Luiz Bandeira
Há uma demanda crescente no mundo todo por profissionais de tecnologia da informação como programadores, analistas, administradores de sistema, arquiteto de redes, enfim, uma gama de novas competências que transitam no ambiente digital. Enquanto estes profissionais trabalham pela segurança dos nossos dados e por nossa comodidade no trânsito de informações pessoais, os crimes de estelionato vêm crescendo na mesma proporção, e não é de hoje. Os crimes de engenharia social são tão ou até mais comuns do que qualquer outro, envolvem 60% dos ataques cibernéticos e têm crescido durante a pandemia. Os cybers criminosos atualmente demonstram estarem bem à vontade para “garimpar” nesse ambiente virtual informações sigilosas com a intenção de tirar proveito enganando internautas, sobretudo os mais descuidados, realizando, entre outros crimes, o “sequestro” de redes sociais. Somente na última semana, dois teresopolitanos que têm grande volume de seguidores foi atacado pelos bandidos.
Alana Andrade é uma influenciadora digital com foco em moda que teve contas do Instagram e WhatsApp “sequestradas”. O criminoso entrou em contato com ela e tentou negociar o pagamento de resgate das contas, oferta que a jovem não aceitou. Nesta segunda-feira ela relatou a equipe do Diário o que tem passado pra recuperar suas redes sociais. A irmã de Alana foi quem identificou uma postagem estranha em um dos seus perfis. “Por sorte não estava sozinha, estava com a minha irmã, porque só depois de algum tempo que eu fui notar que meu celular não tinha sinal, tinha sido cortado e aí ela pela rede social dela percebeu uma publicação atípica e ela perguntou se tinha sido eu porque era uma foto de um produto que eu tenho que era um celular e eu falei que não. Aí a gente já identificou que alguma coisa estava errada e ai que começou tudo”, conta Alana
Ela relata ainda que temeu ter que começar do zero o que conquistou em dez anos de redes sociais. “Literalmente é minha principal porta de trabalho, porque além de trabalho como influenciadora eu faço o trabalho de mídia social para algumas marcas, dependo de cada seguidor que está lá e também a minha marca de roupa é virtual, então assim ali é minha janela, minha vitrine. Então, assim eu pensei que aí ter que começar tudo do zero, eu fiquei desesperada porque são 10 anos de trabalho em rede social, então seria um prejuízo gigantesco, literalmente teria que começar do zero se tivesse perdido tudo”.
Contas hackeadas geralmente são utilizadas para o comércio de produtos com preço muito abaixo do mercado – mais uma vertente do golpe
Luta para recuperar
A digital Influencer vem enfrentando uma verdadeira saga para conseguir reverter os estragos causados pelos golpistas. “Estou conseguindo recuperar aos poucos, não foi fácil, primeiro eu fui atrás de recuperar meu número, acabei perdendo hoje, 31, de novo, eu tenho que resolver ainda tudo isso e aí com muito custo de recuperar o número mais um dia inteiro pra recuperar as redes sociais. No sábado à noite eu consegui recuperar duas contas no Instagram e ontem, 30, eu consegui recuperar mais uma. Isso tudo foi na sexta-feira, 28, só que ainda assim no domingo eles continuavam postando com se nada tivesse acontecido e tentando conseguir mais vítimas pra poder cair no golpe dos falsos anúncios”, explica Alana, que viu suas contas hackeadas sendo utilizadas para o comércio de produtos com preço muito abaixo do mercado – mais uma vertente do golpe.
No caso da jovem digital influencer, o golpe teve origem na sua operadora de telefonia, diferente de outros casos, quando um malware é instalado no aparelho da vítima após ela clicar em um link. “Foi completamente diferente, eles pegaram primeiramente as contas de Instagram e aí enquanto eu estava com o WhatsApp uma amiga me perguntou. ‘Alana você clicou em algum link?’ Eu falei, não cliquei em nada. Alguém de dentro da operadora de telefonia fez uma alteração de chip, como se fosse o meu nome e inutilizou o meu chip celular, então eu fiquei completamente incomunicável. Pra quem sabe a maioria das contas, até o WhatsApp, quando a gente vai se cadastrar eles mandam um SMS com um código pra você entrar no aplicativo, Instagram também faz isso pra recuperar senha. As pessoas estavam prestes a cair no golpe, tentavam me ligar e não conseguiam, só conseguiam falar com eles pelo Whats e eles literalmente fingiam que era eu, falavam que nada estava acontecendo, que era eu mesmo que estava vendendo os produtos e foi assim esse desespero. Um alerta pra todo mundo, nunca confie em mensagem digitada, peça um áudio, um vídeo, alguma outra coisa que comprove quem é a pessoas com quem você está falando”, pontuou Alana.
Cacau atacado
Recentemente o repórter José Carlos “Cacau” também teve o seu perfil no Instagram sequestrado. Nosso companheiro de profissão foi mais uma vítima entre milhares de usuários desta rede social, que caiu no golpe chamado phishing, que funciona assim: Criminosos criam perfis falsos de hotéis e restaurantes populares no Instagram e abordam os usuários por mensagem direta (direct), oferecendo promoções. Para ganhar os prêmios, porém, é preciso fornecer o número do celular e clicar em determinado link, que é usado pelos golpistas para capturar as credenciais da página. Quando a vítima se dá conta da fraude, já não tem mais acesso ao perfil. Por fim os hackers, quando passam a controlar o perfil daquele usuário, anunciam todo tipo de produto à venda com preços abaixo dos praticados no mercado e que evidentemente não existem. Assim, a partir do interesse daqueles que pensam falar com o titular da conta, os criminosos acabam ludibriando seguidores, parentes e amigos, que tornam-se vítimas dos golpistas.
Nota do Instagram
Procurado pelo site especializado em tecnologia digital, techtudo.com.br , o Instagram afirmou que seus mecanismos de segurança são confiáveis, mas que a proteção dos dados do usuário também depende dele. “O Instagram faz uso de sistemas sofisticados para detectar e impedir a ação de indivíduos mal intencionados antes que eles obtenham acesso a contas e disponibiliza recursos de segurança para ajudar a proteger os usuários, como 'autenticação de dois fatores' e 'atividade de login', além de diferentes caminhos para a recuperação de contas, que podem ser encontrados na Central de Ajuda. Recomendamos ainda que as pessoas desconfiem de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por um valor abaixo do preço de mercado e pedimos que denunciem através do aplicativo publicações e contas que considerarem suspeitas”, afirma a nota do Instagram.
Como se proteger
O golpe é bem elaborado e, segundo as vítimas, o que mais engana é o fato de os produtos serem anunciados no perfil de uma pessoa próxima e confiável. No entanto, o modus operandi dos criminosos é semelhante, de forma que é possível escapar da fraude seguindo recomendações simples e atentando para alguns detalhes. Para Fábio Assolini, analista de segurança sênior da Kaspersky, antes de concluir qualquer transação, é importante confirmar a autenticidade da história com o dono da conta por meio de um canal não acessível ao golpista. Vale enviar uma mensagem via WhatsApp ou fazer uma ligação telefônica, por exemplo. Outra recomendação é observar os dados da chave Pix informada pelo criminoso. Segundo Assolini, o envio de uma chave registrada em nome de terceiros é um dos indícios mais fortes de que se trata de um golpe.