Isla Gomes
Fundada há mais de 15 anos, a Feira Agroecológica Tradicional de Teresópolis reúne um grupo de agricultores, produtores, artesãos e músicos com a missão de nutrir e conscientizar a sociedade, levando saúde, abundância e conhecimento em forma de alimentos saudáveis produzidos na região, além de propagar e viabilizar a agricultura orgânica em nosso município, o que gera emprego e renda para pequenos produtores. Porém, apesar de tamanha importância, há alguns anos a feira tem sido deixada de lado pelo poder público, com promessas de realocação e melhorias, que nunca se cumprem efetivamente. A cada ano que passa os trabalhadores perdem mais espaço e a dores de cabeça só aumentam. Há alguns dias mais um transtorno veio à tona, o de uma possível demolição de um imóvel no local onde ela funciona hoje e que pertence à Sudamtex, o que segundo os organizadores afeta diretamente o funcionamento da feira. No fim de semana eles foram surpreendidos com o anúncio da demolição, marcada para esta segunda-feira, 8. Por volta das 8h, homens chegaram ao espaço, começando a quebrar paredes e retirar portas e janelas. A equipe da Diário TV e do Jornal O Diário esteve no local para acompanhar a situação.
Era 1982 quando o engenheiro agrônomo Roberto Selig plantou as primeiras mudas de orgânicos no sítio do Bicho Solto, em Vale Alpino, Terceiro Distrito de Teresópolis. Com o passar do tempo, a experiência agrícola desenvolvida em sua propriedade irradiou pela região e o transformou em um dos pioneiros da produção natural e um dos fundadores, em 2008, da Associação Agroecológica de Teresópolis. Hoje, ele lamenta o quanto a feira que ajudou a criar tem sido inviabilizada pelo poder público. “Cada vez que a nossa feira perde estabilidade, os trabalhadores perdem a estabilidade também. Nossa grande tristeza é ver que nossa vida de agricultura ecológica está sendo colocada em risco, com nosso espaço maltratado, ameaçado e jogado de lado. São 15 anos de atividade, construindo credibilidade, atravessando tragédias, para sermos ameaçados dessa forma como estamos sendo agora. Eu acho que há falta de clareza do poder público com a gente, como se a gente fosse um nada, como se fossemos pouco importante. Uma hora dessa já começaram a demolição e a gente não sabe o quanto isso vai nos afetar, não fomos devidamente avisados e amparados, não temos garantia nenhuma e o poder público está inacessível”, relata.
Coordenação
Mauricio Berti, coordenador geral da AAT (Associação Agroecológica de Teresópolis) conta que já havia uma promessa da prefeitura de realocação, mas, diante dos últimos fatos eles estão todos aguardando um posicionamento do poder público sobre a demolição. “A prefeitura havia cedido o espaço para nós, mas em uma decisão judicial a Sudamtex, antiga proprietária da área, recebeu de volta a posse. Porém, nessa mesma decisão judicial diz que a prefeitura é responsável por realocar a feira em outro local adequado. Vale ressaltar que a Feira Agroecológica de Teresópolis foi declarada Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro em 2022, sendo inclusive tombada. Dessa forma, ela não pode simplesmente ser enxotada do lugar onde funciona. Temos tentado contato com a prefeitura e eles alegam estar em processo de projeto de realocação, mas esse movimento de demolição nos pegou de surpresa. Há informações de que teríamos 15 dias para sair daqui e isso é inadmissível, precisamos de clareza e transparência do poder público sobre o que será feito diante dessa situação”, relata.
Contraponto
Conversamos com o encarregado administrativo Tadeu, que estava no local como uma espécie de porta-voz do proprietário do imóvel a ser demolido, no caso, da Sudamtex. Ele ressaltou que era apenas um trabalhador e teve que tomar a frente para tentar acalmar e negociar com os integrantes da feira, segundo ele, por falta de atitude do poder público. “Nesta segunda-feira (08) negociamos que eles irão passar para outro canto do mesmo espaço, vamos manter o banheiro, manter a água, fazer de tudo para eles poderem continuar trabalhando em meio à demolição. Tive que tomar a frente para tentar achar uma solução que fosse boa para todos, mesmo que provisória. A prefeitura só fica prometendo, dizendo que vão fazer isso ou aquilo com eles, mas não resolve nada. Já que o poder público não interviu, nós, de ambas as partes, tivemos que chegar a um consenso nesse dia 8. À princípio ficou acordado assim: a demolição continua e os trabalhadores podem dar prosseguimento aos seus trabalhos um pouco mais afastados, mas, no mesmo local”, conclui.
No final da manhã, representantes das secretarias municipais de Cultura e Projetos Especiais conversaram com representantes da feira para tentar encontrar uma solução para mais esse problema criado para os produtores agroecológicos de Teresópolis.