ambientes onde deveriam funcionar refeitório e cozinha parecem ter sido bombardeados, cenário de guerra mesmo. Em sala ao lado, que segundo a placa no que sobrou da porta seria um ambiente de informática, até as folhas de zinco do telhado foram retiradas. Em 2017, agentes da Guarda Municipal foram acionados e detiveram quatro pessoas em pleno ato criminoso, entre eles uma mulher grávida. No veículo do bando havia grande quantidade de fios arrancados das paredes e tetos da escola.
Anunciada como uma escola moderna, a Aluízo de Souza Silva tinha quadra interna, entre as salas de aula
Uma triste história
A inauguração desse hoje “elefante branco” aconteceu em 30 de setembro de 2008. A promessa era que atenderia cerca de 600 alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental a partir do mês seguinte. Porém, no dia da inauguração os representantes do poder público já sabiam que provavelmente a promessa não seria cumprida: Desde o ano anterior, quando no local apenas existia uma placa de publicidade da futura a obra, a CRT, concessionária que administra a rodovia, já alertava para a falta de projetos para construções as margens das rodovias federais. E, apesar da inexistência de uma área de acesso ao prédio com segurança – visto que a escola fica entre duas curvas em trechos de alta velocidade – a prefeitura insistiu com a obra, entregue um mês antes de eleições municipais.
A imagem é um contraste absurdo com o que se esperava para o local, que receberia 600 estudantes
Promessas e mais promessas
Em fevereiro de 2015, o Governo Municipal apresentou à CRT uma proposta de parceria para a construção de via de acesso a fim de garantir o tão esperado funcionamento do estabelecimento de ensino. “A ideia é que Prefeitura e Concessionária avaliem legalmente a viabilidade de a empresa realizar a obra, numa forma de antecipar ao Município o valor relativo ao repasse de ISSQN – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza”, informou a Assessoria de Comunicação da PMT na ocasião. A proposta foi apresentada em reunião entre representantes da prefeitura e da concessionária.
Um projeto para construção de um acesso seguro foi feito e chegou a ser iniciado. Porém, na catástrofe de 2011 o rio tomou proporções absurdas e a força da água danificou as margens. Com isso, dois novos projetos tiveram que ser feitos. Um, com custo bem menor, foi vetado pelo Instituto Estadual do Ambiente. O terceiro, que implicaria na modificação do traçado da rodovia, foi apresentado ao governo municipal em 2013. Porém, os custos para tal obra são bastante elevados e, segundo alegou a CRT na ocasião, “não competem à concessionária porque é um serviço que não está previsto em contrato”.
Em setembro de 2016, já no Governo Tricano, a Assessoria de Comunicação da Concessionária Rio-Teresópolis informou que “foi feita uma solicitação pela Prefeitura Municipal de Teresópolis para que a CRT participe na realização da referida obra. O assunto está sendo analisado pela Diretoria da Concessionária e tão logo tenhamos um posicionamento formal da empresa, o mesmo será comunicado”.
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