Marcello Medeiros
O desenfreado crescimento habitacional e a pressão antrópica às unidades de conservação ambiental, que causam, entre outros, drásticas mudanças climáticas, faz com que muitas espécies tenham dificuldade na batalha diária pela sobrevivência. E, diante das alterações causadas pela mão pesada do homem, muitas delas às vezes deixam seus habitats naturais e cruzam áreas urbanas em busca de melhor abrigo ou alimento. Em Teresópolis, município cercado por três parques, esses encontros são rotineiros e às vezes impressionam. Recentemente, um casal residente na Granja Guarani, em imóvel cuja parte do terreno fica na área de amortecimento do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, recebeu uma “visita” muito especial: às 23h58 do dia 23 de dezembro, um filhote de onça-parda (Puma concolor) foi gravado pelo sistema de monitoramento passeando pelo local.
Apaixonados pela natureza e frequentemente voluntários em ações de conservação ambiental no município, eles ficaram felizes em encontrar no registro das câmeras a passagem do bonito animal. “Ficamos imaginando o tamanho dos pais dessa criança linda que passou por aqui”, relata Katherine Ammon, que junto com o companheiro Jaja Ayres mantém no local uma hospedagem voltada justamente para o público que valoriza as belezas naturais da nossa região. “Falando na rica fauna que nos visita, tenho registros de pacas, tatus, iraras, furão, teiús, macaco prego, micos, ouriços, entre muitos outros. Isso aqui é uma festa e nós amamos”, completa Katty, que comunicou o avistamento ao PARNASO através do aplicativo do SISS-GEO (Sistema de Informação em Saúde Silvestre), sistema gratuito e disponível na web e smartphones para o monitoramento da saúde dos animais silvestres em ambientes naturais, rurais e urbanos.
E esse não foi o primeiro flagrante do tipo em bairros limítrofes aos parques que cercam e protegem nosso município. Em setembro de 2022, por exemplo, câmeras de monitoramento de um condomínio na Estrada Francisco Smolka, no bairro de Quebra Frascos, flagraram o momento em que uma onça parda, animal nativo da Mata Atlântica, caminha na portaria do residencial e depois pula em direção a um sítio vizinho à propriedade de onde foi feito o registro. As câmeras indicam que o animal, um exemplar adulto, passeava às 04h12 da madrugada daquele dia. Ninguém avistou o felino, nem antes e nem depois de ser captada a imagem do seu passeio. Quebra-Frascos tem muitas áreas de mata preservadas e é vizinho do PARNASO, portanto ambiente propício para o desenvolvimento do grande felino.
Não precisa ter medo
Entrevistado pelo “Mochileiro Podcast”, da Diário TV, o Biólogo Ricardo Mello, falou sobre fauna e conservação ambiental, destacando diversos temas fundamentais para a continuidade de diversas espécies e manutenção da qualidade de vida da população. Entre os tópicos, destacou justamente um que chama atenção sempre que alguém vídeo sobre esse animal ganha as redes sociais: as onças! Também conhecido como Sussuarana ou ainda Leão da Montanha, o Puma concolor é o maior felino presente hoje na Mata Atlântica e desperta sempre um misto de medo e admiração. Aliás, sobre o risco que muita gente acha que tem se cruzar com um deles em uma trilha ou no quintal de casa, Ricardo deixou claro que não existe perigo.
“Eles são animais que andam na maior parte do tempo no horário noturno, noite e madrugada à dentro. Além disso, é um animal que evita contato com o ser humano ao máximo. Por experiência própria, fazendo trabalhos de monitoramento noturno, de levantamento de fauna, procuramos as onças, isso tendo rastro, pegadas, o horário que ela teoricamente costuma passar, e nunca conseguimos encontrar nenhuma. Ela sente nosso cheiro, escuta chegando, e evita passar perto. Então, a chance de ser premiado, de encontrar uma onça, é mínima”, enfatizou, completando que “não há nenhum risco, pois ela tem o hábito de evitar o contato com o homem”.
Ricardo pontuou também que “no Brasil não tem nenhum registro de ataque a seres humanos. Quando ela passa perto, é sempre fugindo. Além disso, somos basicamente do tamanho dela, que chega em torno de 70 quilos e portanto se alimenta de animais menores”. Essa entrevista, na íntegra, pode ser vista no canal da Diário TV no YouTube. Basta pesquisar por “Mochileiro Podcast com Ricardo Mello”.