A prática de efetuar trotes é antiga, mas continua sendo um grande perigo para a segurança das vítimas de ocorrências que dependam do atendimento de emergência. O 16º Grupamento do Corpo de Bombeiros já possui um protocolo de verificação das ligações que recebe para inibir ao máximo o acionamento das equipes para situações que não existem. Mesmo assim, há casos em que não se consegue identificar que se trata de um trote e com isso viaturas são deslocadas desnecessariamente. No último final de semana, o 16º GBM passou por esta situação em que perdeu tempo até conseguir retornar do local onde nada havia para o local onde realmente uma vítima precisava de socorro.
“Nós temos alguns protocolos que tentam limitar esses acionamentos indevidos, inadequados nos nossos serviços , no entanto algumas pessoas conseguem transparecer uma situação de perigo, de emergência que infelizmente às vezes conseguem burlar nossos protocolos. Nesses dias, tivemos um acionamento para um outro lado da cidade e quando estávamos chegando ao local descobrimos que era uma comunicação falsa de um evento e simultaneamente tivemos um outro, esse sim verdadeiro. Muita gente não sabe, mas esse tipo de brincadeira criminosa acaba prejudicando o atendimento de pessoas que realmente necessitam do Corpo de Bombeiros”.
Grande parte dos trotes é de autoria de crianças e isso já possibilita que os agentes desconfiem das comunicações e tenham maior precaução, porém o tempo em que os agentes ficam ocupados atendendo a essas chamadas também é precioso e pode faz diferença nas chances de salvamento das vítimas. Desta forma, o comandante do 16º GBM pede que os pais fiquem mais atentos e também eduquem as crianças sobre o mal que essa péssima brincadeira pode causar.
“O papel dos pais não é só na fiscalização, mas também na educação que é essencial para que as pessoas conheçam a importância do serviço e como o atendimento dos bombeiros pode ser a saída para muitas pessoas. Além de ser um ato que prejudica a funcionalidade do serviço, é um ato que afeta também pessoas inocentes que acabam tendo seu atendimento comprometido em função do tempo de resposta”.
A vigilância dos responsáveis é considerada fundamental para orientar as crianças e conscientizá-las da seriedade do serviço de emergência 193, para que não ocorra a sobrecarga das linhas para que as viaturas não saiam para atendimento de casos que de fato não estejam acontecendo.
“Sempre precisamos que todos colaborem: pais, tios, avós. Eduquem, ensinem a importância do respeito ao próximo. Quando temos um serviço público que é prestado de forma eficiente, todos ganhamos. E quando temos uma agente que atrapalha esse funcionamento, todos nós perdemos. Este papel de Educação é essencial para as pessoas conhecerem a importância do serviço e como eles fazem a diferença na vida de tantas pessoas”.
Punição prevista em lei
Além de ser uma brincadeira de muito mau gosto e perigosa, a prática do trote é crime e o autor, mesmo se for criança, poderá sofrer punições, assim como seus responsáveis.
A punição está prevista de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A criança ou adolescente que cometer um ato infracional, será encaminhada à Vara da Infância e da Juventude e lá serão aplicadas medidas socioeducativas de acordo com a gravidade do trote.
É importante destacar ainda que o trote fere dois artigos do Código Pena Brasileiro. Quando identificado, o autor é enquadrado no artigo nº 340 do Código Penal: falsa comunicação de crime ou de contravenção, cuja pena é detenção de um a seis meses ou multa.
Já o artigo 266 do Código Penal Brasileiro prevê pena de um a três anos, além de multa, para os casos de perturbação do serviço telefônico de emergência.
Trotes em todo o estado
O Corpo de Bombeiros recebeu em menos de dois meses completados cerca de onze mil trotes para o 193, ou mais ou menos 220 por dia. Também, em menos de dois meses, os Bombeiros fizeram 45 mil atendimentos à população fluminense, entre socorros relacionados ao trânsito, atendimentos pré-hospitalares, ações de busca e salvamento, combate a incêndios, prevenção a afogamentos e encaminhamento de crianças perdidas. Comparando esses dois números, podemos ter uma ideia do quanto os trotes prejudicam o trabalho dos Bombeiros.