Nina Benedito
@ninabenedito
Mulher que deu nome à cidade de Teresópolis, Teresa Cristina casou-se por procuração em 1842 com o Imperador Dom Pedro II. O casal teve quatro filhos, Afonso, Leopoldina, Pedro Afonso e Isabel, a princesa que assinou a Lei Áurea e foi casada com o Conde D'Eu, francês apaixonado pelas belezas naturais e clima da nossa cidade, tendo sua residência de veraneio no bairro de Quebra Frascos recebido visitas de D. Pedro como seu hóspede. Teresa Cristina era mulher de grande cultura, muito discreta e avessa as pompas da corte imperial. Por ser napolitana, acredita-se que tenha sido responsável pela introdução das massas no cardápio da família imperial. São muitas histórias, que fazem parte da construção do nosso país e, logicamente, de Teresópolis. Por conta disso, a empresária Vânia Baddini criou um produto turístico denominado “Jantar com a Imperatriz” com o intuito de resgatar a cultura e a gastronomia na cidade no pós-tragédia de 2011, que afetou bastante a economia local, e o projeto vem ganhando cada vez mais destaque.
“A ideia surgiu em uma imersão que eu fui fazer na Itália, um projeto do Sebrae para resgate do turismo e gastronomia na cidade no pós-tragédia, isso foi em 2012. Fazendo algumas pesquisas, voltei com a ideia da Imperatriz, por ser italiana, e a nossa gastronomia no restaurante é a italiana, quis trabalhar muito a cultura, só que eu não achei que fosse me apaixonar pelo projeto, que eu fosse me envolver tanto, e resgatar a Teresa Cristina, o nome da nossa cidade, trazendo a cultura e a gastronomia para Teresópolis”, conta Vânia Badinni. Sete destinos fizeram parte do projeto, entre eles Petrópolis, Teresópolis, Friburgo, Vassouras, Vale do Café, Paraty e Rio de Janeiro, onde cada representante de cada cidade teve que criar um produto com o tema do Império.
Ainda segundo a empresária e Presidente do Polo Gastronômico de Teresópolis, o projeto engatinhou bastante, foi se desenvolvendo muito devagar. “Agora no pós-pandemia eu estou vindo com uma proposta melhor, de fazer mensal, e estou vendo o grande interesse por esse produto, vários receptivos procurando, fechando pacotes para trazer esse turista para Teresópolis”, relata Vânia, animada.
Resgate da cultura
Segundo Vânia o objetivo inicial do jantar é o resgate da cultura e da gastronomia, enaltecer a Imperatriz e envolver o próprio morador com o conhecimento da Cidade de Teresa. “Muitos não sabem que ela era italiana e nem o papel que a Imperatriz teve no Brasil como ‘a mãe dos brasileiros’, e isso é muito importante”. A escolha da atriz para interpretar a Imperatriz Teresa Cristina no jantar foi feita pela já conhecida artista local Edinar Corradini, quem ela não conhecia, mas sabia que ficaria ótima no papel tão importante para o projeto. “Eu não conhecia a Edinar, e ela também não conhecia a Imperatriz. Ela estudou junto comigo, algumas matérias disponibilizadas dentro do Museu Imperial em Petrópolis durante esse projeto, que durou três anos de estudo, capacitação, oficinas e imersão. Cada destino participante do projeto escolheu um tema, o nosso foi único que escolheu a Imperatriz”, observa.
Também de acordo com Vânia, alguns escolheram o tema sobre Dom Pedro, outros a Princesa Isabel, Leopoldina, outros com os escravos. “A Edinar interpretou muito bem esse papel e se apoderou dele com dedicação e excelência”, diz a empresária que fez questão de ressaltar nessa entrevista a dedicatória que a atriz fez para ela: “Obrigada pela linda oportunidade que você me deu ao me incentivar em fazer uma personagem que marcou a minha história. A Imperatriz Teresa Cristina foi um desafio e uma conquista. Edinah Corradini”.
O abolicionista André Rebouças
No jantar, além da apresentação da Imperatriz, está presente também o abolicionista André Rebouças, que era muito envolvido com a família imperial. “Nós tínhamos que criar um personagem negro para esse papel junto com a Imperatriz. E quem criou esse personagem, que ainda não fazia parte do projeto, foi o Guia de Turismo e ex-secretário de Turismo de Teresópolis, Henrique Silva, e casou super bem porque junto com a Edinar criaram diálogos muito interessantes durante a apresentação”, enfatiza Vânia.
O cardápio do Império
O cardápio foi escolhido dentro do modelo do Museu Imperial, já que cada participante do projeto precisaria fazer uma pesquisa dentro de cada interesse. “O meu interesse foi pela gastronomia, então eu pesquisei o livro de cardápios e de receitas da família imperial que fica dentro do Museu. Foi emocionante porque eu tive que folhear o material com luvas brancas, não podia mexer em nada sem elas, e ali fui anotando quais eram os pratos que eles comiam, muitos a base de tapioca. O Imperador gostava muito de queijo com goiabada”, explica.
A chegada das massas ao Brasil Imperial
Por ser napolitana, acredita-se que tenha sido a responsável pela introdução de massas no cardápio da família imperial e provavelmente, o primeiro macarrão degustado em terras brasileiras tenha sido preparado pela Imperatriz. “A imperatriz foi quem trouxe as massas para o Brasil, o 'arentini' que nós fizemos, é uma releitura da cozinha de galinha, muito popular aqui, mas nós não poderíamos fazer algo comum” conta. “Os arentinis são feitos por italianos com sobra de arroz arbório e recheados. Então, eu desconstruí a coxinha para colocar o arentini como massa principal da coxinha de galinha, que eles usam muito na Itália, e recheei com o frango, que eles usavam muito, pois haviam muitas granjas na Quinta, nas fazendas, e naquela época, Teresópolis também tinha muitas granjas, daí os nomes de alguns bairros que conhecemos hoje como, Granja Comary, Granja Florestal e outros. A gente conta um pouquinho dessas curiosidades para as pessoas saberem como a gastronomia entrou na nossa história”, explica Baddini.
Turismo, Cultura e Gastronomia
Teresópolis é bastante conhecida pela sua diversidade gastronômica, o que sempre atraiu muitos turistas, contudo, apenas para degustar seus pratos inigualáveis. Atualmente, a cidade vem tentando mudar esse perfil apenas do turismo gastronômico e enriquecer cada vez mais uma das atividades econômicas mais valiosas para muitas cidades em todo mundo. Segundo a empresária, a cultura está intimamente ligada ao turismo. “Uma coisa está ligada a outra, as pessoas hoje em dia estão com sede de cultura, até por conta do incêndio que ocorreu no Museu Nacional, a gente tem poucas histórias para contar. Por exemplo, Tiradentes é uma cidade totalmente cultural turística, quem vai visitar, fica envolvido com tanta cultura, com tanta história”, enfatiza Vânia. “Teresópolis tem essas histórias e a gente não sabe, não tem conhecimento, a cidade ainda não tem uma identidade, até criamos o Festival Britânico para entender um pouquinho da história dos ingleses na cidade, mas, agora estamos nos aproximando do Bicentenário da Imperatriz, a gente tem que trabalhar esse produto em cunho Cultural, Turístico e Gastronômico”, finaliza.
O “Jantar com a Imperatriz Teresa Cristina e André Rebouças” é realizado acontece no restaurante Donna Tê, localizado na Praça Baltazar da Silveira, 65, quarto andar, através de reservas antecipadas. Quem tiver interesse, basta entrar em contato pelo telefone (21) 2641-4230 ou através do WhatsApp (21) 98423-4683. Instagram @donnateterrazzo