Mochileiro – Marcello Medeiros
Quando se fala em Verruga do Frade, muita gente só lembra da pedrinha equilibrada no topo de uma montanha na Serra dos Órgãos. Mas, para justificar o nome, são necessárias outras três formações rochosas: O Capucho, o Nariz e o Queixo. Vistas na vertical, essas montanhas lembram o rosto de um homem velho, apontado à época do “batizado” como um frade. As três são acessadas por Teresópolis, sendo boa parte do trajeto feito pela conhecida e muito visitada trilha da Pedra do Sino. E, dessas, curiosamente a mais alta é a que tem acesso mais fácil – e uma vista sensacional para as vizinhas dessa cadeia e que ainda permite um olhar mais amplo para o município e a grande quantidade de cumes na direção de outra unidade de conservação ambiental, o Parque Estadual dos Três Picos. O Queixo do Frade se eleva a 1.960 metros de altitude e pode ser visitado através de caminhada, com pequenos obstáculos naturais que não requerem a utilização de equipamento segurança. E foi esse roteiro que escolhi para chegar até o ponto de onde se tem a melhor vista para a famosa verruga de rocha.
Geralmente o “ponto final do rosto do Frade” é visto apenas como passagem para quem percorre a Travessia da Neblina, trilha que tem início nas proximidades do antigo abrigo dois, passa pelo acesso do Capucho, uma escaladinha de segundo grau no paredão Roy-Roy, base do Nariz, Queixo e Pedra das Cruzes. Mas, nesse caso, como já deu para perceber, o ideal é utilizar material de escalada se fizerem parte do grupo pessoas que não sejam adeptas e experientes nesse esporte. Vindo por cima, já não é necessário. Dessa forma, o acesso é pela trilha do Sino até as proximidades do acesso ao Paredão Paraguaio, na Pedra das Cruzes, pegando à esquerda logo acima e passando pelo cume dessa montanha. Uma parada rápida e bora seguir em direção ao Queixo pela crista rochosa e coberta de vegetação e árvores de estatura mediana.
Após 3h30 de caminhada, eu estava de frente para a face onde fica a chaminé do Nariz do Frade e sua impressionante Verruga, que ficam 40 metros abaixo do cume por onde havia passado. Porém, a dica é descer um pouco após o topo, chegando ao local onde a beleza cênica deixa qualquer um “de queixo caído” – mesmo aqueles que já tenham passado por ali. Além da vista única para as principais formações do Frade, ficamos de frente para Teresópolis e as quase incontáveis montanhas do PETP, logo a seguir e na mesma direção. Pelo caminho, o Dedo de deus também é visto de ângulo bastante incomum, sem esquecer o impressionante vale entre as montanhas que percorri e a sequência seguinte: Santo Antônio, São João, Mirante do Inferno, Agulha do Diabo, São Pedro e Sino. E, entre as duas regiões, corre ainda cristalino o nosso rio Paquequer. Indo e voltando pelas Cruzes, são 16 quilômetros e altimetria acumulada de 1.046 de altimetria acumulada. Abaixo, veja um pouco mais sobre as outras as duas montanhas que compõem nosso Frade.
O Capucho
Ele é o primeiro da formação e também visto como a “testa”. Para quem já conhece a Neblina, a dica é seguir até bem próximo ao Paredão Roy-Roy, pegando a esquerda. Logo de cara, uma descida muito íngreme e vários pontos de erosão, exigindo bastante atenção. Muitas bromélias e vegetação diferente da encontrada por quem vai para o Sino, por exemplo, devido à umidade. Com cerca de quinze minutos de caminhada, fica-se embaixo do Nariz, visto de um ângulo bastante diferente e onde existem algumas vias de escaladas, entre elas o Paredão Alternativo (4º IV), de Mozart Catão e Alexandre Oliveira. Pouco mais de 20 minutos dentro da mata, até encontrar uma parede. Ali, deve-se subir pela direita até um novo plano e pegar a esquerda, chegando a um pequeno pedaço de cabo de aço. Ele é o sinal de que o cume está bem próximo, com cerca de três horas e quatro quilômetros de caminhada. Quase todo encoberto por vegetação, o ponto quase não é identificado visualmente. E, talvez por isso, seja pouco visitado. A altitude é de 1.740 metros.
O Nariz e a Verruga
Passando pelo Roy-Roy, um lance de escalada de segundo grau, o acesso leva até a base da grande chaminé do Nariz do Frade. São aproximadamente 40 metros de escalada até um confortável platô e depois se entra na fenda novamente, saindo em um buraco bem no meio do cume. A chaminé por onde se sobe atualmente, um terceiro grau, foi desbravada em 1973 por Cláudio Fontenele, Eugênio Epprecht, Jean Pierre e Marcelo Werneck. Mas o caminho da conquista foi outro, bem no fundo, utilizando-se de troncos entalados e outros artifícios para progredir chaminé acima. Os conquistadores são Miguel Inácio Jorge, Luiz Gonçalves, Arlindo Mota, Antônio Godoy, Andral Povoa, Américo de Oliveira e Alcides Carvalho, que também foram os primeiros a subir na Verruga, a “pedrinha” de 14 metros de altura. A ascensão levou dois dias. O grupo partiu dia 22 de julho de 1933, chegando ao cume às 15h do dia 24, voltando do pico na manhã seguinte.
Mesmo com a técnica aplicada atualmente, a chaminé tem trechos bem apertados e não é fácil de ser vencida. Muitos são os que desistem quando se deparam com o entalamento ou percebem que os grampos para proteção não são tão próximos. Além dessas duas vias, e o Paredão Alternativo, citado acima, na parte externa da montanha fica a Face Nordeste (A2C), também de 73, mas de autoria de José Garrido, José Roberto, Waldemar Guimarães e Waldinar dos Santos. A altitude do cume é de 1920 metros.