Wanderley Peres
Cinco meses depois do prazo que deu para entregar a obra de reforma do Hemonúcleo de Teresópolis, atraso que já provocava grandes transtornos para a população, porque a unidade de saúde que existia desde 2021 recebia, em média, 200 doações de sangue por mês, no dia 30 de novembro de 2021, acompanhado do secretário de Saúde, Antonio Henrique, e do secretário de Obras Públicas, Ricardo Pereira, e ainda do secretário de Fiscalização de Obras Carlos Antônio, o prefeito Vinícius Claussen fez uma vistoria no Hemonúcleo Municipal, em obras desde janeiro daquele ano e que deveria ter sido entregue em 18 de junho.
“Em breve iremos inaugurar o novo prédio, com melhorias na estrutura e nos equipamentos para que a equipe de saúde possa prestar o melhor serviço e para que os teresopolitanos possam fazer essa doação que ajuda a salvar vidas”, mentiu o prefeito a O DIÁRIO, comemorando a “construção de dois novos sanitários masculino e feminino e de um adaptado para pessoa com deficiência; substituição de bancadas e cubas e instalação de armários; troca geral das instalações elétricas, incluindo colocação de alarme para sanitário PCD; nova forração e colocação de revestimento cerâmico nas paredes das salas da área técnica; correção de pontos de infiltração; colocação de piso tátil nas áreas externa e de espera e pintura geral são alguns dos serviços realizados”.
Os secretários que acompanharam Vinícius na insólita incursão não estão mais dando o seu sangue na Prefeitura, nem o assessor de imprensa ou mesmo o fotógrafo que produziu as lindas imagens da promessa feita servem mais ao governo de sangue ruim. Completados três anos e meio do fechamento do posto, e três anos, hoje, do prazo dado para a devolução do prédio à população, agora nem prazo para inauguração se tem mais, embora tenha piorado bastante o quadro da saúde desde então, depois que o hospital São José, para onde foi o atendimento, parou de atender, sendo o teresopolitano obrigado a viajar para o Rio de Janeiro ou Petrópolis para realizar o sagrado ato de amor ao próximo.
MAIS PROMESSA
Em março desse ano, quando teve que se explicar sobre o inédito transbordo de doadores para outras cidades, a Prefeitura deu abril como o prazo para a inauguração da reforma, quando anunciou que já estava “de posse do alvará de funcionamento da Vigilância Sanitária Estadual”, apenas “aguardando o processo de finalização de licitação para aquisição de insumos”.
O prazo foi dado porque havia que se mentir um pouco mais, continuando a enganação, porque o Hospital São José acabara de encerrar o atendimento. Desde então, “temporariamente”, os interessados em doar sangue estão sendo encaminhados ao GSH Banco de Sangue de Santa Teresa, em Petrópolis (Rua Doutor Paulo Hervê, 1130 – Bingen), todos os dias, das 07h às 18h, inclusive sábados, domingos e feriados. “Aos interessados em realizar a doação de sangue em parceria da prefeitura de Teresópolis e Grupo GSH será oferecido o transporte gratuito de ida e volta saindo do Hospital São José até a inauguração de um novo banco de sangue no município. Dúvidas e agendamento do transporte entrar em contato exclusivamente pelo (21) 99695-7470”, informou a PMT, que indicou ainda à população outras opções para a doação, que pode ser feita no Centro do Rio de Janeiro (Avenida Marechal Floriano, 99), ou GSH Banco de Sangue Serum da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (Av. Ayrton Senna, 2150, Casa Shopping, Bloco P – Lado Península – Barra da Tijuca). Em ambos os casos, nos mesmos dias e horários de Petrópolis.
VAMPIRAGEM
Acreditando que debaixo do angu tem caroço, e querendo encontrar os dentes afiados de vampiro que estaria sugando o sangue do teresopolitano, fazendo fortuna com o caos instalado, porque só roubalheira justifica tão providencial incompetência administrativa, o vereador Fidel Faria vem investigando o imbróglio, tão bem recheado de picardia e mentiras.
Respondendo pedido de informações, a Prefeitura já havia informado aos vereadores que não havia aplicado punição ou advertência à relapsa empresa, contratada para entregar a obra no prazo de 6 meses, embora a demora já durasse três anos. Agora, diante das suspeitas de comércio ilegal de sangue, novo pedido de informações, aprovado por unanimidade, exige do prefeito a cópia dos contratos e convênios sobre os volumes de sangue coletados, armazenados, transportados e distribuídos entre os municípios de Guapimirim, Magé, São José do Vale do Rio Preto, por Teresópolis ser o polo de distribuição; cópias dos contratos de convênios firmados entre o município de Teresópolis e Guapimirim, Magé e São José, para a coleta, armazenamento e distribuição de sangue; e cópia do contrato entre o Município e a empresa GSH, para transporte de doadores de sangue, devendo apresentar, ainda, as contrapartidas oferecidas pelo município de Teresópolis à empresa GSH, em virtude deste contrato e convênio.
“Tudo isso é muito obscuro. O governo mente, o governo esconde, e essa mentira toda e o segredo sugerem que algo escabroso, e criminoso, está por trás de todo esse atraso, porque não é só a natural incompetência administrativa do prefeito que está movendo isso. Tem algo mais, e vamos descobrir isso”, disse o vereador, que investiga o rolo do sangue até no Hemorio, a quem perguntou, por ofício aprovado na Câmara, “se há algum contrato firmado entre a Hemorio e a Prefeitura de Teresópolis para a doação de sangue, e se há algum responsável designado do Hemorio, o nome, entidade ou responsável pela coleta”, respostas que, certamente, vão indiciar os responsáveis.
CONSELHO DE SAÚDE
A demora da obra e a falta de transparência no serviço de coleta de sangue em Teresópolis, sugerindo que existe algo de errado no procedimento, além do inexplicável atraso da entrega da obra, também provocou pedido de providências do Conselho Municipal de Saúde, que encaminhou pedido de informações à Vigilância Sanitária do Estado do Rio de Janeiro, pedindo o protocolo de encaminhamento da planta de reforma da unidade de Hemonúcleo de Teresópolis, as atas de vistoria no Hemonúcleo, as infrações aplicadas pela Vigilância Sanitária ao município pelo não funcionamento do banco de sangue e ainda se a Vigilância de Saúde do Estado do Rio de Janeiro autorizou o funcionamento da unidade do hemonúcleo após a reforma.