Luiz Bandeira
As fortes chuvas que atingiram a região de Teresópolis no último fim de semana causaram diversos transtornos à população e também provocaram um grande deslizamento de terra na parte alta do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO), resultando na interdição de trecho da trilha da Pedra do Sino. Um equipamento instalado no local para medir o índice pluviométrico registrou um acumulado de 387 mm de chuva em um período de 96 horas, o que acabou causando o grande deslizamento de terra e vegetação que bloqueou completamente a trilha e abriu uma enorme clareira na floresta, entre o Abrigo 3 e a Cota 2000.
O local já foi vistoriado pela equipe técnica do parque, que decidiu manter a interdição do trecho e a limitação de visitação até que sejam definidas as ações para a recuperação da área ou a possível criação de uma rota alternativa. “Até que seja realizada avaliação técnica detalhada e definitiva da intervenção necessária para a recuperação, estão suspensas novas reservas para pernoite na Pedra do Sino, bem como da travessia, com ou sem pernoite. As atividades já agendadas serão mantidas, e fica estabelecido o limite de 20 pessoas por dia para o bate e volta na Trilha do Sino”, informa o PARNASO, que irá atualizar as informações de acordo com as ações de recuperação no site http://www.icmbio.gov.br/parnaso.
Atualmente, a recomendação é utilizar o caminho que passa em frente à Pedra da Cruz, saindo na Cota 2000. Essa rota é mais curta, porém significativamente mais íngreme. Ela é geralmente utilizada por visitantes que acessam outras trilhas da parte alta do parque, nas proximidades da Pedra do Sino.




Caminho mais antigo e importante da Serra
A Pedra do Sino é a trilha mais antiga do PARNASO. O desbravamento do percurso, com quase 11 quilômetros de subida atravessando uma densa região de Mata Atlântica, foi um feito notável, realizado em 10 de abril de 1841. Hoje, 184 anos depois, essa é uma das trilhas mais visitadas da unidade de conservação. Do ponto mais alto da cadeia de montanhas, a vista é deslumbrante em qualquer direção.
A iniciativa de alcançar os pontos mais altos da região partiu do botânico inglês George Gardner, interessado em explorar a flora local — vale lembrar que, atualmente, o PARNASO é referência em pesquisas científicas no Brasil. Segundo relatos da época, após atravessar a mata virgem — trabalho pesado executado por cerca de 100 escravizados sob o comando do colonizador teresopolitano George March —, Gardner chegou aos 2.255 metros de altitude, que mais tarde foi confirmado como o ponto mais alto da cadeia de montanhas que hoje encanta o mundo.
Anos depois, outra fase marcante ocorreu na trilha do Sino. Foram construídos quatro abrigos ao longo dos 11,5 quilômetros, e o caminho passou a ser mais acessível — a ponto de, em determinada época, ser possível chegar ao cume a cavalo.
Com o tempo, os abrigos foram sendo desativados. Hoje, resta apenas um chalé próximo ao cume, construído no início dos anos 2000. Dos outros, apenas vestígios permanecem. A trilha foi se fechando novamente e, com o aumento do número de visitantes, a administração do parque passou a limitar o acesso. Há cerca de 15 anos, foi estabelecido um controle diário de visitantes para preservar o local.