Marcello Medeiros
Teve mais um capítulo a conturbada história do Teresópolis Futebol Clube, que nos últimos anos deixou de ser notícia na área esportiva e passou a se envolver em polêmicas extracampo. Após a repercussão, na Câmara Municipal, sobre a suposta utilização inadequada do campo doado pelo município para ocupação exclusiva de atividades esportivas, a empresa que atualmente ocupa a valorizada área no bairro do Alto se pronunciou sobre a situação. Em nota, divulgada nas redes sociais e encaminhada ao Diário, é relatada uma negociação que teria tido início com ideia de locação e terminado com a compra do T.F.C. pela quantia de R$ 12 milhões, “sendo dada a entrada do pagamento do clube, no valor de R$ 4.000.000,00, pago em Voucher para uso em obras, construção e/ou reformas de imóveis residenciais e / ou comerciais, que deveriam ser utilizados nas empresas executivas do grupo até o valor do Voucher encerrar. O restante (R$ 8.000.000,00) seria pago no dia 15 de abril de 2025”.
O documento cita o nome do antigo presidente do clube e também a informação sobre a ideia pensada para o local – que teve todo o gramado arrancado nas últimas semanas: “O objetivo da compra do local, além de manter as características esportivas, dando continuidade as escolinhas de futebol e outras atividades que haviam, seria palco de grandes eventos como o Iº Circuito de Negócios e Fidelização – composto em oito etapas a serem realizadas ao longo do ano com empresários e microempreendedores de todos os ramos no mercado do Rio de Janeiro – datado previamente para iniciar nos dias 26 e 27 de abril deste ano”.

A empresa também alega ter sido informada que não havia nada de irregular na documentação do clube, mas que, um mês depois, o T.F.C. teve a sua luz cortada e mais de 20 restrições enviadas pelas secretarias de Meio Ambiente, de Obras e de Vigilância Sanitária, “que nunca foram mencionadas pelo antigo proprietário”. Também em nota, é dito que “Foram muitas ameaças sofridas ao longo do processo, acarretando prejuízos para o grupo” e que “medidas de segurança foram obrigadas a serem tomadas, acarretando prejuízos financeiros, como atraso no pagamento de fornecedores e funcionários”. A empresa alega já ter investido no local cerca de R$ 1 milhão. O Diário entrou em contato com o antigo presidente do T.F.C., citado pela empresa e inclusive com o nome indicado no Voucher de R$ 4 milhões, mas ele não respondeu a solicitação feita pela reportagem.

O que diz o governo municipal
De acordo com representantes da Prefeitura, até o momento não há qualquer comprovação de transferência da propriedade e que não foram permitidas obras no local – que segue inviabilizado de funcionamento. “O imóvel segue interditado pela Vigilância Sanitária Municipal e também tem um embargo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que emitiu auto de constatação e de infração, no valor aproximado de R$ 240 mil. Também foi feito um registro de ocorrência junto ao 30º BPM para que representantes das secretarias municipais de Saúde e de Meio Ambiente tivessem acesso ao local para vistorias e emissão de notificações”.
A Prefeitura também relatou ao Diário que entende que o campo do Teresópolis é um aparelho que possui, além de um valor histórico inestimável, um potencial imenso que, caso fosse reintegrado ao patrimônio municipal, com certeza seria utilizado de forma a trazer grande benefício à população. “O Governo sempre está buscando meios para implantação de projetos inovadores e políticas públicas de impacto, sobretudo direcionadas àqueles que mais precisam. No caso do campo do Teresópolis F.C., não é diferente”, informa a gestão.

Família preocupada com a situação
Nesta sexta-feira (11) também conversamos com o empresário Luciano Savattone, neto de quem dá nome ao estádio, Antônio Savattone. Ele relatou preocupação e indignação da família com os acontecimentos envolvendo o Teresópolis Futebol Clube nos últimos anos. “A família, as pessoas que ainda estão vivas, que contam essa história e tem esse amor pelo T.F.C. estão indignadas, aliás há muito tempo. Não é de agora essa ideia de venda do terreno do Teresópolis, que já foi oferecido a várias empresas, mas nunca de fato se concretizou, mas agora está mais latente. Mas percebemos que a sociedade, os vereadores, o prefeito, todos estão entendendo a importância desse espaço e tudo caminhando para um desfecho favorável. O estádio leva o nome da minha família, mas é do nosso município”, pontuou.
Savattone também reforçou a questão da documentação original, a escritura de doação, que indica a inviabilidade de utilização além da prática esportiva. “Na escritura o terreno é doado pela prefeitura para que o Teresópolis tenha finalidade exclusiva da prática de esporte e, caso não continue acontecendo, automaticamente o terreno deve voltar ao patrimônio da prefeitura. Logicamente, se a Câmara tomar a medida de realizar o tombamento, em um processo que já passa de dois anos, facilita essa questão pois aí se perderá todo o interesse sobre especulação imobiliária ou qualquer outra finalidade. E que fique bem claro também que as construtoras locais não tem e nunca tiveram interesse em acabar com o estádio municipal. Se teve essa questão, foi com empresa de fora. Os empresários locais da construção civil não têm esse interesse”, destacou Luciano.
