Isla Gomes
O Brasil perdeu, nos últimos quatro anos, mais de 4,6 milhões de leitores, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Neste âmbito, é comum encontrar bibliotecas vazias e livros jogados no lixo. Mas, para contrapor esse cenário, surge o teresopolitano Edson Wander, que é gari há nove anos e recolhe do lixo os livros que foram rejeitados. Trabalhar com o recolhimento de resíduos na cidade o ajudou com seu maior hobby: a leitura e a busca por conhecimento. Com publicações retiradas do lixo, ele criou um acervo literário que no momento conta com sete mil livros, sendo que 80% do acervo teria como destino o lixão do Fischer não fosse a sua atitude. Hoje, Edson compartilha seus livros com adultos e crianças, que assim como ele buscam conhecimento, entretenimento e a magia que só os livros físicos podem proporcionar.
Em um dos momentos mais difíceis da vida do leitor, que foi a pandemia, os livros serviram de distração e força. Foi daí que veio a ideia de criar um canal em uma plataforma digital, para compartilhar conhecimento e incentivar que outras pessoas tenham esse amor pelos livros. O coletor compartilha seu acervo com amigos e moradores da região. O que começou apenas como uma paixão pessoal, hoje é um propósito de vida.
“A minha paixão por livros começou na infância, quando eu tinha por volta dos três anos. Depois de crescido eu dei início ao trabalho de coleta de lixo em Teresópolis e comecei a encontrar muitos livros que jogavam no lixo. Com isso, eu automaticamente fui recolhendo cada um que eu encontrava e comecei a juntar vários exemplares. A princípio eu apenas os lia, usava cada um deles para aprender e adquirir conhecimento, mas, depois comecei a compartilhar esses livros com amigos, pessoas conhecidas e até mesmo crianças. Na minha cabeça, o que para alguns é lixo para outros poderia ser um tesouro, assim como para mim é valioso”, declara.
Canal “Leitor Gari”
Com o incentivo de sua esposa, Edson criou um canal no YouTube chamado “Leitor Gari”, que conta com 502 inscritos e 201 vídeos publicados. Na plataforma ele dá dicas de leitura, faz resenhas de livros diversos e influencia o público a dar mais valor aos livros físicos. “Na pandemia eu passei por um momento muito complicado no qual os livros me fizeram companhia e me ajudaram nesse processo, foi aí que minha esposa me incentivou a criar um canal para compartilhar essa paixão. Lá eu falo sobre livros que viraram filmes, dou dicas de li”, conta o exímio leitor.
Grande acervo
Wander nos conta detalhes sobre seu valioso acervo. Ele pontua que é gratificante “salvar” um material tão importante, que iria ser destruído ao chegar ao lixão. “No início desse meu projeto, eu tinha uns dois mil livros recolhidos. Mas, como 80% dos meus livros vêm do lixo e já tem nove anos que estou nessa profissão de coletor, agora já estou na casa dos sete mil livros no acervo. Eu me sinto muito feliz em saber que resgatei esses livros que virariam pó no aterro sanitário, e hoje eles são tesouros que posso usufruir e compartilhar com outras pessoas”, ressalta o determinado coletor de resíduos.
Compartilhe conhecimento
A busca constante por conhecimento é uma atitude e um comportamento que envolve o desejo contínuo de aprender e compreender o mundo ao nosso redor, isto o nosso entrevistado tem de sobra e busca fomentar essa ideia em outras pessoas. “Acredito que as pessoas que buscam conhecimento na sociedade atual são indivíduos raríssimos. Por isso mesmo, quando encontro alguém que talvez não tenha a condição de comprar livros e se interessa pelo meu acervo, eu faço questão de doar. A Biblioteca Municipal é um exemplo disso, nesse local tem livros valiosos, livros que foram adotados e se encontram em um local que fomenta a literatura. Mas, mesmo assim, muitas pessoas não dão valor ao espaço e muitas outras ao invés de doarem seus livros para a biblioteca, os jogam no lixo”, frisa.
Maior objetivo
Para finalizar, Edson nos conta qual acha que seria seu propósito de vida, seu maior foco. “Posso parecer repetitivo, mas, meu objetivo é a busca total por conhecimento e a possibilidade de difundir esse conhecimento adquirido. Então, a minha ideia é difundir conhecimento, é fazer com que as pessoas repensem antes de tomarem a atitude de jogar um livro no lixo. Gostaria de incentivar o pensamento de que ao ler um livro a pessoa está falando com grandes autores da humanidade, é possível saber o que esses grandes pensadores sentiam simplesmente abrindo uma página. Nós evoluímos como seres humanos através da escrita, sem a escrita não seriamos nada. Se eu conseguir fazer com que uma pessoa só leia um livro através da minha história, eu já ganhei minha vida”, conclui.