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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Patrimônio histórico desprotegido em Teresópolis

Tombados pela municipalidade ou pelo INEPAC bens históricos de Teresópolis estão sendo vilipendiados pelo descaso e a complacência das autoridades que nada fazem para conter as constantes agressões

Wanderley Peres

Em 2013, a prefeitura de Salvador lançou o edital “Arte em Toda Parte”, no valor de R$ 1 milhão e 200 mil, para custear 40 projetos de valorização da arte na cidade. Dez anos depois do bom exemplo que vem na região Nordeste, vivemos em Teresópolis o inverso. Aqui, no Sudeste, é a destruição da arte que está em todo canto e a semana foi de notícias bem ruins para o patrimônio histórico municipal, especificamente.

No dia em que O DIÁRIO publicou matéria dando conta do descaso e agressão que vem sofrendo a ponte da estrada de ferro da rua São Franscisco, bem tombado desde 2008 pela municipalidade que só piora o seu estado desde então, duas outras agressões foram percebidas e encaminhados pedidos de providências à redação: a residência da Família Perry, na avenida Delfim Moreira, que deveria estar sendo reconstruída pelos proprietários relapsos, teve o terreno cercado recentemente para surgir nele uma nova construção; e o painel de azulejos do pintor Amado, no prédio da extinta Casa de Saúde NS de Fátima, que estava em fase de tombamento e acabou tombando, em cacos, antes que as comissões da Câmara se pronunciasse sobre o pedido feito, pela Cultura. Outra obra de Amado, aliás, já havia sido destruída, meses atrás, quando se iniciava um movimento pelo reconhecimento de seu valor histórico. Esse outro painel do pouco reconhecido artista teresopolitano ficava no antigo posto de gasolina NS de Fátima, na Reta, e que também não existe mais.

Os bens, tombados ou não, estão descritos numa relação de patrimônios históricos em risco no município encaminhada ao Ministério Público, e ao próprio Inepac, que vem assistindo sem agir a degradação dos bens tombados pelo órgão no município. Além da Casa das Irmãs Perry, destruída em incêndio e desde então em escombros, que se cogitou a punição dos autores do crime e a reconstrução do imóvel construído em 1850, o mirante da Granja Guarani piorou o seu estado. Continua em escombros a arte de Jorge Colaço, e nada se fez, ainda, também, contra uma torre de telefonia instalada entre o ponto de miragem e a Serra dos Órgãos, objetivo da construção que completa 100 anos em 2029.

Mirante da Granja Guarani

Quanto aos painéis do artista Amado, que resiste um deles, a fachada da igreja São Judas Tadeu, em Agriões, não há o que se fazer a não ser lamentar a falta de sensibilidade dos proprietários dos imóveis e a lentidão das autoridades. E do Quiosque das Lendas, agem com descaso sobre o descaso as autoridades. Mas, a situação da ponte férrea da rua São Francisco é crime em curso, caso que precisa de medida urgente, a ser cobrada, inclusive, pelo Ministério Público, porque o desinteresse pela obrigação do cuidado por parte da Prefeitura é flagrante.

Trata-se de uma construção quase centenária, e imponente, daí seu interesse histórico. Com 72 metros de comprimento, o pontilhão foi inaugurado com a presença do ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida, benzida pelo cônego Bento Maussen e muito festejada quando foi inaugurada em 19 de abril de 1931, essa ponte representou um progresso muito grande para o município, uma das primeiras obras de grande porte, substituindo-se a ponte original, em madeira e colunas de pedras, que permitiu o trem chegar do Alto à Várzea, em 1921. Junto com o “Túnel dos Órgãos”, na Beira Linha, e a ponte sobre o Rio Paquequer”, em frente ao Parque Nacional, a ponte da São Francisco é bem tombado pela municipalidade desde 2008, e o estado do bem só piorou de lá para cá. Aumentaram as ocupações no entorno e o seu tabuleiro está sendo usado como teto para invasões abaixo dela. Como próprio municipal já deveria estar sendo melhor cuidado, mas um bem tombado merece atenção redobrada, o que não vem ocorrendo.

O pouco caso com os bens públicos e a falta de cuidado com os tombados, pela importância histórica e artística, precisam ser reclamados pela sociedade. E não se admite a complacência das autoridades para os atentados que esses bens vêm sofrendo. A prefeitura está permitindo obra de construção de edifício sem o devido recuo do vizinho tombado. Estão até avançando sob ele, como mostrou O DIÁRIO essa semana. Desde 2013 que acabou o prazo de um Termo de Ajustamento de Conduta para a restauração do Quiosque das Lendas, onde a prefeitura autorizou a construção de uma torre, impedindo a miragem das montanhas a partir do bem tombado pelo Estado. O INEPAC não age, efetivamente, também, contra o atentado que sofreu a residência da Família Perry. E, quando relacionados os bens de interesse histórico, enquanto providências para sua proteção vão se iniciando, se inicia, também, a pressa em destruí-los, urgentemente.

Um bem histórico, quando é tombado, todos os projetos que em seu entorno, precisam passar pelo crivo da Secretaria de Cultura para a devida autorização, porque essa nova construção pode impactar sobre esse patrimônio que passa a ser de todos. A providência do tombamento foi tomada, desta ponte, da Ponte Sloper e do túnel da Beira-Linha, que estão protegidos por lei há mais de 15 anos. E, por serem bens tombados pelo município precisam ser cuidados pela administração municipal, não só o zelo do bem, mas também o cuidado ao permitir novas construções em seu entorno, para que não interfiram na sua visualização, que passa a ser de interesse público.

Edição 23/11/2024
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