Marcello Medeiros
Na correria do dia a dia acabamos deixando de lado muitas coisas que parecem simples, pequenas, mas que, quando a situação aperta, podem fazer uma grande diferença para nos auxiliar a retomar o rumo. Muita gente não sabe, mas essa preocupação com o que realmente tem valor em nossas vidas pode contribuir inclusive na recuperação de um problema de saúde. Pensando nisso, há três anos a Associação Congregação Santa Catarina, da qual o Hospital São José faz parte, aderiu à campanha intitulada “O que importa para você?". Ela tem o propósito de estimular conversas mais significativas entre profissionais de saúde e pacientes, criando um elo de compaixão e empatia entre eles. O objetivo é atender de forma humanizada e aprimorar o cuidado de saúde e assistência pessoal, com base no que realmente tem valia para o paciente.
“É muito importante pensar nisso, deixar de focar somente em uma doença, em um problema e começa a focar em outras necessidades do paciente, em possibilidades, no que podemos fazer para melhorar a situação daquele paciente. E para nossa surpresa o que faz a diferença são coisas pequenas, como ouvir uma música, ter um animal de estimação presente, ter uma foto de alguém, empatia da equipe, pois às vezes um sorriso pela manhã faz muito bem para a pessoa enferma, familiares, uma oração”, explica Renata Correia Gomes, Coordenadora de Enfermagem do HSJ.
O ponto alto da campanha aconteceu nesta quarta-feira (6), quando a equipe do Hospital São José promoveu uma grande festa para os pacientes internados no local. Além de um ambiente já decorado no clima da Copa do Mundo, os enfermos assistiram a um momento religioso, show com o cantor Hugo Rocha, mágica e ilusionismo com Rodrigo Gaúcho e até apresentações de música e humor promovidas pelos próprios funcionários da unidade hospitalar. Em um dos esquetes, eles se fantasiaram de pacientes e brincaram com as situações vividas no dia a dia do São José.
Até mesmo os enfermos que não tinham como se locomover para o primeiro piso do hospital receberam um pouco mais de atenção nesse dia tão especial. Um grupo teatral percorreu todos os quartos oferecendo carinho de diversas formas, entre elas através da música. Corte de cabelo, barba e maquiagem também foram oferecidos em todas as alas do hospital.
De inesperado a muito amado
Apesar da adesão da Associação Congregação Santa Catarina ao movimento há três anos e um dia com eventos diversos para marcar “o que importa”, o atendimento humanizado já é hábito das equipes do Hospital São José há bastante tempo. Um dos exemplos dessa preocupação além de cuidar da doença ou qualquer outra necessidade médica aconteceu há pouco mais de um mês. No dia 27 de abril passado, a jovem Tainá Brisson procurou o pronto atendimento sentindo fortes dores abdominais e, antes mesmo de ser consultada, acabou dando a luz a uma criança. Inicialmente a chegada de um menino foi motivo de surpresa para todos e muita correria, visto que o HSJ não possui maternidade. Mas o carinho e dedicação dos funcionários fizeram o milagre continuar florescendo e se tornaram uma segunda família para o pequeno Vítor.
“Eu cheguei passando mal e não sabia nem o que era contração, porque meu primeiro filho nasceu de cesária. Cheguei com muita dor e acabei tendo ele no pronto socorro, na cadeira de rodas, inclusive”, conta a jovem mãe, que destaca o acolhimento de toda a equipe do São José. “Todo mundo tem sido muito atencioso com a gente desde então. Criaram um grupo de Whats App assim que a gente chegou aqui e o tempo todo querem fotos dele, querem saber como está ajudar… E estão ajudando muito, com roupa, com tudo”, completa.
O pai, Thácito Filgueiras, também agradece toda a atenção que tem sido dispensada diariamente ao bebezinho. “A gente chega aqui no hospital e já não é mais nosso, é de todo mundo aqui. Dificilmente para com a gente, pois todo mundo quer pegar no colo. Somos sempre muito bem recebidos, um carinho enorme, o que é muito bom”, pontua, tendo ao lado primeiro filho do casal, Pietro.
Nesta quarta-feira, a família do “disputado” Vítor foi pega surpresa mais uma vez: Ganhou dos funcionários do Hospital São José um chá de fraldas e muitos presentes. “Esse bebê veio de forma atípica, pois nosso hospital não é maternidade. Recebemos esse presente em nossa emergência, de repente, uma dor abdominal era um bebê… E vendo o que essa família precisava, pois não estava preparada para esse momento, resolvemos fazer um chá de fraldas para ele, todo mundo trouxe muito presente para eles”, conta, sorridente, a Supervisora de Enfermagem Sydineia Branco.
Valor e prioridades
Pergunte o que importa. Ouça o que importa. Faça o que importa. Os valores e resultados da campanha mostram que tais atitudes devem ser praticadas não só em datas ou situações especiais, mas diariamente. “Não só para o paciente, mas para a gente, para o profissional, faz muita diferença… Para quem está envolvido no processo mexe muito, é uma recarga para cuidar. Tivemos áreas administrativas atuando no ano anterior, pessoas que vieram só no suporte e não conseguiram parar de ajudar. Além disso, pessoas de fora começam a se sensibilizar e pensar nisso, em como melhorar a vida ao ficar atento a esse tipo de situação”, destaca Renata Gomes.
A história da ação
O movimento teve início nos Estados Unidos, em 2010. O CEO do instituto norte-americano Healthcare Improvement na época, Maurren Bisoganano, foi uma das pessoas que desafiaram os profissionais de saúde a terem conversas mais próximas com os pacientes e familiares. A partir desse estímulo, a preocupação assistencial começou a mudar de "qual é o problema?" para "o que importa para você?". No mesmo ano o movimento iniciou-se na Escócia. A fim de desenvolver um melhor entendimento das necessidades que realmente importam na vida das pessoas, a Associação Congregação Santa Catarina foi pioneira na América Latina a aderir à campanha, em 2016.