O Rio de Janeiro é o segundo maior mercado consumidor de produtos agrícolas no Brasil. Só no último ano, movimentou mais de R$ 563 milhões, segundo a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB/Sescoop). No entanto, para o superintendente da OCB/Sescoop, Abdul Nasser, o estado perde espaço no setor por não fomentar o cooperativismo. Os dados foram apresentados durante o painel do Fórum de Desenvolvimento Estratégico da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), em conjunto com a Câmara Setorial do Agronegócio, realizado on-line, nesta quarta-feira, 16. “É dificílimo obter crédito no estado do Rio e não há como se estabelecer nesse setor sem crédito e sem cooperativismo. Precisamos do apoio do setor público para crescermos", afirmou Nasser. Ele também destacou que a atividade que mais gerou lucro no país em 2020 foi o Agronegócio. “O Rio tem um alto potencial nesse setor, não podemos nos fechar apenas no petróleo”, argumentou.
Para o diretor-geral do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Leste Fluminense (Conleste), João Leal, outro ponto que precisa melhorar é a conectividade digital. “Mais de 14 mil famílias trabalham nessa cadeia produtiva no Rio e, com a chegada da pandemia, elas precisaram se reinventar. O que era previsto para acontecer em anos foi necessário mudar em meses, e o estado precisa dar suporte para esse trabalhador do campo, que não tem acesso fácil a internet”, alegou Leal. O lado positivo da pandemia, segundo Abdul Nasser, foi o surgimento de novos formatos de trabalho que usam a internet ao seu favor. “Temos o exemplo de da cooperativa Coopvieira, que se juntou com outras cinco empresas para criar um aplicativo de venda por assinatura dos produtos. Um Netflix da horta. Tínhamos um desafio para introduzir o digital nessa área e com a pandemia isso teve que ser obrigatório”, afirmou. A Coopvieira é de Teresópolis.
Mas nem todos os trabalhadores conseguiram se reinventar a tempo. Segundo a União das Associações e Cooperativas de Pequenos Produtores Rurais do Estado do Rio de Janeiro (Unacoop), mais de 750 toneladas de caqui foram perdidas na pandemia. Outras safras que tiveram prejuízo com a Covid-19 foram a de alface e tangerina. “Era difícil negociar com os supermercados e os restaurantes estavam fechados, perdemos muito com isso. Muitos quilombolas e agricultores perderam sua plantação e saíram da associação, que hoje conta com mais de 598 agricultores. Precisamos muito da ajuda dos órgãos públicos para essa retomada ainda maior na área digital. Sem o cooperativismo também não vamos avançar nesse setor”, relatou a gerente-geral da Unacoop, Margarete Teixeira.
Programa Terra Nossa
A analista do Sebrae/RJ Raquel Mattos Stumm apresentou o programa Terra Nossa, dedicado à cadeia de produção de alimentos e bebidas, e fez uma exposição das ações de incentivo e valorização da produção local. “Começamos como um elo entre os produtores e as pequenas indústrias de alimentos. Conseguimos criar uma grande rodada de negócios e tivemos mais de 100 produtores inscritos no programa. Isso mostra o quanto eles carecem de informação na parte de gestão e capacitação” pontuou Stumm.
João Leal também destacou que é preciso melhorar as estradas vicinais, e que o Conleste está trabalhando nisso. “Pela primeira vez conseguimos emendas que garantam recursos federais para o programa Fortalece Bio. Dentro desse projeto, criamos o Agromóvel para fortalecer esse serviço no campo. Queremos matar a fome e potencializar a agricultura familiar”, explicou. Para a secretária-geral do Fórum Alerj, Geiza Rocha, a reunião foi muito produtiva. “Verificamos o quanto a gente precisa fortalecer esse setor. O que queremos ao longo desse processo é fortalecer ações e ampliar o diálogo entre os produtores e as associações que ajudam nesse processo”, concluiu.