Marcello Medeiros – @mochileiro_marcello
Criado em 06 de julho de 2009, o Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis é um divisor de águas para a conservação ambiental e a projeção dos esportes de montanha em algumas regiões que tinham tudo para desaparecer graças ao crescimento populacional desordenado nos últimos anos. Com pouco mais de 13 anos de história, o PNMMT mudou o curso errôneo que vinha sendo tomado em algumas localidades, com destaque maior para a área onde fica sua montanha símbolo, a Pedra da Tartaruga. Não fosse a unidade de conservação, hoje haveria casas onde atualmente é permitido um camping com uma das vistas mais bonitas do município e cidades do entorno. Graças à dedicação das equipes de trabalho da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, todos os anos são anunciadas novidades que prezam a manutenção de flora e fauna, aliadas a investimentos em atividades de lazer e esportes que têm tudo a ver com o parque, como a escalada. E, sobre esse último, vale destacar o campo escola daa unidade de conservação. Localizado na Pedra do Camelo, com 1.400 metros de altitude e “vizinha” ao quelônio de pedra, o espaço foi inaugurado no ano passado, conta com 15 vias e recebeu o nome do lendário escalador teresopolitano Alexandre Oliveira, o “Ice Wall”. Antigo morador da Barra do Imbuí, ele faleceu em fevereiro de 1998 na Face Sul do Monte Aconcágua, na Argentina, ao lado de outro ícone do esporte local e nacional, Mozart Catão – que, aliás, já dá nome a outra área de escalada do PNMMT, no Parque do Imbuí.
“O objetivo desse Campo Escola é ampliar as atividades de visitação e atender a demanda do público praticante de escalada com vias em top rope e diferentes graus de dificuldade, consequentemente ampliando as atividades de uso público dando um novo uso no antigo trecho que ligava a ‘testa do Camelo x corcovas’. Além disso, o mais importante é essa homenagem ao Alexandre, que tanto fez a Pedra da Tartaruga como local de treinamentos que permitiram desenvolver sua conhecida técnica de escalada”, relata Carolina Oliveira, responsável pelo Setor de Montanhismo do PNMMT.
Além dela, participaram das conquistas das vias de escalada os atletas Fabrício Vieira e Diogo Marassi, de Teresópolis, e os petropolitanos Arthur Estevez e Roberta Loh, do “Abrigo Cumes”. Foram parceiros no projeto a Bonier Equipamentos, com doação de chapeletas; a loja Climb Center, que fabricou os degraus metálicos da via ferrata; a FEMERJ (Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro), que fez acompanhamento e análise técnica para abertura do setor; e o Centro Excursionista Teresopolitano (CET), que realizou as primeiras visitas técnicas para ajudar a projetar o agora realizado setor – além de ter sido um dos principais motivadores para a criação do próprio parque.
As vias de escalada
Os caminhos de ascensão nas paredes do Camelo são as vias: “Dromedário” (VIIc, fenda), “Ice Wall” (A0, Ferrata), “Fuça” (V A0), “Dedo Duro” (VIIIa), “Um Tango Argentino” (VIIb), “Nadhishodana” (VI), “Chameau” (V), “Ivo Salvador” (IVsup), “Luzopiteco” (V, ainda em reforma), “Dique Vigarista” (VIIb), MKersting (A2), uma parada dupla para realização de procedimentos e outras três ainda em conquista. Sobre a via Ferrata, uma espécie de escada fixada na rocha degrau por degrau, para permitir acesso ao cume do Camelo evitando uma antiga e perigosa área com muita erosão, Carolina explica: “Ela foi feita respeitando a ética na escalada, reconhecendo a não existência de vias que façam cume em um paredão sem possibilidade de escalada, que é feito todo em rocha e evitando a degradação, motivo de fechamento dos acessos por trilhas, mantendo o acesso ao cume utilizando as técnicas necessárias. Desta forma, para o acesso e a descida do cume da Pedra do Camelo a partir de agora é necessário o uso de técnica de escalada, devendo o montanhista possuir conhecimento técnico e equipamento necessário. A atividade exclusiva do rapel é vedada pela gestão da unidade, sendo essa permitida apenas para ser utilizada como técnica de descida do cume”, pontua a escaladora, que iniciou sua vida na montanha através do CET, com as primeiras aulas de escalada e rapel justamente na área do PNMMT que hoje ajuda a preservar.
Alexandre, nosso “paredão de gelo”
Falecido aos 24 anos, Alexandre Oliveira também era especialista em equipamentos para montanhismo – tanto que muitos materiais duram até hoje e são vistos como verdadeiras relíquias por aqueles que compraram diretamente com o atleta e os mantém hoje com uma grande lembrança. “Ice Wall” praticava montanhismo e escalada desde 1988, era referência na cidade e se destacava a nível nacional, não só em rocha, como em alta montanha, devido à sua excelente capacidade de aclimatação. Foi campeão em diversas competições de mountain bike e realizou escaladas nas mais diferentes regiões do Brasil, Argentina e Estados Unidos.
Determinação e técnica eram suas marcas. Iniciou sua carreira nas montanhas mais acessíveis da Serra dos Órgãos aos 15 anos de idade. Logo depois começou a investir em ascensões cada vez mais difíceis em formações rochosas como o Dedo de Deus e Verruga do Frade. Em 1995, chegou ao cume do Aconcágua pela primeira vez, em expedição em solitário pela rota normal. Em 1996, repetiu o feito. No ano seguinte, já em parceria com Mozart, conquistou o monte Denali (McKinley), a montanha mais alta da América do Norte e que se eleva a 6.190 metros acima do nível do mar.
A vitória serviria de treinamento para o grande feito que se proporia a realizar em 1998, vencer o Aconcágua pela sua rota mais difícil. Porém, ele, Catão e Othon foram surpreendidos por uma avalanche que acabaria com o sonho dos dedicados escaladores, deixaria uma saudade enorme para os familiares e uma grande lacuna no esporte. Devido a sua importância para o esporte local, ele também dá nome a Praça de Esportes Radicais, ao lado do terminal rodoviário, e ao mirante no final da Trilha Mozart Catão, na sede local do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.