Maria Eduarda Maia
Quem caminha pelo Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis talvez não tenha dimensão de quantos animais circulam pelo espaço, um território que, desde 06 de julho de 2009, quando foi criado no aniversário da emancipação político-administrativa do município, se consolidou como um símbolo de resiliência, conservação ambiental e visitação turística. Essa história de preservação e riqueza natural passa a ser ainda mais conhecida e ganha novos registros com a publicação do primeiro inventário científico de mamíferos de médio e grande porte da unidade de conservação desde a sua criação.
O estudo, desenvolvido pelos biólogos Vitor Guniel Cunha, Ricardo de Barros Mello Filho e Vinicius Dias Netto, do PNMMT, Jorge Luiz do Nascimento, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e Carlos Eduardo de Viveiros Grelle, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, identificou a presença de 20 espécies, confirmando a riqueza da fauna local e a importância do parque e da preservação da Mata Atlântica. “A pesquisa foi realizada ao longo do meu projeto de mestrado, entre 2020 e 2022, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, dentro do programa de biodiversidade em unidades de conservação. O objetivo principal da pesquisa era realizar um inventário detalhado dessas espécies em Teresópolis”, explicou o biólogo Vitor Cunha, em entrevista ao Diário.
Durante o período das pesquisas, foram utilizadas armadilhas fotográficas para realizar o levantamento das espécies. Em campo, foram instaladas entre 10 a 15 câmeras em pontos previamente definidos. Os dados coletados eram registrados, analisados e organizados em planilhas para posterior avaliação. “Essas informações foram fundamentais para entender quais espécies de fato o parque protege no cenário de Teresópolis e também de mosaico de unidades de conservação, principalmente na Serra dos Órgãos”, destacou Vitor.

Importância
Ainda de acordo com o biólogo Vitor, essas informações coletadas foram fundamentais para entender quais espécies de fato o Parque Montanhas protege no cenário de Teresópolis, além do mosaico de unidades de conservação, principalmente na Serra dos Órgãos. “O estudo ajudou a evidenciar a importância do parque para a conservação da fauna local, incluindo espécies ameaçadas de extinção”, pontuou, destacando ainda que não é possível falar de unidade de conservação de maneira isolada. “O levantamento das espécies permitiu destacar a importância da conectividade entre as unidades de conservação”, complementou.

Resultados
Após a pesquisa, foram encontradas ao todo 20 espécies de mamíferos de médio e grande porte de 2020 até o final de 2022. Entre as espécies destacadas, podem ser mencionadas o Gato do mato pequeno (Leopardus guttulus), um pequeno felino típico da região Sudeste, o Lobo guará (Chrysocyon brachyurus), uma surpresa por ser um animal de cerrado e caatinga, mas que tem se expandido para a Mata Atlântica devido à perda de seu habitat, e o gato-morisco (Herpailurus yagouaroundi), que possui hábitos mais diurnos, ao contrário da maioria dos felinos da região. A Jaguatirica (Leopardus pardalis) também ganhou destaque no estudo.
“Outro animal importante que encontramos foi a onça-parda, um predador topo de cadeia da região. O Puma concolor é o segundo maior felino do Brasil e desempenha um papel fundamental no equilíbrio da cadeia alimentar da Mata Atlântica. Sua presença na área indica que toda cadeia alimentar que está abaixo também está sendo contemplada”, explicou o biológo Vinicius Netto.

Espécies exóticas
Um dado que chama atenção no estudo é o registro de espécies exóticas, que representaram 30% das imagens captadas por armadilhas fotográficas. A ocorrência desses animais acende um alerta para a necessidade de ações urgentes voltadas ao manejo do parque e de seu entorno, já que as espécies exóticas podem competir com a fauna nativa e causar desequilíbrios no ecossistema. “O parque, que possui uma zona de amortecimento, está cada vez mais cercado por áreas urbanas, com residências se aproximando do local. Isso tem gerado o aumento da presença de animais domésticos, como cães e gatos, que não só competem por território com as espécies nativas, como também caçam outros animais, o que prejudica a fauna local.”, frisou Vinicius.

Ainda segundo o biológo, é de extrema importância que ações sejam colocadas em prática para minimizar esse número de espécies exóticas e suas consequências. “Para reduzir esse impacto, é fundamental realizar um trabalho de educação ambiental com a comunidade do entorno. Isso e o envolvimento da comunidade são essenciais. A população precisa entender que a preservação é fundamental para manter o verde de Teresópolis e garantir a sustentabilidade do ecossistema”, destacou, ressaltando ainda que políticas públicas, como a vacinação dos animais domésticos, podem ajudar a evitar problemas como a transmissão de zoonoses, que também são um risco dentro das unidades de conservação.
“Hoje em dia, muitas pessoas estão buscando mais contato com a natureza, e Teresópolis é privilegiada por ter três unidades de conservação (federal, estadual e municipal). Mostrar a diversidade de espécies presentes na região e a importância da conservação é uma forma de fomentar o sentimento de pertencimento, além da noção de preservação”, concluiu Vinicius Netto.











