A galeria do Sesc Teresópolis apresenta até 18 de fevereiro a exposição “Carlos Vergara: viajante da terra sem males”, que reúne obras em monotipia do artista, considerado um dos maiores expoentes da arte brasileira na atualidade. A mostra é produzida pela Chueng Produções, com pinturas que integram o acervo do Arte Sesc, iniciativa que promove a itinerância de exposições por todo o país. A visitação acontece de terça-feira a domingo, das 9h às 18h. A entrada é gratuita.
Com curadoria de Maurício Barros de Castro, a mostra exibe trabalhos produzidos por Vergara, entre 2008 e 2011, em São Miguel das Missões, sítio arqueológico tombado que integra o conjunto de povoamentos indígenas fundado por jesuítas espanhóis, no século XVII, no Rio Grande do Sul, um dos mais incontornáveis eventos do Brasil, marcado pela perseguição aos índios guarani.
Nas obras, o artista reconstituiu um dos episódios mais instigantes e controversos do período colonial. Para ele, o mito guarani da busca por uma terra sem males foi o que tornou possível o engajamento dos indígenas no projeto dos jesuítas de criação dos Sete Povos das Missões, em torno da crença na construção de uma sociedade horizontal e igualitária.
Ao caminhar por São Miguel, por seu chão, ruínas e folhagens, Vergara produz monotipias em lenços e pinturas, fotografias em 3D e um vídeo. Todos esses elementos, de alguma maneira, tentam dar conta do olhar de um artista constituído pela condição de viajante.
Gaúcho de Santa Maria (RS), nascido em 1941, Carlos Vergara iniciou sua trajetória na década de 1960, quando a resistência à Ditadura Militar foi incorporada ao trabalho de jovens artistas. Em 1965, participou da mostra Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, um marco na história da arte brasileira, ao evidenciar essa postura crítica dos novos artistas diante da realidade social e política da época.
Na década de 1970 seu trabalho passou por grandes transformações e começou a conquistar espaço próprio na história da arte brasileira, principalmente com fotografias e instalações. Sempre em busca de experimentações e de novas linguagens, Vergara refundou sua pintura, no final dos anos 1980, quando começou a trabalhar intensamente com a técnica da monotipia. A possibilidade de capturar vestígios, rastros e indícios de tempos distantes por meio de materialidades diversas, encontradas em lugares distintos, fascinou o artista. A monotipia permitia a Vergara trânsitos por suportes que iam da pintura à utilização de lenços, companheiros de viagem que leva consigo em diversas expedições e que deram origem à série que chamou de Sudários.
A religiosidade também sempre foi um fator importante para as reflexões do artista, embora Vergara não seja praticante de nenhuma religião. Trata-se de uma herança que vem de seu pai, reverendo anglicano que percorria os pampas gaúchos a cavalo propagando sua fé. Ele também é um artista que se dedica ao profano, como mostra sua emblemática série sobre o carnaval carioca.
Entre o sagrado e o profano, observa Castro na curadoria, Vergara encara as contradições por meio da sua arte, amplamente interessado em pesquisas históricas que podem ter como resultado a produção de monotipias, o que significa também encarar os tensionamentos que constituem a história do Brasil. Em sua trajetória, o artista realizou mais de 180 exposições individuais e coletivas de seu trabalho.
SERVIÇO
Exposição “Carlos Vergara: viajante da terra sem males”
Visitação até 18/02/2024, de terça-feira a domingo, das 9h às 18h
Galeria do Sesc Teresópolis (Av. Delfim Moreira, 749 – Várzea)
Entrada gratuita