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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Teresópolis: Duas chuvas fortes, em 2023, duas enchentes, em 1929

Wanderley Peres

Procurando alguma coisa no acervo, sempre encontro outra que me distrai a atenção. Desta vez, queria saber sobre a construção de uma ponte e encontrei a data da queda de um pontilhão, informações pertinentes porque tratam do mesmo trecho de rio, cortado por uma passarela para pedestres que ligava as avenidas Lúcio Meira e Delfim Moreira, antes mesmo da abertura da rua Duque de Caxias, nos primeiros anos de 1930, aproximando os passageiros que chegavam à Estação da Várzea dos hotéis que ficavam “do outro lado do rio”.

A ponte que interessa não existe mais. É aquela em arcos, e que havia conseguido registro inédito dela, e pretendia compartilhar, daí o interesse pela rápida pesquisa. Feita pelo prefeito Major Paulo Torres, sua inauguração ocorreu em 23 de agosto de 1936, com a presença do governador do Estado, Protógenes Guimarães, em visita à cidade para a posse do prefeito eleito Olegário Bernardes. E no texto de jornal onde aprendi sobre a construção, falava de uma ponte antiga, que “havia caído alguns anos atrás”.

A ponte em arcos, “obra de arte” que o governador do Estado inaugurou em 23 de agosto de 1936

Alguns anos… Custava o exercício da memória para o registro do tempo em que a ponte antiga havia caído? Não lembrasse, era só o jornalista sair à calçada da redação do jornal e perguntar a alguém. Num tempo em que as novidades eram raras, uma notícia como essa durava anos nas mentes das pessoas.

A ponte em arcos, obra de arte com 12 metros de largura e 13m80cm de comprimento em vão livre, como descobri numa fotografia deixada pelo engenheiro e ex-prefeito Waldemar de Assis Ribeiro, custou ao estado Rs 34 contos, pagando a prefeitura 750 mil réis pelo pó de pedra. Responsável pela construção quando atuava como diretor técnico da prefeitura, no governo do prefeito Paulo Torres, o ex-prefeito foi reconduzido ao cargo mais uma vez, também por nomeação, entre junho de 1939 e julho de 1941, justamente por sua boa atuação no governo Paulo Torres.

O pontilhão, “que havia caído alguns anos atrás”, descobri ter sido a queda em 11 de março, de 1929, quando ocorreu uma grande enchente em Teresópolis, “felizmente menor que a anterior, fazendo desmoronar o pontilhão do rio Paquequer” informa o jornal Correio da Manhã, ficando ainda prejudicado o tráfego da Estrada de Ferro Therezopolis”, diz o jornal carioca em nota de poucas linhas.

A ponte da rua Duque de Caxias, que o governo do Estado substituiu no final dos anos 1970, vista da Francisco Sá

Então, foram duas enchentes em 1929. A que derrubou a ponte ocorreu no dia 11 e uma outra… Voltando aos jornais, achamos o relato dessa outra “grande” enchente, ocorrida, então, no primeiro dia do mesmo mês.

“Nas primeiras horas da noite de 1.o de março, Teresópolis foi presa de forte temporal que teve como consequência uma grande cheia do Paquequer, cujas águas inundaram diversos pontos da cidade. O aspecto, principalmente das ruas mais atingidas pelas águas, era sobremaneira alarmante, em face do êxodo das pessoas acossadas pela torrente invasora, e que tiveram as suas casas inundadas por uma caudal barrenta e bem volumosa”, relata o jornal O Therezópolis.

Além destas duas enchentes ocorridas em 1929, duas no mesmo mês, a imprensa dá conta de uma outra no tempo antigo só em 1873, no século anterior àquele, o já distante dezenove. E, se o Correio fala pouco da enchente que derrubou a ponte, o Therezopolis floreia bem a matéria da enchente que ocorreu dez dias depois na várzea, onde as cheias transbordavam sobre os fundos de quintais, espraiando livre o rio pelas margens quando não era ainda cercado por muros de concreto e pilastras de prédios.

“De toda aquela aflitiva que dava mais a ideia de um dilúvio em miniautura, ressaltava um episódio de grande alcance moral. É que ao lado do zelo e da ação pronta das autoridades municipais e policiais, cooperava o auxílio espontâneo de inúmeras pessoas que abnegadamente se empenhavam no socorro aos assediados, removendo-os, aos próprios ombros, para lugar seguro, enquanto que o nosso comércio em louvável atitude, distribuía, aos socorredores vinhos e demais estimulantes. Assim, da boa vontade com que cada um procurava concorrer com o seu contingente a bem da coletividade, deixou mais que patente o alto grau de solidariedade que reina entre os membros da família teresopolitana”, relata o jornal, lembrando que “enquanto houve pessoas a socorrer, caminhões, automóveis, carroças particulares ou pertencentes à municipalidade, até mesmo um barquinho, não cessaram de trafegar aos pontos inundados”. E, uma vez tudo já se achava integrado na sua normalidade costumeira, “os teresopolitanos poderão agora prosseguir nas suas labutas quotidianas e mais que nunca, confiar no ânimo prestadio e nos bons sentimentos que animam toda esta laboriosa população”.

Pouco habitado o município, com menos de 20 mil habitantes ainda, 17.930 pessoas na cidade e no interior, segundo números do Censo do IBGE em 1920, as assustadoras enchentes de 1920 não tiveram grandes consequências. “Não se registrou nenhuma vítima pessoal e os prejuízos materiais foram de pequena monta. Tivemos, na verdade, uma pequena interrupção no tráfego ferroviário em virtude da queda de algumas barreiras, e quanto à falta de luz, foi mais que justificável, pois como ninguém ignora, a nossa Usina ficou completamente inundada com água na altura de um metro, o que veio de prejudicar seriamente os maquinismos”, informou O Therezópolis.

Quando foi construído esse pontilhão, que caiu em 11 de março de 1929, um dia, quando estiver procurando outra coisa, também descubro. E, depois de guardar a informação na pasta adequada do acervo Pró-Memória, volto ao texto, até porque vale contar mais sobre essa rua que hoje se chama Duque de Caxias e teve outros três nomes antes: “Itália”, “Marquês de Caxias” e “10 de Novembro”.

Edição 04/05/2024
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