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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Produtores rurais relatam dificuldades e falta de apoio em Teresópolis

Além da falta de condições nas estradas, que nessa época do ano ficam em situação ainda pior, os produtores rurais reclamam de serviços como iluminação pública e telefonia, que são muito diferentes, para pior, se comparado com a zona urbana.

“Se continuar assim, daqui a pouco vai faltar alimento na mesa. Muitos estão desistindo”, relatam agricultores

Marcello Medeiros

Teresópolis é uma das principais, senão a principal, produtora de legumes e verduras do Estado do Rio de Janeiro. Tanto que, em 2018, quando ocorreu uma greve nacional de caminhoneiros, o governo estadual determinou que forças de segurança subissem a serra para desobstruir as estradas e permitir que a Ceasa e outros estabelecimentos comerciais do Rio de Janeiro reabastecessem seus estoques, que estavam zerados após alguns dias sem a prestação do serviço. Esse é apenas um dos exemplos da importância da produção realizada no Segundo e Terceiros Distritos. Porém, apesar de tanta riqueza sair de solo teresopolitano, o produtor rural é cada vez menos valorizado. Soma-se as incertezas geradas pela falta de investimentos o aumento dos custos dos últimos anos e o resultado é o que ouvimos de alguns agricultores locais na última quinta-feira: “Hoje a gente encontra dificuldades em tudo, principalmente no transporte com as estradas. Tudo no interior é muita dificuldade, tanto pra gente que transporta para vender quanto para o produtor rural, que tem sofrido muito para escoar a produção. O gasto só aumenta e por outro lado o produtor não está sendo atendido pelas autoridades. O produtor rural está morrendo pela falta de incentivo”, relata Claudinei Veiga Tayt-Sohn, que trabalha com o transporte de mercadorias para venda no Rio de Janeiro e também produz. “Cada vez menos pessoas estão querendo trabalhar na lavoura”, completou outro produtor, Jurandir Tayt-Sohn Júnior, de Independente de Mottas, no Segundo Distrito.

Se ele compra 100 pés de alface e só vende 50%, devolve o resto para o fornecedor

Mais conhecido como Júnior, ela relatou à reportagem do jornal O Diário e Diário TV algumas dificuldades enfrentadas pela categoria nos últimos anos, como atrasos nos pagamentos, aumentos absurdos nos preços de insumos, aquisição de produtos através de “permuta”, onde o atravessador e o produtor acabam amargando enorme prejuízo, estradas em péssimas condições e a ausência quase que total do poder público. “Temos tido muita inadimplência, existem empresas que pagam em rápido, mas a maioria em 80, 90 dias. Isso contando que levamos 70 dias para produzir, da sementinha ao ponto de colheita, aí até receber não conseguimos dar continuidade e o financeiro só complica. O valor dos insumos está muito alto também, sem ninguém se preocupar com o nosso lado”, atenta Júnior, citando a prática de permuta com os estabelecimentos como péssima para a categoria. “Como não temos como vender direto, passamos para a pessoa que faz o transporte, que pega no campo e leva para os mercados, mas agora estão trabalhando com sistema de troca de mercadorias, o que deixa o preço muito baixo. Se ele compra 100 pés de alface e só vende 50%, devolve o resto para o fornecedor, que automaticamente fica no prejuízo e isso acaba chegando na gente, pois temos que vender baratinho para equilibrar isso. É preciso ter algum tipo de regulação. Se já se sabe que a mercadoria é perecível, que não pode ser estocada, tem que mudar isso e não passar o prejuízo para o homem do campo, que está a cada dia mais desestimulado”.

Poder público ausente
Além da falta de condições nas estradas, que nessa época do ano ficam em situação ainda pior, os produtores rurais reclamam de serviços como iluminação pública e telefonia, que são muito diferentes, para pior, se comparado com a zona urbana. A falta de ações por parte das autoridades públicas, que deveriam agir de ofício, e não somente quando provocadas, é outro motivo para o produtor rural pensar duas vezes se vale a pena continuar nessa luta diária. “Não recebemos nem visita. Há anos ninguém vem por aqui, o produtor rural está largado. Nenhum apoio do município, não só no meu caso, não só em Mottas, mas todo interior. Muitas estradas estão em péssimas condições, buracos, sem iluminação, sem acostamento, telefonia não tem. De vereadores, nada até o momento. Só recebemos visita em época de eleição”, frisou Júnior, citando que havia expectativa de cenário bem diferente com a eleição de pelo menos meia dúzia de edis do interior, além de um secretário de Agricultura que é desse ramo. Ele também citou a “inoperância da Emater”, órgão ligado a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro, responsável justamente pela assistência técnica e extensão rural.
Claudinei Veiga enfatizou ainda o alto encargo de impostos, que pesam cada vez mais na produção que, no sentido contrário, não recebe o devido valor pelo que sai dos campos: “Temos que pagar muitos impostos, tem auditoria, tem carteira assinada, nota fiscal eletrônico, tudo gera muito custo e imposto. Se não houver mudanças, com todos esses encargos nas costas, uma hora não vamos mais aguentar. E, além disso, temos como concorrente alguns que sequer tiram notas, dão nota em papel de pão, aí fica fácil reduzir o preço, pois não tem custo nenhum”.

Êxodo rural
“Os velhos mais idosos estão parando, por cansaço, se aposentado, e os novos, os filhos, não estão dando mais sequência. Isso está acabando com a produção rural na Região Serrana, não é só Mottas, mas em todo canto. Entre os antigos já tem gente criando boi onde produzia cultura. É preciso ter mais suporte do governo municipal. Se os produtores pararem, como a cidade vai sobreviver? Nosso dinheiro ajuda muito na região. Assim faz um dinheirinho, o produtor vai na cidade, compra um óculos, supermercado, faz exame, compra remédio… E se ele parar no campo? Isso vai sobrecarregar mais o governo ainda, em vários pontos, inclusive na saúde”, enfatizou Júnior.
Claudenir é um dos exemplos onde a família não pretende dar continuidade aos negócios. “Tenho dois filhos. Meu filho está em Petrópolis e filha em Nova Iguaçu. Um faz Medicina e o outro Direito. Eles não quiseram seguir meus passos, vem o que eu passo, o que o avô passou, não querem esse sofrimento. Daqui a pouco vou parar a produção, não tem condições. Tudo subiu, combustível, tudo, menos nosso produto”, pontuou.

É para chorar, não rir
Quando o consumidor faz suas compras, na grande maioria das vezes não tem ideia de todo o percurso que um pé de alface percorreu até chegar ao mercado. Por isso, talvez, comemore quando o encontra sendo vendido por poucos centavos. Porém, alertam os produtores, nesses casos é preciso ter mais preocupação do que motivos para achar que está fazendo um bom negócio. “Se você encontrar um tomate, um pé de alface, sendo vendido a 30 centavos, não comemore. Pode pagar barato, mas daqui a pouco não vai ter o que comer. Está ficando inviável produzir. Tudo fica cada vez mais caro, menos o nosso produto. E precisamos pagar muitas contas. Por isso sempre digo que quando alguém pagou 30 centavos, isso significa que outro alguém está sofrendo muito, tomou muito sol e chuva para produzir, e não teve nenhum retorno. Vai chegar ao ponto que a pessoa não vai ter o que comprar para comer”, atentou o produtor Vagner Araújo de Simas, que trabalha na localidade de Vieira, no Terceiro Distrito.

O que diz o poder público
Nesta sexta-feira tentamos contato com a Emater. Porém, nenhum dos telefones ou até mesmo o e-mail da Assessoria de Comunicação parecem estar ativos. Também cobramos um posicionamento do governo municipal. Em nota, encaminhada pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura, a gestão se defende informando sobre alguns projetos que teriam sido realizados nos últimos meses: “A prefeitura informa que o governo municipal realizou algumas ações que fomentam a comercialização, entre elas: 1 – ampliação da compra de gêneros alimentícios oriundos da agricultura familiar para a merenda escolar. Outras iniciativas são ‘Espaço do Empreendedor Itinerante’ que leva todo aquele atendimento para o interior; a ‘Feira Virtual do Produtor’, plataforma gratuita, desenvolvida e disponibilizada pela Prefeitura, para aproximar os produtores dos consumidores, visando a facilitação do escoamento da produção; e o programa ‘Agricultor Legal’, que orienta os agricultores a se legarizarem junto à fazenda estadual, para emissão de nota fiscal e assim estarem aptos a fornecerem alimentos aos programas governamentais de aquisição de alimentos (PAA, PNAE) e também a empresas privadas”.
Ainda de acordo com o documento, “A gestão municipal elaborou nova legislação sobre as feiras municipais, em discussão e construção participativa com os feirantes e promove o programa ‘Agricultor Legal’, que orienta sobre a formalização do produtor rural junto à Secretaria Estadual de Fazenda, com explicações sobre a solicitação da Inscrição Estadual; procedimentos legais para a elaboração do talão de notas fiscais, com esclarecimentos sobre os documentos necessários para sua emissão; e informações sobre o preenchimento da DECLAN (Declaração Anual)”.
Sobre o questionamento em relação aos serviços de manutenção das vias, o governo alegou que “A Secretaria M. de Agricultura realiza diariamente serviços de manutenção das vias no interior do município. Entre os trabalhos, capina, roçada, reforma de pontes, colocação de bica corrida, fresa e patrolamento, troca de manilhas, operação tapa buracos, reconstrução de paralelos, limpeza de canaletas, consertos e limpeza de bueiros, melhorias na iluminação pública, entre outros serviços. Também são feitas operações para recuperação das vias após as chuvas, retirada de barreiras, lama e entulho”.

Fotos: Marcello Medeiros – O Diário de Teresópolis

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Edição 27/11/2024
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