Anunciado como substituto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conhecida política do governo Dilma e Lula, o “Avançar”, do governo Michel Temer, em previsão de investimento em R$ 5,91 bilhões do orçamento da União para retomada de obras públicas em diversas áreas do estado do Rio de Janeiro. Cerca de um terço deste valor, equivalente a R$ 2 bilhões, será desembolsado até dezembro de 2018 e, dentro dessa previsão para os próximos meses, Teresópolis deve receber R$ 20 milhões – em um total de R$ 151,7 milhões havendo a continuidade do governo atual. Porém, apesar da aparente boa notícia, tais recursos iniciais estão sendo programados para apenas uma obra no município e, ainda assim, pelo que se sabe da região, nem é possível tamanho investimento. Trata-se do Rio Príncipe, que nasce em Campo Grande e deságua na Cascata do Imbuí, um dos locais bastante afetados na Tragédia de 2011 e que passou por grandes mudanças, causadas pela inesperada força da água e por questionáveis obras realizadas pelo Instituto Estadual do Ambiente nos meses seguintes.
De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Globo na semana passada, ao todo serão atendidos 357 projetos no Rio. R$ 1 bilhão vai para o Minha Casa MInha Vida e R$ 563 milhões para obras no setor de transporte. As áreas de saúde, educação e cultura também serão beneficiadas. Para Teresópolis, foi anunciada a drenagem do Rio Príncipe, o que evidentemente se trata de uma previsão difícil de ser cumprida e facilmente questionada. Após o temporal de seis anos e meio atrás, o pequeno curso d´água ficou extremamente assoreado e tomado também por restos de imóveis afetados pela enxurrada. Todo material foi retirado, algumas pontes reconstruídas e, posteriormente, teve início a polêmica obra do INEA.
O rio foi canalizado. Transformado em uma espécie de grande canaleta em vários pontos, ignorando os danos ambientais contra diversas espécies de fauna e flora que vivem no fundo e margens de um curso d´água. Tal serviço causa também o aumento da velocidade da água, aparentemente resolvendo o problema nessas localidades, mas aumentando o risco nos bairros seguintes. Nos pontos onde não houve a concretagem, as laterais e fundos receberam grandes pedras e telas. Ou seja, em nenhuma das opções é viável um serviço de drenagem eficiente.
O nome do rio, aliás, é outro motivo de reclamação. Segundo moradores, o “batismo” com a nomenclatura atual aconteceu após a catástrofe, pelo próprio instituto, sem consultar a comunidade sobre a troca do anterior, “córrego Antônio José”.
Comunidades ainda sofrem
O tipo de serviço realizado naquela região é questionado há bastante tempo. Em abril de 2015, por exemplo, Louis Capelle, nascido e criado no bairro da Posse e parte da Associação dos Moradores, deu a seguinte declaração: “Fizemos várias cobranças junto ao Inea em relação ao abandono do rio, de serviços que ficaram por fazer e áreas que consideramos mal feitas, como o estreitamento das pontes para a passagem da água. Algumas foram feitas com concreto, outro com gabião e nessa área próxima à igreja de São Sebastião, pedra e areia… Não entendemos. A sorte é que não veio chuva uma chuva forte até agora, pois não estamos vendo segurança e queremos uma resposta do Inea. No ano passado estivemos com o então vice-presidente, que ficou de dar uma resposta, mas até agora nada. Temos outra tragédia, pois do jeito que está qualquer chuva normal é capaz de causar algum problema”. Recentemente, estivemos com o mesmo personagem dessa triste história, que até hoje reclama os mesmos problemas e lembra que diante do trabalho realizado no curso d´água, fica inviável uma obra com investimento de R$ 20 milhões.
Além disso, é importante destacar que outras importantes obras previstas para Campo Grande, Posse e Cascata do Imbuí sequer saíram do papel. No primeiro bairro, o Inea anunciou a construção de três barragens contra inundação de cheias. O serviço, porém, não passou das marcações feitas com estacas de madeira e apresentação de projetos. “O problema principal seria a demora para a indenização das famílias que não tiveram seus imóveis danificados ou que cujas casas destruídas parcialmente ou na calha do rio Príncipe são mantidas de pé até que seja pago tal valor acordado com o governo estadual”, publicou O DIÁRIO em 2015.
Para a Cascata do Imbuí, a promessa era de um inédito Parque Fluvial, que atenderia a carência de opções de lazer nessa região e evitaria que as margens voltassem a ser ocupadas irregularmente. Também foram várias reuniões, apresentações de projetos e nada de concreto. Importante destacar que, há bastante tempo, o Instituto Estadual do Ambiente desmontou seu canteiro de obras em Teresópolis e, em 2014, informou que a previsão era todas essas obras seriam concluídas até 2016.
“Nossos bairros têm várias pendências se acumulando, como falta de coleta de lixo, esgoto correndo em via pública, iluminação precária… Ou seja, estado e município não estão se fazendo presentes. Não queremos grandes investimentos, apenas que serviços essenciais sejam prestados que e possamos continuar nas nossas residências. Quem ficou aqui, foi porque gosta muito e não quer ver o bairro acabar”, conta Hermon Capelle, também residente na Posse desde que nasceu.