Luiz Bandeira
Marcello Medeiros

Uma das operações mais importantes já realizadas contra o crime organizado na Região Serrana do Rio de Janeiro foi deflagrada nesta quarta-feira (9), resultando na prisão de Carlos Eduardo Santos da Silva, conhecido como ‘Gorilão’, apontado como a principal liderança da facção criminosa Comando Vermelho em Teresópolis e em municípios vizinhos. A ação foi coordenada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ) e do Grupo de Apoio aos Promotores (GAP/MPRJ), com o apoio da Polícia Civil e da Polícia Militar. Ao todo, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva contra integrantes da facção, todos investigados por envolvimento em crimes como homicídios, tráfico de drogas e associação criminosa.
A operação contou ainda com o reforço de tropas especializadas como o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), o Batalhão de Choque, o Batalhão de Ações com Cães, além da colaboração da Polícia Militar do Espírito Santo. As diligências se concentraram no Complexo da Mangueirinha, em Duque de Caxias, região da Baixada Fluminense dominada por facções criminosas.

Pego ‘no flagra’ em motel
‘Gorilão’ foi localizado em um motel nas proximidades do Parque Centenário, em Duque de Caxias. Segundo o promotor Uriel Gonzalez, da 4ª Promotoria de Justiça Criminal de Teresópolis, o local estava sendo mapeado como possível esconderijo após meses de monitoramento. “Durante anos de investigação, identificamos pelo menos 25 locais que ele usava para se esconder e despistar as autoridades. A prisão é resultado direto de um trabalho de inteligência meticuloso, articulado entre diversas instituições”, afirmou o promotor.

“Nosso alvo número um”
De acordo com o delegado Márcio Dubugras, titular da 110ª Delegacia de Polícia, ele era considerado o criminoso mais perigoso em atividade na cidade. “Mais de 20 homicídios são atribuídos a ele. Era nosso alvo número um. Ele causava verdadeiro terror: mandava matar quem ele suspeitava que estivesse colaborando com a polícia. Alguns inocentes também acabaram sendo vítimas dessa guerra pelo controle do tráfico”, destacou o delegado.
Ainda segundo Dubugras, a facção comandada por ‘Gorilão’ estava envolvida em um conflito direto com o Terceiro Comando Puro (TCP), gerando uma onda de violência nos primeiros meses do ano. “Tivemos ao menos dez homicídios em confrontos entre essas facções, todos ligados à tentativa dele de expandir seu território”, explicou.
Além do tráfico, as investigações revelaram que o criminoso também atuaria em outras frentes ilegais. Conforme detalhado pelo Coronel Ferreira, Comandante do 30º Batalhão da PM, “ele já tentava controlar serviços ilegais como o chamado ‘gatonet’, e pretendia colocar barricadas em comunidades para impedir a entrada da polícia. Era uma clara tentativa de domínio territorial e social das áreas em que atuava”.

Drogas e fuzil apreendidos
Ao longo das investigações, as forças de segurança realizaram uma série de apreensões que enfraqueceram gradualmente a estrutura da quadrilha. Foram recolhidos mais de 100 quilos de cocaína, diversas armas, incluindo um fuzil AK-47 Kalashnikov, veículos e cerca de R$ 50 mil em dinheiro. Pelo menos sete integrantes da facção foram presos antes da operação desta quarta-feira. “O objetivo nunca foi apenas prender o líder, mas sim desarticular toda a cadeia de comando e logística da organização criminosa”, afirmou o promotor Gonzalez. “E é isso que temos feito: cortar o financiamento do crime, confiscar drogas, armas e bens e, sobretudo, impedir que essas pessoas sigam impunes.”
O Delegado Dubugras reforça que a atuação conjunta das forças de segurança foi determinante para o êxito da operação. “Teresópolis tem sido exemplo para outras cidades. A integração entre Ministério Público, Polícia Civil e Polícia Militar mostra que é possível combater o crime com inteligência e estratégia.”

Recado claro aos criminosos
As autoridades envolvidas na operação deixaram um recado direto às lideranças do crime organizado: não haverá tolerância com a atuação de facções na Região Serrana. “Assim como prendemos um dos líderes em Senador Camará, agora foi a vez do Gorilão. E não vamos parar por aí. Quem tentar se esconder, vamos encontrar. Quem tentar dominar território, será combatido”, disse o coronel Ferreira.
A PM informou que as ações continuarão de forma permanente, especialmente em áreas consideradas as principais bases de operação da quadrilha. “Nosso trabalho é diário. Atuamos com operações quase constantes nessas localidades, e com base no nosso setor de inteligência, alimentamos o Ministério Público e a Polícia Civil com informações fundamentais para garantir essas prisões e apreensões”, destacou o comandante.

Um cerco montado com paciência e precisão
O monitoramento de ‘Gorilão’ começou há mais de um ano, com o uso de tecnologias de rastreamento, escutas autorizadas judicialmente e análise de movimentações financeiras e territoriais da facção. “Foi um cerco paciente, feito com cautela e precisão. A gente sabia que uma operação como essa exigia tempo e estratégia. Hoje, temos a sensação de dever cumprido”, afirmou um agente do GAP que participou da prisão. Ao fim do dia, as autoridades reforçaram a importância do apoio da população e destacaram que denúncias anônimas continuam sendo fundamentais para novas ações. “Essa vitória é da cidade, é do cidadão de bem. O recado está dado: Teresópolis não será refém de criminosos”, concluiu o promotor Gonzalez.