André Oliveira
Um grande campo. Proporcional ao tamanho da dor das famílias que perderam parentes, amigos e partes de suas vidas na fatídica madrugada de 11 de janeiro de 2011. O Campo Grande, bairro mais devastado pela enxurrada, é sem dúvida o mais esquecido pelas autoridades. Promessas que partiram de políticos fizeram jus à fama de seus autores e desceram pelas águas do mesmo córrego que virou mar na tragédia. Restaram pedras, lembranças e alguns heróis remanescentes, que alheios à exigência de abandonar o local, lá permanecem com o olhar perdido na paisagem apocalíptica. O mato tomou conta da avalanche de pedras, esqueletos de casas permanecem de pé. A sensação é de vazio.
Ao se aproximar o dia de recordar os sete anos da tragédia de 2011, ressurge a indignação que vinha da falta de entendimento sobre a fúria da natureza e que se transplantou para os homens públicos. Onde estão as obras? Onde está a remodelação? Não seria erguida uma barragem? E o tal parque pluvial? Se alguém tem respostas para esses questionamentos, certamente estão guardadas nas gavetas emboloradas pela burocracia e pela falta de ação do poder público. Se algo foi feito no Campo Grande, ninguém sabe, ninguém viu.
Obras faraônicas realizadas pelo Governo do Estado se limitaram a ordenar a calha do córrego em um pequeno trecho e urbanizar outras partes. A capelinha de São Sebastião, símbolo do sofrimento e da resiliência das famílias, ganhou pintura e uma nova praça. Outros trechos também receberam a devida maquiagem. Tantos milhões de reais para tão pouco.
Barragem na planta
A barragem de contenção, que seria construída em ponto estratégico do Campo Grande, obra alardeada em toda a cidade, ficou no papel e nas plantas dos empreiteiros. Ficaram apenas ‘marcas de nível’ nos postes e pedras.
Mas, se o Campo Grande existe e resiste, ele ainda tem personagens. A família do construtor José Carlos Lopes continua no mesmo lugar. Não houve acordo que valesse a pena sair dali. A casa, que nos dias após o caos serviu como abrigo para tantos vizinhos, segue em pé, na esperança de que um dia tudo se renove. “Vim morar aqui em 1970 com meu pai, eu tinha dez anos. Sou teimoso igual ele, Seu José Lopes. Ele passou por uma enchente aqui em 74, igual a essa, que causou muito estrago também. Só que não tinha tanta gente morando aqui, eram cinco ou seis casas e ele ficou. Herdei isso dele e também não quis ir embora. Não houve negociação com governo, queriam trocar minha casa, com espaço, por um apartamento. Eu preferi ficar aqui”, relata o morador.
José Carlos conta que a expectativa da construção da barragem seria o seu maior problema para ficar, porém a obra não saiu do papel. “O eixo da barragem viria a 20 centímetros do poste da frente da minha casa. Essa barragem nunca saiu. Conversei com pessoas da Defesa Civil e do Inea, mas nada”, relata. Segundo o morador, as lembranças daquela noite não saem mais da memória. “Parece que foi ontem que isso aconteceu. A gente lembra dos amigos que se foram naquela madrugada e dos outros que saíram daqui para morar em outros lugares. Deus sabe de tudo. Somos teimosos e estamos aqui na esperança de que isso tudo melhore, que eles terminem de canalizar o rio e até façam a barragem. Não pode é deixar isso virar a floresta que virou”, finaliza.
A expectativa de criação de um parque fluvial na região da Posse também encheu os olhos de quem vive pela região. Outra promessa mentirosa. O terreno, antes apontado como sede do parque, hoje está cercado com pouco convidativos arames farpados e uma placa de ‘propriedade particular’. O prédio fantasma que sobrevive na paisagem é um marco sobre a inundação. Da mesma forma, não houve acordo entre Estado e proprietário sobre o esqueleto do imóvel saqueado pelos aproveitadores.
Vendo de cima
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