A obra do artista plástico e comunicador visual carioca Alberto Pereira vem chamando a atenção de pedestres que passam pela Calçada da Fama, importante via do comércio de Teresópolis. Desenvolvida usando a técnica do lambe-lambe, a obra “Domingas” tem 21 metros quadrados e foi produzida no chão da rua. O trabalho integra a exposição “Memórias Habitadas”, do Festival Sesc de Inverno, que reúne um grupo de artistas que se propõe a pensar memórias e arquivos para além de leituras historicamente consolidadas.
Reconhecido por utilizar a técnica para discutir temas como identidade, o lugar do artista no mercado da arte e o uso das cidades e territórios, Alberto Pereira diz que a obra provoca novos imaginários enquanto questiona arquivos imaginados. Ele se inspirou no ato de descansar, e, ao mesmo tempo, na impossibilidade de alguns corpos terem direito ao descanso, físico ou mental. A obra apresenta duas mulheres negras sentadas em uma rede, e vem provocando reflexões em quem passa pelo local.
“A Calçada da Fama, esse espaço de trânsito diário de pessoas, comércios lado a lado, vai e vem, me transportou para uma frase apresentada a mim pelo artista Filipe Gondim (PE), de Miró da Muribeca, que diz assim: ‘as pessoas estão passando para mais uma segunda-feira / eu sentado no banco da praça ainda sou domingo’. Concluí que não teria lugar melhor para reimaginar duas mulheres negras, que nas imagens de arquivo estavam em posição subalterna, e remixar imagens dos arquivos para construir esta nova cena e sugerir algumas reflexões sobre o ato de descansar em suas infinitas possibilidades e formas”, conta o artista.
Alberto constrói suas obras em espaços públicos e inusitados, como telhados. Em Teresópolis, o trabalho é apresentado no chão. “O chão te faz deslocar o olhar e perceber o espaço. Também possibilita ressignificar a dimensão desse espaço que a gente pisa a todo momento e nos sustenta, de um outro caminho de obra artística que se dá pelo caminhar. Também sugere um ato de performance e troca, para além da obra final. A arte dita ‘urbana’ é contemporânea, por mais que muitas vezes não tenha a validação e espaço que merece. Não tem nada mais contemporâneo do que uma obra que se realiza em conjunto com as pessoas e o espaço geográfico de distintas maneiras; do planejamento e produção à exibição, é um trabalho em vários atos”, reflete o artista.
A obra “Domingas” poderá ser vista no local até sua deterioração natural. Ela integra a exposição “Memórias Habitadas”, que é exibida simultaneamente nas galerias de três unidades do Sesc RJ – Teresópolis, Nova Friburgo e Três Rios. Com curadoria de Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Mathias e consultoria de Ana Paula Alves Ribeiro, a mostra coletiva reúne trabalhos de 21 artistas: Alberto Pereira, Alessandro Fracta, Alice Yura, Asmahen Jaloul, Bruno Gari, Domeio, Eliana Alves Cruz, Gê Viana, Joelington Rios, Marina Feldhues, Mariana Maia, Mayara Ferrão, Mbé, Pérola Santos, Rona, Roberta Holiday, Rodrigo Ribeiro-Andrade, Silvana Marcelina, Tayná Uràz, Xadalu Tupã Jekupé e Yoko Nishio. Em Teresópolis, as obras poderão ser vistas até 1º de outubro, na galeria da unidade do Sesc.
SERVIÇO
Exposição “Memórias Habitadas”
Galeria do Sesc Teresópolis e Calçada da Fama
Calçada da Fama: Rua Francisco Sá, Várzea
Sesc Teresópolis: Av. Delfim Moreira, 749, Várzea
Visitação na galeria do Sesc: terça-feira a sábado, das 9h às 18h, até 1º de outubro
Entrada franca | Classificação livre