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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Teresópolis: “Transbordo do lixo na justiça e usina de lixo em 24 meses”

Em Nota, prefeitura explica o incêndio, faz balanço, divulga ações e promete solução
  • Em Nota, prefeitura explica o incêndio, faz balanço, divulga ações e promete solução
  • PRF começou ação por conta do incêndio às 4 horas da manhã e monitorou a estrada BR 116
  • Eco Rio-Minas manteve o fluxo de veículos sem interdições e não registrou acidentes
  • Dado como extinto, fogo no Lixão persiste e persiste o risco de nova contaminação

Wanderley Peres

Teresópolis amanheceu ontem parecendo uma cidade inglesa. Mas o mau cheiro e ardência, dos olhos e narizes, denunciaram que o ruço do ar não era o fog londrino, mas o lixão do Fischer que pegou fogo mais uma vez. Logo, começaram a circular fotografias e vídeos, de todo o canto da cidade, e até no interior. Com o ar parado pelo pouco vento, típico da estação, foi acumulando a fumaça e o ambiente ficou insuportável, se obrigando os moradores a fecharem as janelas e não usarem o ar condicionado. Pessoas passando mal e buscando assistência médica. Escolas sem aulas e pais sendo chamados para buscar os alunos, o ônibus atrasou em várias linhas. Próximo do Lixão, o Detran não funcionou e comércios da cidade abriram mais tarde ou deram folga aos funcionários por falta de ambiente com ar saudável para atender o público. Passada a pandemia, quando as gotículas do ar traziam a morte, independentemente, com CPF de números par ou ímpar, as pessoas voltaram ao uso das máscaras para poderem circular pelas ruas na manhã desta segunda-feira, 26 de janeiro, quando a negligência das autoridades municipais impôs grande risco à saúde pública da população.

Afirmando estar resolvendo o problema no “aterro sanitário do Fischer”, o Lixão, por volta das 12h desta segunda-feira, 26, a Prefeitura deu por controlada a situação, anunciando em Nota que serão feitas investigações “para apurar as causas e os responsáveis”. Lembrando que a atual gestão municipal assumiu, em julho de 2018, quando o aterro sanitário já havia sido interditado pelo Instituto Estadual do Ambiente e desde então vem operando sob liminar judicial, a Nota da Prefeitura informa sobre dois procedimentos em andamento para resolver a questão do suposto aterro sanitário: a construção de uma usina de lixo e o transbordo dos detritos para um aterro sanitário licenciado, as duas soluções dependendo de terceiros: a Justiça e o Estado.

“A Prefeitura busca um acordo com a Justiça e o Governo do Estado para que o transbordo seja realizado. Isso ocorre porque o município não tem condições de arcar, com recursos próprios, com o custo anual de quase R$ 20 milhões do serviço de transbordo. A próxima audiência está prevista para o dia 20 de julho, quando a justiça deverá decidir definindo as responsabilidades de ambas as partes. Paralelamente, o Município concluiu um Procedimento de Manifestação de Interesse, com o objetivo de realizar a remediação do Aterro Sanitário, no qual cinco empresas apresentaram propostas de diferentes escopos, sendo declarada vencedora a proposta de construção de uma usina de processamento do lixo coletado no Município, bem como do material alocado no aterro, agregando ainda geração energética neste processo. Com isso, além de resolver a questão da destinação dos resíduos sólidos no Município e remediar o atual Aterro, a Prefeitura obterá descontos nas contas de luz dos prédios públicos municipais”, diz o governo, que tem expectativa de que “a Usina inicie seus trabalhos num prazo entre 18 e 24 meses, encerrando definitivamente as atividades no aterro sanitário”.

BALANÇO DA PMT

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, pela manhã, três pessoas deram entrada na UPA 24 Horas e uma no Serviço de Pronto Atendimento Dr. Eitel Abdallah, no bairro de São Pedro, com quadro de tosse seca leve. Elas fizeram nebulização e foram liberadas. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, no período da manhã, as aulas foram suspensas em 35 escolas e 18 creches da rede municipal de ensino. Apesar da “situação controlada” no Lixão, ainda segundo a Prefeitura, à tarde, 17 escolas e 05 creches encontraram-se fechadas devido à fumaça, com previsão de que as aulas sigam em seus horários normais nesta terça-feira, 27. Por conta do risco à saúde que correm, por estarem próximo ao Lixão, como medida preventiva, a Coordenadoria de Proteção e Bem-estar Animal (COPBEA)/Controle de Zoonozes, da Secretaria Municipal de Saúde, “transferiu para abrigo temporário alguns animais mais sensíveis, abrigados no canil municipal próximo ao aterro sanitário”, informando ainda que “todos os animais passam bem e não houve nenhum óbito e eles estão sendo cuidados com carinho”.

PRF

A Polícia Rodoviária Federal se mobilizou, mas atuou somente no monitoramento da segurança viária. Questionada sobre as ações realizadas durante o evento a PRF emitiu a seguinte nota: “A PRF foi acionada por volta das 4h da manhã para verificar o incêndio e as condições da via, principalmente pela reduzida velocidade dos veículos entre os quilômetros 77 ao 87. Foi verificado o incêndio e iniciada a sinalização no trecho junto com a concessionária. Não há relato de acidentes no local”, informou a PRF.

ECO RIO-MINAS

A concessionária que administra a rodovia BR-116, trecho Rio-Minas, a Eco Rio-Minas, informou que não foi necessário a interdição da rodovia mesmo diante da baixa visibilidade pois o tráfego de veículos não estava intenso. Informou ainda que prestou todo o apoio necessário ao Corpo de Bombeiros e Defesa Civil e que pôs toda a equipe de prontidão em pontos estratégicos, para acionamento, caso houvesse necessidade de interromper a circulação de veículos no trecho atingido.

FOGO CONTINUA

Clarões em diversos pontos do lixão do Fischer denunciaram à noite que o fogo não acabou e o risco de novo incêndio de grandes proporções, como os ocorridos também em 1 de janeiro de 2021 e em 18 de agosto de 2022. Cheio de bolsões de gás gerados pela decomposição da matéria orgânica vazada sem o mínimo critério, gás de efeito estufa que emite 80 vezes mais do que o CO2, o gás metano preso na montanha de lixo é uma bomba prestes a explodir e até o controle dos focos de incêndio agora precisam ser feitos com maior cuidado.

Minc acusa má gestão da prefeitura, que transformou aterro em lixão

“Prefeitura de Teresópolis incompetente. Não geriu os resíduos sólidos nem captou metano, e criaram um novo lixão, verdadeiro crime ambiental”, escreveu nas redes sociais na tarde desta segunda-feira, 26, o deputado estadual Carlos Minc. Em 2009, enquanto secretário de Meio Ambiente, o ex-ministro encerrou o lixão do Fischer, licenciando o aterro sanitário que se perdeu pela má gestão. “Em 2009, encerramos o antigo lixão de Teresópolis, inaugurando um aterro sanitário. Em 2013, alertei que a má gestão do aterro o converteria num lixão em pouco tempo.

A questão social com catadores sempre foi precária também e as advertências foram várias”, disse, lembrando que o incêndio de agora foi ocasionado pelo gás metano, gerado pela decomposição de matéria orgânica, que não foi captado. Gás de efeito estufa que emite 80 vezes mais do que o CO2.

Captado, filtrado, teria virado biogás: energia renovável da biomassa, neutro em carbono.

Acompanhado de vereadores e do presidente da Comissão de Meio Ambiente, Fidel Faria, o presidente da Câmara Municipal, Leonardo Vasconcelos esteve no lixão do Fischer por volta das 9h

“Comissão de Meio Ambiente vai fazer relatório”

Por volta das 14h desta segunda-feira, mesmo tendo dissipado bastante a fumaça que tomava conta da cidade desde o raiar deste dia 26 – quando se repete lamentável crime ambiental ocorrido já duas outras vezes nos três últimos anos: em 1 de janeiro de 2021 e 18 de agosto de 2022, quando também colocaram fogo no lixão do Fischer, de forma criminosa – o mau cheiro ainda persistia nos bairros mais próximos do lixão, entre eles Ermitage e Tijuca e Vale Paraíso. Em algumas casas e apartamentos, as pessoas estão tendo que procurar ar puro no quintal pela renitente poluição que não termina.

Acompanhado de vereadores e do presidente da Comissão de Meio Ambiente, Fidel Faria, o presidente da Câmara Municipal, Leonardo Vasconcelos esteve no lixão do Fischer por volta das 9h, quando presenciaram a ação de servidores da secretaria de Meio Ambiente e de Serviços Públicos, e também funcionários da companhia de água, Cedae, que priorizou o incêndio, colocando seus caminhões pipa para o serviço.

“Estamos desde o primeiro horário da manhã acompanhando o trabalho da secretaria de meio ambiente, dos bombeiros, e da Cedae e Defesa Civil, presenciando o devido cuidado do uso das máscaras individuais, para o combate ao incêndio, que nesse momento está sendo combatido ainda com vigor, embora em fase de ser controlado”, disse. O presidente da Câmara informou, ainda, que a comissão de Meio Ambiente vai apresentar relatório sobre o desastre ambiental.

A solução numa selfie

Por volta das 10h, o prefeito fez postagem, dizendo que estava a caminho do Fischer, onde chegou depois das 11h, “para acompanhar pessoalmente a operação das secretarias municipais e órgãos estaduais no aterro” onde o fogo já estava sob controle. O incêndio teria sido comunicado aos bombeiros às 5h08min e desde as 5h20min os bombeiros estariam no local, chegando em seguida os demais servidores que deram suporte ao trabalho de contenção das chamas. A O DIÁRIO, no entanto, chegaram informações que as chamas começaram bem antes, ainda no início da madrugada. Uma leitora do DIÁRIO mandou print do celular, onde prova que teria alertado sobre o incêndio aos bombeiros às 3h34min, depois de três ligações não completadas.

“Estou aqui no aterro sanitário do Fischer, acompanhando de perto as operações de contenção do incêndio… Mandei investigar a causa desse incêndio, porque é um incêndio criminoso, e nós não podemos mais viver com uma condição dessa em Teresópolis”, afirmou, agradecendo o pessoal das secretarias de Meio Ambiente e de Serviços Públicos, inclusive a Cedae, “que prontamente nos forneceu água para conter o incêndio, e estamos nesse momento fazendo vias de acesso ao incêndio, para diminuir o fogo nas camadas do lixo”, continuou, informando que, possivelmente, “um incêndio que pegou a floresta que margeia o Fischer acabou trazendo esse fogo para o aterro sanitário”, como prefere chamar o vergonhoso lixão. “A cidade amanheceu com uma forte intensidade de fumaça e um cheiro pesado no ar, e sabíamos ali que, com o início do sol e a elevação da temperatura essa fumaça iria se dissipar, é o que aconteceu e estamos aqui agora, garantindo a contenção desse incêndio, para que a vida da cidade possa voltar a sua normalidade”, concluiu.

Edição 23/11/2024
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