Wanderley Peres
Hoje é o dia do sagui da serra escuro, espécie em extinção, considerada patrimônio oficial de Teresópolis e da diversidade do município, em lei aprovada pelos vereadores e sancionada pelo prefeito em DO no último dia 6. Embora a lei em vigor tenha determinado o dia 17 de junho como ápice das comemorações, que devem ser iniciadas, anualmente, a partir do dia do Meio Ambiente, 5 de junho, não se sabe da organização de algum evento para comemorar a data. No período, segundo a lei aprovada pelos vereadores, deverão ser realizadas atividades de educação ambiental, especialmente na rede de ensino público e privado; divulgação das pesquisas e do monitoramento das espécies; capacitação técnico-científica, em medidas de conservação, e em estratégias turísticas. Deverão também ser apresentadas avaliação das atividades e do andamento do Programa de Conservação do Callithrix aurita no Município, através de conferências, congressos, fóruns, painéis, seminários e simpósios, capazes de congregar diferentes atores sociais como o Poder Público, sociedade organizada, instituições de ensino e pesquisa; avaliação e renovação das metas do Programa de Conservação do Callithrix aurita; e produção de materiais informativos concernentes a esta Lei e a seus objetivos, bem como a realização de ações de natureza educacional voltada, especialmente, a conservação do Sagui-da-Serra-Escuro – Callithrix aurita.
Por conta do tombamento, deverão ser providenciadas pela administração municipal planejamento estratégico para educação, natureza científica, avaliação, conscientização e deliberação de interesse do animal, medidas capazes de proteger e conservar esse patrimônio da biodiversidade municipal, como o objetivo de reverter a condição de espécie em extinção e, ainda parcerias ou convênios com instituições nacionais e internacionais de pesquisa, de educação ambiental e/ou proteção e conservação, devendo a Prefeitura produzir materiais informativos concernentes a esta Lei e a seus objetivos, bem como realizar ações de natureza educacional voltados à conservação do Sagui-da-Serra-Escuro (Callithrix aurita) e de seu ecossistema, vinculando-o como espécie bandeira da biodiversidade e dos ecossistemas de Teresópolis, tendo sendo símbolo e ícone da conservação ambiental do Município.
A lei prevê ainda que, os empreendimentos ou ações impactantes passiveis de licenciamento ambiental, a serem licenciados dentro de um raio de 5 km de onde o Sagui-da-Serra-Escuro for identificado, deverão cumprir prioritariamente as medidas compensatórias ou reversões de taxas que sejam voltadas a conservação e divulgação da espécie no Município, que poderá instituir unidades de conservação voltadas à proteção do Sagui-da-Serra-Escuro (Callithrix aurita), inclusive sob a forma de áreas mosaicas, nos espaços propícios à conservação da espécie.
Parque Nacional da Serra dos Órgãos estuda a espécie em extinção
Primata endêmico das regiões serranas do estado do Rio de Janeiro, especialmente a Serra dos Órgãos, e parte dos estados de São Paulo e Minas Gerais, o Sagui-da-Serra-Escuro (Callithrix aurita) vem sendo estudado no Parque Nacional da Serra dos Órgãos desde 2014, quando a unidade de conservação se envolve diretamente nas pesquisas, promovidas a partir de um projeto executado em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Reunidos em oficina, servidores e terceirizados do Parque, pesquisadores, estudantes, representantes do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio) – também administrado pelo ICMBio, UCs do Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense, e representantes do Ibama, do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro/INEA e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Guapimirim tomaram conhecimento do risco de extinção da espécie, que se encontra classificada como “Em perigo” na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção, por isso incluída nas ações do Plano de Ação para a Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica Central (PAN Mamac).
Uma das principais ameaças à conservação da espécie é a invasão de seu habitat por outras espécies de saguis, como o sagui-do-tufo-branco (Callithrix jacchus) e o sagui-do-tufo-preto (Callithrix penicillata), originários da caatinga e do cerrado, respectivamente.
Resultado desta invasão predatória, os pesquisadores já registraram a ocorrência de híbridos entre a espécie nativa e as espécies invasoras e grupos mistos da espécie ameaçada com as espécies invasoras no interior e no entorno da unidade de conservação. De acordo com a pesquisadora Nathalia Detogne Nunes, que defendeu a dissertação “O sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) e os saguis invasores no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ, Brasil: distribuição espacial e estratégias de conservação”, a situação do Callithrix aurita no parque é grave e sua conservação depende de ações urgentes de manejo.