Anderson Duarte
Ontem, 17, o país se despediu do economista e Doutor em sociologia, Paul Singer, que foi também um dos precursores do conceito de economia solidária no Brasil. Em sua base de atuação profissional um desafio marcante: como evoluir a economia para que ela pudesse beneficiar os mais pobres, beneficiar a população de baixa renda? Neste cenário surgia a Economia Solidária, muito baseada na produção com autogestão, sem patrões e empregados, e como gostava de explicar o professor: “Economia solidária é uma organização de produção, de comercialização, das finanças e do consumo que privilegia o trabalho associado, a autogestão, a cooperação e a sustentabilidade considerando o ser humano na sua integridade como sujeito e finalidade econômica”, explicou.
Em 2008, quando instituía no país este conceito, Singer esteve em nossa cidade, durante o Fórum Municipal de Economia Solidária, Trabalho e Emprego, e visitou a redação de O DIÁRIO conversando sobre aquilo que ele entendia precisar ser a nossa prioridade, ou seja, transformar Teresópolis na maior produtora nacional de Plantas Medicinais, dentro dos princípios da Economia solidária. Paul Singer nasceu na Áustria em 1932 e chegou ao Brasil em 1940. A família dele veio para o país fugindo da perseguição aos judeus na Europa. Em 1953, foi um dos líderes da greve dos 300 mil, que durou quase um mês e foi um marco do movimento sindical. Foi aposentado compulsoriamente em 1968, com a decretação do AI-5, e passou a lecionar na PUC-SP, como ocorreu com outros perseguidos pela ditadura militar. Participou da fundação do PT em 1980, junto com outros intelectuais como Perseu Abramo e Plínio de Arruda Sampaio. O professor também foi um dos idealizadores do Programa Bolsa Família e morreu na noite desta segunda-feira, aos 86 anos em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês e teve uma infecção generalizada. O professor também sofria de Alzheimer havia cerca de um ano.
Em sua entrevista a O DIÁRIO, o economista disse que: “a grande arma para a superação das fragilidades é a ajuda mútua entre associações, cooperativas e agências de fomento”, o professor fazia referência ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária, e concluía: “Há um visível fortalecimento da economia solidária no país e a Secretaria Nacional de Economia Solidária tem como missão formular e implementar políticas públicas para difusão e fortalecimento da economia solidária, no Brasil”, explicava. “Economia Solidária é uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano, e não do capital, com base associativista e cooperativista, voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços, de modo autogerido, tendo como finalidade a reprodução ampliada da vida”, explicou o professor.
O economista Paul Singer teve uma vida de dedicação e de luta para a construção de um Brasil mais justo, mais solidário e mais generoso para todos. Esteve presente no processo de redemocratização, ao lado da resistência contra a ditadura militar e em sua fase mais recente, nos governos Lula e Dilma, teve contribuição fundamental na organização, no estabelecimento do marco teórico e no fomento da economia solidária, que envolve o fortalecimento das cooperativas e associações, a autogestão empresarial, a distribuição do crédito, entre outros aspectos. “Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades. A ideia deriva do conceito de Ecodesenvolvimento, proposto em 1970, na ONU, durante a Conferência de Estocolmo. Mas somente na conferência “ECO 92”, no Rio de Janeiro é que o conceito foi incorporado definitivamente como um princípio para o desenvolvimento. Pois ele busca o equilíbrio entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico e serviu de base para a formulação da Agenda 21”, explicava o economista.
Paul Singer destacou durante o seminário realizado no UNIFESO que o Projeto Jardim Botânico de Plantas Medicinais seria um importante projeto de desenvolvimento sustentável para Teresópolis porque era planejado com ações que envolveriam toda a cadeia produtiva do negócio, tais sejam, a produção agrícola; a comercialização; a industrialização; o treinamento; a divulgação e a utilização correta de plantas medicinais pela população. Destacou também que a apicultura poderá ser também outro projeto, pois se interage com as plantas medicinais. “A cidade cujo símbolo é o Dedo de Deus com a implantação do projeto se transformará num ponto referencial de turismo e poderá a partir de tal ser intitulada a “Capital Brasileira das Plantas Medicinais”, dizia o professor.