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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Transpirenaica, hora de começar a subir montanhas e “enfrentar o desconhecido”

Primeiras etapas da Travessia dos Pirineus são extremamente duras e atravessam lugares inóspitos

MOCHILEIRO – MARCELLO MEDEIROS

Em toda cicloviagem o primeiro dia é sempre muito difícil. É preciso diluir a ansiedade logo nos primeiros quilômetros para que ela não atrapalhe os que virão depois. E, em uma “aventura” como a Transpirenaica, não poderia ser diferente. Assim que comecei a deixar Llançá para trás, a característica principal dessa rota começou a sobressair. Cinco quilômetros morro acima, o Mar Mediterrâneo foi ficando cada vez mais distante e entrou em cena a certeza que seriam longos dias subindo e descendo montanhas. Na primeira etapa percorri 72 quilômetros, com 1.627 metros de altimetria acumulada, até Albanya. Talvez pelo cansaço, ampliado pela ansiedade do início desse sonhado projeto, acabou parecendo mais difícil do que realmente foi. E também mais bonito que imaginava. Essa “largada” resume bem o que é a Transpirenaica: beleza e aspereza o tempo todo. No total, a cicloviagem terminou com 31.137 metros de altimetria acumulada e quase a mesma quantidade descida, o que indica o verdadeiro “sobe e desce” dessa jornada, somados a outras dificuldades que se encontra pelo caminho.

Uma parada para descansar e curtir o visual do Parque del Massis del Pedraforca

Empurrar é uma realidade
Quando me propus a atravessar os Pirineus sabia que seria difícil. Mas, na prática, constatei que é mais duro do que se consegue apurar nas pesquisas. Isso porque, até aproximadamente metade da travessia, o caminho marcado tem trechos muito íngremes e recheados de pedras soltas, resultado do processo de congelamento e descongelamento durante e posterior ao rigoroso inverno europeu. Nessas condições, pedalar uma bicicleta carregada é bastante complicado. Inclusive para baixo, vale frisar. Precisei empurrar minha companheira de viagem muito mais do que imaginei do que faria. Se fosse somente a inclinação, como ocorre do meio em diante, basta “colocar na vovozinha”, a marcha mais leve, e seguir “devagar em sempre”. Mas, nesses pontos pedregosos ou ainda fechados pela floresta, é mais prudente empurrar para evitar riscos de acidentes ou danos ao equipamento.

Chegando na pequena cidade de Llavorsi, após 50 quilômetros sem encontrar ninguém pelo caminho…

Topo de montanha
Um dos exemplos que talvez tenha se perdido o traçado original da Transpirenaica, pensado mais de duas décadas atrás, é o que fica entre Aguiró e El Pont de Suert. Cerca de oito quilômetros depois de La Torre de Capdela a estrada dá lugar a uma trilha de montanha. Começa a ficar muito íngreme, aumenta consideravelmente o número de pedras grandes e soltas, surge um pequeno rio e quando percebe o ciclista está carregando sua bicicleta e bagagem nas costas, até o topo de uma montanha, sendo necessário realizar o mesmo procedimento do outro lado, na descida. Esse foi um dia longo, quente e bastante cansativo.

Início do segundo dia pedal, subindo uma bonita estrada asfaltada e cercada de verde depois de Albanya

O inóspito e a hospitalidade
Outro ponto que precisa ser observado por quem se propõem a realizar a Transpirenaica é a dificuldade em relação aos pontos de apoio, na grande maioria dos dias. Houve uma etapa em que pedalei mais de 50 quilômetros sem encontrar nenhum estabelecimento comercial ou sequer alguém na porta de uma residência, por exemplo, para pedir um pouco de água. Como já tinha essa informação, sempre me organizava para sair já com todo o lanche da etapa e o máximo de água possível. O que encontrasse pelo caminho seria lucro. Por outro lado, é preciso destacar a grande hospitalidade encontrada nos povoados dos Pirineus. Passei por duas situações que exemplificam essa situação.
Ao chegar a Planoles, após uma etapa com muita subida e finalizada embaixo de uma forte tempestade, constatei que não havia vaga nos dois únicos albergues existentes. Muito solícita, e vendo as minhas condições, a atendente de um deles entrou em contato com um camping da região, fora da rota que seguiria, e pediu que conseguissem uma vaga para mim. Chegando lá, após mais dois quilômetros sendo castigado pela chuva forte, a pessoa que me recebeu ofereceu que eu dormisse no interior do salão de jogos, sem precisar continuar me molhando para montar acampamento. Em El Pont de Suert, o dono de uma loja de bicicletas, onde precisei trocar os pedais, me presenteou com uma câmara de ar: “Companheirísmo ciclístico”, disse ele.

Histórias para contar: cruzei com vários rebanhos de ovelhas ao longo da Transpirenaica

Próximos capítulos
Na próxima coluna vou falar sobre as partes altas e os espetaculares parques entre Espanha e França. Nas seguintes vou detalhar a ligação dessa travessia com icônicos pontos do Tour de France, o reencontro com o Caminho de Santiago e a chegada ao Mar Cantábrico. O projeto “Teresópolis na Transpirenaica” tem o apoio da Trilhas e Rumos, Cycle São Cristóvão, Dafel, jornal O Diário e Diário TV.

Ao longo de toda a rota Transpirenaica, muitos lugares com cenários impactantes – Acervo Mochileiro – Marcello Medeiros

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Edição 02/05/2024
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