Marcello Medeiros
Neste mês da campanha Janeiro Branco, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) chama a atenção para a importância dos cuidados com a saúde mental, que vem sendo afetada em todo o mundo pela pandemia do novo coronavírus. Em março do ano passado, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) já advertia, em artigo internacional publicado no “Brazilian Journal of Psychiatry”, que a pandemia traria uma quarta onda relativa às doenças mentais. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que o Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, equivalentes a 5,8% da população, atrás dos Estados Unidos, com 5,9%. A depressão é uma doença que afeta 4,4% da população mundial. O Brasil é ainda o país com maior prevalência de ansiedade no mundo (9,3%). “Quando falamos em saúde mental é importante que a gente destaque que depende dela os indivíduos com seus cuidados com o corpo biológico, corpo cíclico, que atravessado pelas questões sociais, econômicas, familiares, mas que tenhamos também políticas públicas efetivas que possibilitem ao cidadão o acesso ao serviço de saúde pública ligado ao SUS, que atender plenamente a população que esteja em sofrimento psíquico, seja leve, moderado ou grave”, destaca a Psicóloga Ana Maria Basílio, Coordenadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO).
Esta é a oitava edição da campanha Janeiro Branco, com o lema “Todo Cuidado Conta”. A ação deste ano busca promover um pacto pela saúde mental em meio à pandemia da Covid-19. A ideia da campanha foi criada em 2014, por um grupo de psicólogos de Uberlândia (MG), e faz alusão ao início do ano, considerando janeiro como uma “página em branco” para ser preenchida com novas metas, objetivando o bem-estar da saúde mental. “Outra coisa a se destacar é que a saúde mental não está restrita apenas ao mês de janeiro, é cotidiano, deve estar nas agendas públicas federativas, dos governos estaduais e municipais. Destacamos esse mês como uma possibilidade de realçar a importância dessa luta e cuidados com a saúde mental”, enfatiza Ana Maria.
Com a abertura do curso de Psicologia em Teresópolis, a rede municipal de saúde ganhou aliados. Nesse período de pandemia, quando o tema ganhou ainda mais evidência, diversos trabalhos foram realizados pelos graduandos do UNIFESO. “Tivemos muitas ações efetivas. 2020 foi um ano de muita dificuldade, de sacrifício devido à pandemia, que requer muita resiliência e saúde mental para enfrentar medos reais, outros às vezes fantasiosos, que se avolumaram de tal forma devido ao isolamento que a gente viveu, pelo menos uma boa parte da população. O Unifeso tem parceria com a Saúde e fez algumas ações através do curso de Psicologia dando apoio ao pessoal da atenção básica, realizando eventos como rodas de conversa virtual. É preciso falar muito sobre saúde mental, para que as pessoas não tenham medo de procurar ajuda quando necessário, no setor privado ou, principalmente, que sejam comuns as políticas públicas que possam acolher o cidadão não somente em janeiro, mas no cotidiano”, pontua a Coordenadora. “Nós alunos temos desenvolvido, ao longo dos períodos, atividades que conscientizem, que chamem a atenção tanto da população quanto da academia. Recentemente, no período passado, dentro da disciplina de estágio, fizemos uma atividade muito enriquecedora para ambos os lados. Em conjunto com a secretaria de Saúde, participamos dessa troca com os profissionais de saúde, que puderam expor seus sentimentos nesse momento de conflito que estamos atravessando na pandemia. Tivemos resultados muito positivos e mostramos, mais uma vez, que devemos ficar atentos aos sinais que o corpo dá”, relata a universitária Alessandra Guimarães, aluna do quarto período.
Ansiedade e depressão
De acordo com a ANS, a saúde mental provoca reflexos também na economia, constituindo causa de afastamento do trabalho e caracterizando muitas vezes a pessoa como incapaz. Pesquisa realizada pelo professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) sobre o comportamento dos brasileiros durante o isolamento revelou que a prevalência de pessoas com estresse agudo na primeira coleta de dados, realizada de 20 a 25 de março de 2020 foi de 6,9% contra 10,3%, na segunda, efetuada entre 15 e 20 de abril, evoluindo em junho, na sondagem mais recente, para 14,7%. Para depressão, os números saltaram de 4,2% para 8%, caindo em junho para 6,6%. Filgueiras disse à Agência Brasil que essa retração não recuperou o crescimento inicial. O professor da Uerj acredita que exista uma tendência de queda da depressão, porque ela estava mais associada aos aspectos de isolamento social e de confinamento. No caso de crise aguda de ansiedade, o número subiu de 8,7% na primeira coleta para 14,9%, na segunda coleta, ficando em torno de 15%, em junho. “Já a ansiedade parece estar mais ligada a risco de morte, de contaminação, e às incertezas que o futuro está nos apresentando, principalmente em termos de dificuldade econômica”. Segundo Filgueiras, a questão da vacina contribui também para aumentar a ansiedade. Para o professor da Uerj, os dados relacionados ao pico da epidemia já foram coletados. Afiançou que, agora, estamos no período de diminuição da curva.