Marcello Medeiros
Geralmente na infância aprendemos com nossos pais ou na escola que “lugar de lixo é no lixo”. Morando em Teresópolis, porém, é até difícil saber onde é o local correto para se depositar o que não tem mais utilidade, pois hoje é comum encontrar resíduos de todo o tipo – de sacolas com lixo doméstico a móveis e eletrônicos – em praticamente toda a cidade. Com o cada vez mais precário serviço prestado por empresa terceirizada pelo governo Mário Tricano, além de falta de fiscalização do próprio município e de educação de parte da população, as montanhas de sobras e restos se proliferam em praticamente todos os bairros. São muitas as reclamações feitas diariamente, ecoadas pelo jornal O DIÁRIO e DIÁRIO TV e também relatadas diretamente àqueles que são bem remunerados para realizar a gestão de tamanho problema. Nos últimos dias, porém, a impressão que se tem é que o serviço foi interrompido. Alto, Araras, Fátima, Soberbo, São Pedro, Bom Retiro, Pimentel, Barra do Imbuí, Corta Vento, Panorama, Pimenteiras, Albuquerque, Vargem Grande, Bonsucesso, Vieira, Santa Rita… Primeiro, Segundo e Terceiro Distritos sofrem com a grande desordem e temem outro problema gerado pela ausência de preocupação ambiental e social: O surgimento de doenças causadas por vetores como ratos e mosquitos, únicos beneficiados com o total descaso do governo municipal que, assim como o lixo orgânico deixado em calçadas, ruas e praças, parece estar em decomposição.
Garagem da empresa Inova Ambiental. Empresa já recebeu mais de R$ 5 milhões entre o segundo semestre de 2017 e 2018
Além de receber imagens e pedidos de socorro de diversas comunidades, nesta terça-feira circulamos por alguns bairros. Em parte da região do Alto, após aproximadamente dez dias de muitos apelos, o lixo foi recolhido. O serviço, porém, vale repetir, só aconteceu em parte dessa área. Um dos exemplos de locais onde os bem pagos caminhões da Inova Ambiental ainda não passaram é a Ilha do Caxangá, onde grande aglomerado de resíduos pode parar dentro do Paquequer caso aconteça o transbordamento do curso d´água.
Na Ilha do Caxangá, bem pertinho do Paquequer, montanha de lixo doméstico e restos de móveis
Seguindo em direção ao bairro de Santa Cecília, mais um local assustador. Na Rua Cecília Meirelles, em área conhecida como Lama Fria, também há uma grande poça de água e chorume, líquido decorrente da decomposição do material orgânico. Em praticamente todas as ruas dessa área há muitas sacolas penduradas nos portões ou encostadas em postes e entradas de servidões. E o problema segue em todos os bairros vizinhos, seguindo em direção a São Pedro.
Cansados de esperar pela Inova, nesta terça-feira moradores de Araras se cotizaram e contrataram uma caçamba para recolher a grande quantidade de lixo. A imagem encaminhada para nossa redação foi postada em nossa página no Facebook, recebendo muitos comentários. “Parabenizo os moradores, porém coloquem na porta da prefeitura”, enfatizou Sueli Mesquita. “Uma lástima o que fazem com nossa Cidade. Um lixão cultivado pelos urubus de nossa politica de usurpação de valores e de nossa qualidade de vida”, completou outro internauta, Jorge de Paula. “Isso está um absurdo, a cidade está fedendo, a empresa, uma tal de Inova Ambiental, já deve ter tirado o telefone do gancho, por que você não consegue falar. Na minha rua no Bom Retiro não passa lixeiro há duas semanas, isso é coisa que se faça com a população? Tem que lembrar de tudo isso na hora de votar!”, destacou a leitora Val Morgado.
Ainda na Beira-Rio, próximo a uma passarela que dá acesso ao bairro Beira-Linha, mais uma "comum" montanha de lixo
Vereadores prometem cobrar
A situação do lixo foi um dos assuntos em destaque na sessão desta terça-feira da Câmara Municipal. O Vereador Da Ponte disse “que o caminhão do lixo só passa pelo centro da cidade e que a Inova tem vários caminhões velhos e quebrados”, citando ainda o esforço dos funcionários, que quem chamou de “verdadeiros ‘atletas’ correndo atrás de caminhão pelas ruas, quando eles passam”. Leonardo Vasconcellos comentou que a Prefeitura tem sempre muita pressa em pagar empresa de lixo, mas que não fiscaliza o serviço prestado pela Inova. “Prefeitura tem colocado como prioridade pagar rapidamente um serviço bastante questionado pela população. Somente nos últimos 30 dias foram pagos quase R$ 1 milhão e meio”, pontuou. Mauricio Lopes informou que vai solicitar cópia de todos os processos de pagamentos do atual secretário de fazenda da Prefeitura para investigar, até o último dia do governo Tricano, os pagamentos para o lixo e também para a organização social responsável pela UPA e outros fornecedores.
Pagando duas vezs: Em Araras os moradores se cotizaram para contratar uma caçamba e fazer o serviço da Inova Ambiental
Dinheiro jogado no lixo
E não é por falta de pagamento que o serviço está tão precário. Somente em 2018, a Inova Ambiental recebeu do governo Tricano R$ 1.335.886,16, estando previstos mais R$ 818.000,00 para este ano. Em 2017, a mesma empresa embolsou aproximadamente R$ 4 milhões, enquanto a firma terceirizada anterior, a Sellix Ambiental, levou dos cofres públicos cerca de R$ 7 milhões. Só para se ter uma ideia do grande desperdício de dinheiro do contribuinte teresopolitano – levando-se em conta um serviço tão ruim e sempre questionado – com o dinheiro gasto pelo empresário do ramo hoteleiro e imobiliário em apenas 13 meses a Prefeitura de Teresópolis poderia ter investido em uma grande e moderna frota de caminhões coletores. Usando o preço médio de mercado, com esse valor já teríamos 40 veículos de carga à disposição. O número impressiona, mas é isso mesmo. Seriam 40 caminhões atendendo todo o município.
Quem mora na Quinta-Lebrão diariamente se depara com essa situação. Lixo teria sido retirado por caminhão particular nesta terça-feira
Outro fator que deve ser levado em consideração é que, diferente de Teresópolis, muitas cidades ganham dinheiro com os resíduos sólidos. O lixo pode virar energia e, no caso do material reciclável, garantir recursos para uma cooperativa de catadores, por exemplo. Tais pessoas, algumas das que hoje arriscam suas vidas no lixão do Fischer, teriam uma fonte de renda e consequentemente comprariam no comércio local. Mas, enquanto não houver um gestor que se preocupe com o futuro do município, e sim em ver seus haras, hotéis e outros imóveis prosperarem, continuaremos vendo nosso suado dinheiro sendo jogado no lixo.
Na Rua Cecília Meirelles, os "vetores de doenças fazem a festa". Lixo, água parada e chorume empesteiam o lugar
Rua Beira-Rio, entre Araras e Beira-Linha, onde moradores prejudicam ainda mais o município. Lixão clandestino é cada vez maior
Até os restos de uma carroceria de caminhão foram deixados na Beira-Rio, exemplo de falta de educação e também fiscalização ambiental
Cachorro revira o lixo no bairro do Parque São Luiz. Local é utilizado por moradores de um condomínio e outros residentes na região