Anderson Duarte
Muito provavelmente você já ouviu a expressão: “a preço de banana”, normalmente associada a algo de baixo valor ou com preço irrisório, mas com certeza essa premissa não se aplica aos valores contidos em recente publicação, não tão pública como deveria, da Prefeitura de Teresópolis. Com recursos federais, a gestão Mario Tricano quer comprar quase meio milhão de reais em gêneros alimentícios provenientes de produção da Agricultura Familiar. Não fossem os preços praticados, curiosamente muito superiores ao que encontramos no varejo, no atacado, e o fato de já possuirmos uma empresa terceirizada, e muito bem paga, para esse fornecimento na área da educação, até que nem seria tão absurdo. Mas, esses e outros elementos, chamaram a atenção da opinião pública que através das redes sociais criticou muito o empenho, em mais um episódio de gastos demasiados.
Concentramos nossos esforços na análise do produto banana, sendo este o maior volume em termos de quantidade adquirida na listagem. São aproximadamente 45 toneladas da espécie “prata” da fruta. Para dimensionarmos essa compra levamos em conta que a cada um quilo bananas, são encontradas em média dez unidades da fruta, portanto, a Prefeitura divulga que quer comprar cerca de 45 mil quilos de banana, o que nos leva ao montante de 450 mil bananas, ou cerca de três destas frutas por cada habitante de Teresópolis. O preço também nos chamou atenção, e comparando com o valor praticado no Supermercado Multi Market, que fica ao lado da sede do Poder Executivo teresopolitano, portanto nem demandaria transporte tão oneroso, de R$ 1,69 o quilo fica ainda mais difícil entender e dimensionar. A prefeitura informa comprar com dinheiro federal, a mesma banana prata por R$ 4,21 o quilo, ou seja, valor 150% maior do que o comprado no mercado.
“Se estamos comprando em grande quantidade não deveria ser um preço menor? E olha que o prefeito nem pode dizer que não sabia do preço menor na cidade, já que são dezenas de carros de som azucrinando a nossa paciência todos os dias pela Várzea anunciando preços mais baixos que isso a toda esquina praticamente”, desabafa um leitor do Diário de Teresópolis pelo WhatsApp da redação. O valor total da compra de bananas é de R$ 188.860,00, caso comprasse a mesma quantidade de banana no mercado Multi Market a gestão pagaria R$ 75.813, uma economia superior aos cem mil reais. Acontece que um dos fatos que mais tem chamado a atenção dos teresopolitanos pelas redes sociais é a terceirização do fornecimento de merenda escolar em Teresópolis, que já demanda milhões de reais anualmente e já prevê a aquisição destes insumos alimentícios por parte da empresa vencedora “ad eternum” do processo de licitação para a área.
“Se nós já temos a Milano que é paga para comprar, preparar e oferecer as escolas estes alimentos, não consigo entender como ainda temos que gastar tanto dinheiro comprando ainda mais alimentos! Esse excesso não é visto de jeito nenhum nos cardápios dos refeitórios das escolas! Já tivemos até salsicha sendo servida para nossas crianças, isso tudo está muito estranho e como não está dando mesmo para confiar em político e nas instituições políticas acho mesmo que o Ministério Público tem que procurar investigar essa compra”, explicou uma telespectadora da Diário TV através de espaço de interação da emissora.
O resultado do chamamento está dentro dos trâmites previstos no Programa Nacional de Alimentação Escolar, ou PNAE, através do qual o governo federal repassa, a estados e municípios, valores suplementares em dez parcelas mensais para a cobertura de 200 dias letivos, conforme o número de matriculados em cada rede de ensino. Quem analisa esta liberação é o Conselho de Alimentação Escolar, que é órgão responsável pelo controle social do PNAE, isto é, por acompanhar a aquisição dos produtos, a qualidade da alimentação ofertada aos alunos, as condições higiênicas e sanitárias em que os alimentos são armazenados, preparados e servidos, a distribuição e o consumo. Segundo as regras do programa, as entidades executoras devem publicar na chamada pública, que é a modalidade de edital relativo à agricultura familiar, quais os alimentos e a quantidade de cada um deles que desejam adquirir da agricultura familiar para alimentação escolar.
Questionamos a administração pública através de sua assessoria de comunicação, mas como é corriqueiro na atual gestão, não recebemos nenhuma resposta. Nossa redação queria saber do gestor se há alguma justificativa para a disparidade de valores contidos na lista se comparados com os preços praticados pelo mercado varejista do município, ou se há algum item, ou característica que justifique os valores acentuados se comparados com os preços ofertados pelos pontos comerciais mais populares do município. Também perguntamos qual é a destinação e periodicidade de fornecimento destes alimentos adquiridos com verba federal?
Foto: São aproximadamente 45 toneladas da espécie “prata” da fruta, e a prefeitura informa comprar a mesma banana por R$ 4,21 o quilo, ou seja, valor 150% maior do que o comprado no mercado