Marcello Medeiros
Nos últimos dias, muitos teresopolitanos reconheceram grandes máquinas de cor verde vistas sendo transportadas em carretas pela região central do município: eram os equipamentos da antiga fábrica da Sudamtex, que por décadas promoveu o desenvolvimento local e garantiu o futuro e o sonho de muita gente – que inclusive veio de outras cidades em busca de um bom emprego na Dona Isabel S.A. Após 19 anos fechados, os galpões foram abertos para a retiradas das máquinas que produziam jeans e em breve passarão a produzir redes em fábricas de Minas Gerais e cidades no Nordeste brasileiro. O Diário esteve em um dos galpões nesta quarta-feira (15), registrando que boa parte do espaço já está vazio, deixando para trás a esperança daqueles que tiraram seu sustento e acreditavam que algum dia a antiga unidade fabril poderia retornar, mesmo que em menor proporção, ao funcionamento.

Boa parte dos equipamentos já foi desmontada parcialmente e colocada nas carretas, sendo encaminhadas para as fábricas onde receberão a devida manutenção para voltar a funcionar. Em um dos galpões da tecelagem, onde as poucas máquinas que ainda não tiveram um novo destino estão cobertas por uma camada grossa de poeira. Afinal, são quase duas décadas paradas, grande parte com as linhas encaixadas e dando a impressão que bastaria acionar um botão para voltar a funcionar.
No local, conversamos com o Encarregado Administrativo da Dona Isabel S.A., Judas Tadeu. Hoje ele é responsável por cuidar do patrimônio da antiga fábrica, mas sua história remonta ao tempo que ela era ativa e mantinha cerca de 1.500 funcionários. “É triste ver como está hoje, esse era um lugar vivo, cheio de gente, cheio de sonhos… Era uma boa empresa para se trabalhar, muito boa empresa. Por muito tempo, movimentou a indústria, o comércio, o dinheiro de Teresópolis. Muita gente veio de outras cidades para trabalhar aqui”, relatou Tadeu, lamentando a saída do maquinário: “Logicamente eu fico triste de ver tudo disso sendo desmontado, assim com várias pessoas que tinham esperança de ver essa fábrica funcionando novamente um dia”.




São quase duas décadas paradas, grande parte com as linhas encaixadas e dando a impressão que bastaria acionar um botão para voltar a funcionar. Foto: Juliana Ludwig / O Diário
E o que o vem por aí?
Há muitos anos se sabe que o retorno da fábrica de tecidos era praticamente impossível por causa da inviabilidade econômica devido a concorrência com mercado atual, principalmente externo, além da grande dificuldade de licenciamento ambiental. Com isso, nos últimos anos vários projetos foram sonhados para o local. Um parque urbano, um shopping, um centro de convenções, um hotel, condomínios de prédios… Mas o que vem por realmente por aí? Há muitas especulações, mas nada ainda concreto para uma das regiões mais valorizadas da região central do município.

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O DIÁRIO PUBLICOU EM SETEMBRO DE 2011
Maquinário da Sudamtex “pronto” para funcionar
- O DIÁRIO visitou as dependências da desativada fábrica, objeto de “desejo” do poder público e sociedade organizada
Na última sexta-feira, 2, o Prefeito Interino Arlei Rosa reuniu-se com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Têxtil de Teresópolis, Judas Tadeu, o proprietário da Sudamtex Ricardo Haddad, e com o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Eduardo Breder. O encontro, ocorrido no gabinete do Prefeito, teve como pautas a reabertura da fábrica de tecidos e a cessão, para a Prefeitura, de parte do terreno anexo para que seja criado um parque público no local. “Estou à disposição para ajudar nestes projetos tão importantes para o município. A reabertura da fábrica e a criação do parque vão contribuir para o desenvolvimento do município, gerando empregos e renda. O projeto do parque, que será mais uma opção de lazer e de negócios, será debatido em conjunto com a sociedade”, informou Arlei.
Nos próximos dias, o proprietário da fábrica irá apresentar o projeto de reabertura e modernização da Sudamtex. “A minha intenção é que a fábrica volte a funcionar. Para isso, conto com o apoio do Judas Tadeu, que representa o Sindicato Têxtil, e estou apresentando também esta parceria para a Prefeitura”, explicou Ricardo Haddad, que vai ceder parte do terreno onde fica a empresa para a Prefeitura construir um parque.
Em junho passado, O DIÁRIO e DIÁRIO TV mostraram a situação da fábrica de tecidos Dona Isabel S.A., que no final de 2006 desligava as máquinas e deixava centenas de pessoas desempregadas e sem perspectivas de receber o que tinham por direito. Quase cinco anos depois, os equipamentos continuam nos mesmos lugares, com o material que estava sendo produzido parado nas máquinas, além de boa parte do estoque ainda em condições de uso. Porém, apesar da impressão de que basta se apertar alguns botões para as grandes máquinas voltarem a produzir, a reportagem mostrou que um possível retorno da fábrica é praticamente impossível devido a inviabilidade econômica e de licença ambiental para o empreendimento. Questões ambientais, aliás, foram motivos de muitas multas ao longo dos anos e reclamações da vizinhança, principalmente dos moradores da Fazendinha. O terreno de 150.000m2, com cerca de 15.000m2 construídos, desperta o interesse para grandes empreendimentos no município e chegaram a ser lançados projetos para a criação de áreas de lazer, como o Parque da Cidade.
A Sudamtex produziu seu primeiro metro de tecido em 1965, funcionando até 1998. Nesse período, grande parte administrada por um grupo americano, ficou parada por cerca de um ano, em 1978. Nos meses sem atividade, porém, os funcionários não deixaram de receber. No final da década de 90 e início da seguinte, foram quatro anos de portas fechadas. A produção foi retomada em 2002 e aconteceu até 2006, quando trabalhavam no local cerca de 300 funcionários, grande parte vinda da cidade de Guapimirim.

As dependências
A reportagem do DIÁRIO e DIÁRIO TV teve acesso as dependências da desativada fábrica, registrando imagens nunca mostradas na imprensa local. Acompanhados de antigos funcionários, estivemos nos principais galpões da Sudamtex, encontrando muitos elementos que ajudam a contar a história da empresa que, no seu auge, no final da década de 80, chegou a empregar 1.080 pessoas.
No primeiro prédio, com cerca de 3.000m2 construídos e dois galpões, encontramos todos os arquivos de documentos da empresa, como registros de funcionários, amontoados em gavetas e mesas. No segundo galpão, à esquerda da portaria, onde chegou a funcionar uma termoelétrica que por anos manteve o funcionamento da fábrica, ainda há muitos rolos de linha e equipamentos antigos jogados pelos cantos.

No prédio principal, com 12.000m2 construídos, funcionavam vários setores, como a preparação para a tecelagem e a tecelagem, o tingimento e a fiação. No galpão da tecelagem, estão 180 máquinas, ainda com os rolos de linha montados. No tingimento, a situação não é diferente. As grandes máquinas Engodenim – 1 e 2 – estão paradas com o material de produção posicionado, como se tivessem sido desligadas em funcionamento. Parte do tecido em estado cru e parte já na tradicional cor azul. Na parede, um calendário mostra os últimos meses de funcionamento: novembro e dezembro de 2006. No galpão à frente do tingimento, um funcionário deixou mensagem antes de se despedir do local de trabalho: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.
Do lado de fora dos galpões, ainda está cheio um grande reservatório, que sempre causou indignação dos moradores da Fazendinha. A água vinha do Rio Paquequer, passava por uma pequena estação de tratamento e terminava no tanque, pronta para ser utilizada na produção da empresa. Ao lado da fábrica, o trecho do nosso principal rio, aliás, parece preservado. Nas margens há muitos eucaliptos e flores e, aliado ao verde, até o aspecto da água parece melhor.
“É muito triste ver essa fábrica fechada”
Funcionário da Sudamtex por 31 anos e tendo passado por várias funções, desde marceneiro a chefe de seção, o aposentado Waldemiro Telles, morador do bairro de Agriões, lembra do tempo em que esteve na fábrica e também cita o grande número de cargos que poderiam estar sendo ocupados. “Vim de Petrópolis para cá e havia acabado de fazer um curso no SENAI. Por sorte, a empresa queria profissionais novos, que ainda não tivessem vícios e que pudessem ser moldados para trabalhar à sua maneira. Assim, comecei como marceneiro e fui crescendo na empresa”, conta Telles, que se aposentou na Dona Isabel S.A. em 1997.
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