Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
A previsão de inundações é o próximo passo do trabalho da prefeitura do Rio de Janeiro, por meio do Centro de Operações Rio (COR), e do Instituto Pereira Passos (IPP) com a Nasa, agência espacial dos Estados Unidos. O modelo de acompanhamento, cuja intenção é antecipar ações para evitar tragédias e reduzir crises em momentos de chuvas fortes, está em desenvolvimento e poderá ser utilizado, ainda de forma preliminar, no próximo verão. Esse modelo vai completar um outro, já aplicado para o monitoramento de deslizamentos, que começou a ser utilizado em setembro do ano passado.
Segundo o geógrafo e coordenador de Informações da Cidade do IPP, Felipe Mandarino, em setembro o programa de monitoramento de deslizamentos começou a ser aplicado ainda em caráter de teste, mas desde então recebeu complemento de informações, a ponto de em uma análise das chuvas de fevereiro e de abril deste ano, ter índice de acerto de 87,7%.
“Essa taxa de acerto [87,7%] do modelo no seu primeiro verão, a gente considera um resultado muito positivo”, disse, acrescentando que com a quantidade de dados que o modelo já concentrou, neste verão a taxa deve ser superior a esse patamar.
Mandarino disse que o programa ajuda também a acompanhar a situação de riscos de deslizamentos onde não há instalação de sirenes. Segundo o geógrafo, os locais com maior número do equipamento são o maciço da Tijuca e no conjunto de favelas do Alemão.
Ele explicou que, por contar com diversos satélites, a Nasa tem um sistema capaz de medir a quantidade de chuva no mundo inteiro. E que por meio do modelo global da agência, foi possível desenvolver o aplicado no Rio de Janeiro, que inclui informações coletadas pelo COR e pelo IPP, entre elas, as obtidas pelos pluviômetros da cidade. “É uma constelação de satélites capaz de medir a chuva no mundo inteiro, e através dessa informação eles têm diversos subprodutos, e um deles é esse modelo global capaz de prever deslizamentos”, disse.
Alagamentos
Para o chefe-executivo do Centro de Operações Rio, Alexandre Cardeman, esse tipo de acompanhamento é importante para a cidade do Rio de Janeiro que, historicamente, sofre com alagamentos. “Isso [os alagamentos] não vai deixar de acontecer. Provavelmente, cada vez mais vai piorar, vamos ter mais chuvas recorrentes com maiores volumes e nada melhor do que inovar e trazer uma visão fora da caixa para suprir esses problemas. Nada melhor também, falando em tecnologia e inovação, do que a Nasa, que tem pesquisadores de alta capacidade”, completou.
Cardeman disse que a prefeitura do Rio foi uma das primeiras a assinar esse tipo de parceria com a Nasa e hoje já é referência para outras cidades do Brasil.
Os satélites que orbitam a Terra prestam importantes serviços à humanidade
O presidente do IPP, professor Mauro Osório, presidente do IPP, lembrou que o economista Celso Furtado costumava dizer que o Nordeste tinha que aprender a conviver com a seca, porque não podia mudar uma realidade da região. O mesmo, de acordo com ele, se aplica ao Rio, que tem uma situação histórica de inundações. “A ideia é de como se convive com a seca, da mesma forma, a cidade do Rio de Janeiro, que não tem como mudar essa realidade de enchentes. A ideia é como a gente convive com isso e como protege a população. Acho que esse trabalho com a Nasa vai nessa direção”.
A pesquisadora e cientista da Nasa Dalia Kirschbaum disse que para a agência, a parceria é muito significativa. E que é preciso usar dados disponíveis globalmente para atuar localmente. “As informações ajudam nas decisões de quem faz as políticas públicas”, disse.
Para o pesquisador Augusto Geritana, que trabalha na Nasa, é uma satisfação saber que está trabalhando em um projeto para prevenir enchentes, que vai melhorar as condições de vida no Rio de Janeiro. “Estou muito animado com a minha participação no projeto e espero que façamos um bom trabalho”, disse, acrescentando que ficou impressionado com a quantidade de dados de monitoramento com os quais a prefeitura conta para analisar riscos de enchentes. “O importante agora é desenvolver sistemas de previsão, de informar com antecedência o que vai acontecer”.