Luiz Bandeira
Diferente do quê propõe o polêmico feriado instituído na cidade para homenagear as vítimas das fortes chuvas que castigaram a Região Serrana em 2011, nesta quarta-feira, 12 de janeiro, completou 11 anos da maior tragédia provocada por evento climático no Brasil. Nesse dia, muitos teresopolitanos sofrem com lembranças terríveis de parentes, vizinhos, amigos e pessoas queridas, que perderam suas vidas de forma trágica. Muitas histórias tristes de famílias inteiras que foram dizimadas atingidas de alguma forma violenta. Moradores dos bairros mais atingidos pelas chuvas de janeiro de 2011 e que escaparam das barreiras e alagamentos, mas que perderam sua casa, ou tiveram o imóvel interditado, têm que conviver, até hoje, com o prejuízo ou aceitou morar em uma das unidades habitacionais da Fazenda Ermitage. O que ouvimos de alguns entrevistados que preferiram não se identificar temendo represália, é de que numa casa onde morava mais de uma família, foi oferecida apenas uma unidade habitacional para todos, sendo inviável. Motivo pelo qual algumas famílias retornaram para as casas interditadas pela Defesa Civil, mesmo estas casas representarem risco de vida para que habitasse no local. Esse é só um dos problemas que não foram sanados mesmo passando tanto tempo do dia 12 de janeiro de 2011.
No bairro de Campo Grande, onde quase todas as residências foram destruídas, muitas casas com indicação de interdição já estão ocupadas, inclusive algumas até sendo negociadas, segundo nos relatou um morador que preferiu manter o anonimato. Na ocasião da Tragédia, técnicos do governo do estado indicavam que os locais mais próximos dos dois córregos que se encontram para formar o rio que atravessa o bairro não eram apropriados para habitação e determinaram a evacuação da área e que barreiras necessitavam ser construídas para conter novos deslizamentos de pedras e também conter as cheias destes cursos d’água.
Duas estruturas compostas por grandes cabos de aço foram construídas nos córregos, no entanto, agora, peças de alumínio que costuram a grande malha de aço estão sendo furtadas e fragilizando a contenção que, para um leigo, não parece ser suficiente para segurar a violência de evento semelhante ao de 2011 no bairro. Nossa equipe, que esteve em Campo Grande nesta quarta-feira pôde observar que muitos esqueletos de casas que ainda estavam erguidos foram demolidos ano passado, em ação do governo do estado, iniciada com a demolição do prédio ‘fantasma’ na Estrada da Posse, que não permitia esquecer o ocorrido em 2011. Em ocasião dos dez anos da Tragédia, autoridades no âmbito estadual e municipal, convocaram veículos de imprensa para cobertura de um evento promovido para representar a retomada da reconstrução. Com marreta na mão, imagens foram feitas como se os próprios políticos estivem quebrando paredes. Nos discursos foi prometido um parque, um monumento às vítimas, uma ciclovia e a reforma de toda a estrada da Posse como forma de amenizar os danos causados no bairro.
Casas abandonadas
No Espanhol, conversamos com a jornalista Joanna Medeiros, que em 2011 integrava a equipe do Diário e participou ativamente da cobertura jornalística que se deu nas horas seguintes a Tragédia. Joanna conta o que encontrou quando chegou ao bairro Campo Grande. “Eu participei bem ativamente da cobertura dos eventos no dia 12. Logo no primeiro dia fui destacada diretamente para o Campo Grande, que eu acho que naquele momento era o lugar que a gente tinha o conhecimento que estava mais devastado e o que a gente encontrou lá é uma coisa assim, que só dá pra descrever como surreal. Muita lama, muita gente saindo das suas casas com a roupa do corpo, crianças no colo, animais de estimação, muitos mortos já infelizmente, o cenário que eu só tive acesso em filmes. Muitos carros em cima de casas, em cima de cercas, coisa assim que não dá pra mensurar”, descreveu emocionada a jornalista que contou também que não tinha dimensão do que iria vivenciar dali em diante. “A gente não sabia ao certo o que tinha acontecido só estava lhe dando naquele momento com a destruição e com os desabrigados e foi assim, até hoje eu fico meio emocionada, por que era impactante de mais. Foi um marco na minha carreira, eu sou jornalista desde 2009, hoje eu estou trabalhando com marketing, mas foi um marco na minha carreira de verdade”, pontua Joanna, que na entrevista para a Diário TV pontuou ainda o que acompanhou nos meses e anos seguintes – e se arrastando até hoje: A falta de eficiência do poder público às vítimas da catástrofe.
Hoje residindo no Espanhol, ela diariamente convive com dos muitos problemas que já era para ter sido solucionado, a demolição dos imóveis afetados direta ou indiretamente naquela comunidade. “Até hoje a gente vê pouca coisa que tenha sido feita efetivamente, teria que ter sido feito todo um trabalho de infraestrutura, melhoria das contenções, dos barrancos que aqui tem, inclusive as casas que foram afetadas aqui, elas estão sendo ocupadas de novo e isso está trazendo um perigo para estas pessoas que estão morando aqui, não sei se está sendo feita alguma fiscalização, não vejo nenhum agente da prefeitura aqui e acredito que em outros bairros seja uma realidade também. É muito triste ver que a tragédia não ensinou nada para o poder público”, finalizou Joanna Medeiros.
Na Vila Muqui, por exemplo, dezenas de imóveis que foram sinalizados para serem derrubados continuam de pé, mas hoje ocupados por pessoas que nada têm a ver com os antigos proprietários. Em uma delas, na Rua Fernando Martins, pessoas que viviam em condições de rua ocuparam, fizeram um “gato” na energia elétrica e hoje seguem à margem da legalidade e sem preocupação com possível novo risco geológico.