Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
O governo do Rio de Janeiro estuda a possibilidade de adotar medidas de isolamento total no estado, o chamado lockdown, para diminuir o contágio pelo novo coronavírus e ajudar a conter a expansão da pandemia de covid-19.
Entre as ações que podem ser adotadas estão o bloqueio de todas as entradas do estado e as intermunicipais; a proibição da circulação de pessoas e veículos particulares nas cidades; e a criação de um documento de autodeclaração para quem necessite circular nas cidades, com uso obrigatório de máscara.
As exceções seriam para as atividades de segurança, manutenção da vida e da saúde, para compras de gêneros alimentícios e serviços essenciais de entrega em domicílio. As informações constam em ofício enviado ontem (7) pelo governador Wilson Witzel ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que recomendou ao governo que elaborasse o estudo.
Segundo o documento, o governador determinou que o chefe do Gabinete de Acompanhamento e Fiscalização elabore uma “proposta de conteúdo com subsídios para que seja decretado o lockdown”, junto com as secretarias de Estado de Governo, da Saúde, do Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais, de Transportes, da Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar e Defesa Civil.
No ofício, o governo admite que o aumento no número de casos graves “está caminhando para o consequente colapso do sistema de saúde” e que a pandemia “ainda não atingiu o auge” no estado. O documento ressalta que “os esforços empreendidos para ampliar a rede de serviços de saúde têm sido insuficientes para estabelecer uma retaguarda segura”, e que a covid-19 tem levado à internação grupos etários abaixo dos 50 anos.
O documento justifica que não houve adesão às medidas de isolamento por parte da população fluminense, na proporção esperada em torno de 70%, e que “a experiência internacional mostrou que o aprofundamento das medidas restritivas foram fundamentais para a redução do número de casos e óbitos”.
O mesmo grupo vai elaborar também um plano de saída do isolamento total, que deve incluir “um conjunto de medidas voltadas para a saúde da população e da economia do estado”, com indicadores para balizar os momentos ou fases da abertura. A saída do lockdown “será lenta e gradual, acompanhada por robustas medidas de fiscalização, acompanhamento e aplicação de sanções”.
O plano deve ser combinado com estratégias de testagem em massa, para “monitorar a intensidade de portadores de anticorpos na população, sua variação temporal e a identificação de indivíduos transmissores e seus contatos”. O governador manifestou ainda a intenção de integrar os esforços do planejamento e da coordenação das medidas com as prefeituras e lideranças comunitárias das favelas e bairros da periferia.
Em nota, o governo do estado confirmou as informações divulgadas pelo MPRJ.
Fiocruz
No ofício, o governo informa que recebeu relatório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o avanço da pandemia e destaca que está “perfeitamente alinhado” com a Fiocruz “no que concerne à defesa da vida e à proteção e segurança da população fluminense”.
No relatório, divulgado pelo MPRJ, a Fiocruz destaca que “a não adoção de medidas imediatas de lockdown pode levar a um período prolongado de escassez de leitos e insumos, com sofrimento e morte para milhares de cidadãos e famílias do estado”.
A instituição afirma que o Rio é o segundo estado com a situação mais grave da pandemia, que está se expandindo para o interior, o que justifica a adoção do isolamento total.
“Caso não sejam tomadas medidas mais rígidas de distanciamento social no Rio de Janeiro, especialistas projetam um agravamento da situação epidemiológica e de insuficiência de leitos no mês de maio de 2020, que pode se prolongar e levar a um número expressivo de mortes que poderiam ser evitadas”, disse a Fiocruz.
A instituição explicou que em países como a China, Itália, Espanha, França e Alemanha, a adoção de medidas mais rígidas de confinamento contribuíram para desacelerar o crescimento da curva de casos de covid-19, conseguindo “manter a demanda dos serviços hospitalares e de cuidados intensivos compatíveis com a oferta”.
Já a adoção de lockdown tardiamente, como feito no Reino Unido, “resultaria em uma catástrofe humana de proporções inimagináveis para um país com a dimensão do Brasil”, de acordo com a Fiocruz. Segundo os dados do painel de acompanhamento mundial do coronavírus da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, o Reino Unido se aproxima dos 208 mil casos, o quarto país com o maior número de pessoas contaminadas, e 30.689 mortes, atrás apenas dos Estados Unidos em número de óbitos por covid-19.
Segundo a Fiocruz, o planejamento para o isolamento total e a abertura gradual deve ser estruturado de forma que possa ser repetido pelos próximos dois anos.
“Como parte de seu compromisso com a vida, com o Sistema Único de Saúde e com a saúde da população, a Fiocruz não apenas recomenda, mas defende a adoção urgente de medidas rígidas de distanciamento social no estado do Rio de Janeiro para que se possa responder ao grande desafio de uma crise de dimensões sanitária e humanitária e salvar o maior número de vidas possível”.
Edição: Graça Adjuto