Com o tema “Observar e Transformar”, o Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis, realizou no último final de semana, seu 3º Encontro de Pesquisa. O evento reuniu pesquisadores das mais diferentes áreas e moradores do entorno para discutir a respeito da observação de aves. O sentido de trazer este tema como central ao encontro, parte da necessidade de ressaltar o potencial de uma atividade sustentável como forma de desenvolvimento socioeconômico, e assim, reunir diferentes ideias de ações para estruturar ainda mais os trabalhos que vêm sendo realizados no parque.
A primeira parte do encontro foi realizada na sede do PNMMT, em Santa Rita. Para abertura do evento ocorreu a primeira palestra com Vitor Guniel, atual chefe do parque, contando a trajetória e projetos relacionados à conservação e ciência cidadã dos 14 anos da unidade. Em seguida o Prof. Dr. Henrique Rajão-PUC RIO, conduziu uma palestra empolgante e esclarecedora sobre o ‘grande crescimento e o potencial da observação de aves no Brasil’ e destacou a importância da ciência cidadã para o registro de aves e como isso auxilia nas ações de conservação. Os momentos foram cercados de discussões e encaminhamentos que foram valiosos para os presentes no encontro. Ainda no período da manhã, os pesquisadores puderam compartilhar suas pesquisas e experiências através da exposição de banners.
No período da tarde, buscando enriquecer ainda mais a experiência dos participantes, foi realizado o almoço e as palestras no Sítio Saíra Azul, propriedade localizada no entorno do PNMMT e cadastrada no Programa de Observação de Aves municipal. Essa propriedade além de se destacar pelos novos registros de espécies no município, também realiza produção de alimentos orgânicos, o que tornou o almoço uma verdadeira experiência gastronômica para os presentes. Após o almoço foi realizada uma mesa redonda que encerrou o evento, onde a proposta foi discutir as diferentes visões e proposta sobre o potencial da observação de aves no entorno do Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis.
O primeiro a compor a mesa foi Daniel Mello, guia e autor de dois livros reconhecidos nacional e internacionalmente como um dos melhores e mais completos guias de aves do Brasil. Ele realizou sua participação de maneira online, contribuindo de maneira grandiosa com a discussão, destacando os importantes registros de novas espécies que vêm sendo realizados no roteiro do PNMMT e como muitos outros ainda podem ser feitos.
A segunda integrante da mesa redonda foi Ester Farinha, observadora de aves, proprietária do Sítio Saíra Azul e produtora orgânica. Além de possuir quartos para locação de visitantes, Ester abordou aspectos relacionados ao recebimento dos observadores de aves, e como trabalhar com horários mais flexíveis, já que esse público em especial tem horários diferenciados para suas atividades. Ela também abordou as novas espécies que vêm sendo encontradas em sua propriedade, e como essa área ainda possui muitas novas descobertas a serem feitas. Dentre as espécies encontradas, ela destaca o Mocho-preto (Asio stygius), Corujinha-sapo (Megascops atricapilla),Tietinga (Cissopis leverianus) e o Bacurau-oceolado (Nyctiphrynus ocellatus), que foram os primeiros registros para o município de Teresópolis.
Grandes descobertas
Para o encerramento da mesa redonda, o subchefe do PNMMT, Ricardo Mello, contou sobre a criação do roteiro de observação de aves do parque e as grandes descobertas feitas ao longo dos últimos anos e como essa atividade trouxe novos visitantes para a região. Ele também destacou como isso pode auxiliar na conservação de outras espécies, já que para se ter uma diversidade de aves, precisamos que seu ambiente esteja preservado e consequentemente que outras espécies também se mantenham naquela região para a manutenção adequada do ambiente.
De modo geral, o evento foi muito produtivo, superando as expectativas e avançando em números, por exemplo, o número de participantes aumentou em relação ao ano de 2022, onde estiveram presentes 55 pessoas, entre elas alunos, profissionais e público. Além disso, as contribuições vindas dos presentes serviram diretamente para a gestão, neste caso, cumprindo o objetivo do encontro, alinhar a pesquisa científica à gestão da biodiversidade. Representantes das universidades UERJ, UFRJ, Estácio de Sá e UNIFESO estiveram no encontro.
Por fim, a unidade de conservação municipal ganha mais um momento marcante em sua história e, a partir deste encontro, sabe que os desafios são ainda maiores. Cumprindo os objetivos de criação da UC, estabelecidos em 2009, estimular e alinhar os objetivos da gestão à pesquisa científica é fundamental. O Parque possui grande potencial para a proteção da biodiversidade e com este importante passo dado neste ano, ganha ainda mais na formação de conhecimento a respeito de seu território.
A importância do evento
O PNMMT faz parte de uma gama de Unidades de Conservação municipais que ao longo do estado do Rio de Janeiro que buscam sua estruturação e consolidação no cenário científico. Esta tarefa não é fácil, considerando que existem 416 áreas protegidas no estado, conforme o Programa de Apoio às Unidades de Conservação Municipais do Estado do Rio de Janeiro-PROUC. Muito embora existam dificuldades em serem “encaixadas” nas agendas das universidades, o PNMMT vem fazendo sua parte.
Tudo começou no ano de 2021, onde juntamente ao Encontro de Pesquisas do Parque Nacional Serra dos Órgãos, a UC municipal deu seu primeiro passo junto aos eventos. Na ocasião, ainda passando pelo grave período da pandemia do COVID-19, o evento foi online e já neste momento foi possível mostrar aos pesquisadores inscritos o que o PNMMT estava desenvolvendo em seu território. Em 2022, foi realizado o primeiro evento presencial e na sua sede de Santa Rita, onde na ocasião, o tema central do evento foi “Conhecer para conservar”.
O objetivo foi justamente mostrar aos inscritos um pouco do cenário nacional das UC municipais e na parte da tarde um intercâmbio entre as UC que estão presentes no município de Teresópolis. Logo, 2023 marca mais um passo dado pela atual gestão do Parque Municipal, principalmente por estar caminhando junto ao conhecimento científico e estar se aproximando cada vez mais das agendas de pesquisadores que passam a conhecer o Parque. Este avanço proporciona o desenvolvimento das informações a respeito do Parque, o que é recomendado pela SOS Mata Atlântica através de seus relatórios sobre UCs municipais. Ainda existe um longo percurso a ser percorrido pelo PNMMT, porém, dentro dos seus 14 anos, é visto com bons olhos o desenvolvimento do Parque Municipal ao longo dos últimos anos.
Equipe de pesquisadores do Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis. Foto: Divulgação/PNMMT