A sucessão de problemas na saúde pública de Teresópolis continua gerando a indignação de famílias que se desesperam com as dificuldades encontradas para conseguir um atendimento digno. Desta vez, uma senhora de 72 anos que teve o estado de saúde agravado na UPA enquanto esperava a transferência para um hospital foi a obto por falta de leitos na rede, apesar do painel Covid apresentar possíveis vagas existentes. A longa espera pelo leito em hospital local pela família e o risco da transferência do parente para cidades vizinhas revoltou familiares e amigos que protestaram e levaram o assunto às redes sociais na tarde desta terça-feira, 13, situação que piorou com o anúncio da morte da paciente, em leito da UPA, que deveria a porta de entrada para os hospitais, e não de saída para o cemitério.
A falta de leitos nos hospitais e de transparência no painel Covid, da Prefeitura, representam bem o quadro de desinformação quando às vagas em Teresópolis e sobre o critério de ocupação que faz tanto as pessoas demorarem a conseguir uma transferência, aguardando às vezes dias, como também porque levar para o município de Volta Redonda, onde a prefeitura optou por construir hospital na cidade para o atendimento a doença, passando a atender municípios que não se prepararam para a pandemia. O problema é que nem para dar satisfação quando a transferência exigida pelos familiares a Prefeitura se pronunciou. Nem mesmo para explicar porque não utilizar uma vaga no particular, já que foi anunciado pelo governo que poderia ocorrer esse remanejamento caso fosse necessário.
A jornalista Lisemara Guedes, que acompanhou o caso, publicou em suas redes sociais um resumo deste caso e a postagem teve grande repercussão, com muitas pessoas criticando o absurdo da situação de uma paciente não ter respeitado direito de se tratar em sua própria cidade e ter que encarar uma viagem até o município do sul do estado em uma situação crítica. A conclusão para ela não pode ser outra: se precisa transferir é porque essas vagas Covid não existem e se não há vaga, utilizem leitos privados.
“Não tem leito UTI Covid em Teresópolis. Diretor da UPA disse ao filho da dona Glória que conseguiram vaga em Volta Redonda. Em princípio, a família não concorda com a transferência. Pede que a prefeitura transfira para UTI Covid particular até liberar leito SUS. Apoiado”, diz a publicação no Facebook.
Após ser levada na madrugada de segunda-feira para a UPA, Maria da Glória, conhecida como Dona Mariquinha, teve uma piora em seu quadro e foi intubada, com 75% do pulmão comprometido e aguardando vaga para ser transferida para UTI de um dos hospitais filantrópicos de Teresópolis, contratados pela prefeitura para atender pacientes com a doença.
Lisemara destacou em sua publicação justamente o questionamento sobre as informações divulgadas pela prefeitura que são, no mínimo, conflitantes: “A questão é: no boletim divulgado ontem à noite, a prefeitura informou ter 29 leitos UTI ocupados e dois livres. Suponho que este quadro tenha mudado rapidamente. Os 31 leitos UTI exclusivos para a doença devem ter sido 100% ocupados ontem mesmo depois do boletim, já que a dona Maria da Glória, apesar da gravidade do quadro, continua na UPA. Se tivesse leito livre de UTI ela já teria sido transferida. Inclusive, ela não é a única que aguarda transferência para o hospital. Vamos repetir mil vezes: UPA NÃO É HOSPITAL! E nem tem estrutura para tratar Covid”.
Maycon Ramos, filho de Maria da Glória, quando a mãe ainda estava viva, expressou sua indignação com a falta de transferência para um dos leitos que a prefeitura anuncia como livres: “E aí sr. Prefeito, cadê as vagas de UTI Covid? Como o sr. e o seu vice prefeito dizem que a saúde está uma maravilha? Para quem mesmo? Porque para a população que precisa não é. Me lembrei que o sr. não vai poder me responder, pois está em campanha, mas tenha decência e peça para a sua assessoria fazer um esclarecimento à população. Vergonhoso”, afirma.
Quadro grave
A paciente deu entrada na UPA lúcida e conversando, mas com o passar do tempo, enquanto ficava "internada na Upa", a situação foi se agravando e na noite desta terça-feira a informação que se tinha era de que os batimentos cardíacos estavam muito baixos. O pedido para autorizar que a paciente fosse levada para Volta Redonda foi feito no início da tarde desta terça-feira, o que não foi aceito. Já no início da noite ligaram para o filho retornar À UPA porque o quadro da paciente piorou, chegando 22 batimentos por minuto. Por volta das 22h, o pior ocorreu, dona Mariquinha morreu.
Pressão para aceitar transferência para Voltar Redonda
Sem dar explicação do motivo para que leitos dados como livres não sejam utilizados, a direção da UPA recomendou ao filho aceitar que a mãe fosse levada para Volta Redonda. “Se fosse minha mãe, eu aceitaria que fosse transferida para Volta Redonda”, teria dito o diretor da unidade. Teriam pedido aos familiares, ainda, que assinassem um termo sobre a negativa de autorização para transferência a Volta Redonda, porém após o filho cobrar a observação de que a prefeitura anunciava duas vagas livres em Teresópolis, eles teriam recuado e desistiram da assinatura no documento, exigindo a ocupação destas supostas vagas livres.
Prefeitura não responde
Diante desta situação, a reportagem do DIÁRIO entrou em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura para pedir explicações do motivo de não se poder utilizar um dos leitos de UTI que eram anunciadas como livres, porém não obtivemos resposta.