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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Vandalismo é cada vez maior nas montanhas da região

Popularização do esporte de forma irresponsável tem gerado danos diversos em unidades de conservação ambiental

Marcello Medeiros

Foi o tempo em que um montanhista podia aproveitar tranquilamente seu momento de lazer em local totalmente diferente do que encontra diariamente nos ambientes urbanos: A cada dia que passa, os problemas gerados pela pressão e inconsequência antrópica são mais comuns nas trilhas, vias de escalada ou áreas de camping da nossa região. Mesmo em atrativos protegidos por unidades de conservação ambiental, crimes diversos têm se multiplicado por conta da popularização irresponsável desse esporte, gerada pela facilidade para obter informações em redes sociais e total falta de preparo da grande maioria dos frequentadores – inclusive dos autointitulados guias. Um dos locais que têm sofrido bastante por conta aumento do aumento na quantidade e queda na qualidade desses visitantes é o Escalavrado, na Serra dos Órgãos. Com um visual incrível para as principais montanhas dessa cadeia, a formação rochosa recebe semanalmente centenas de pessoas que causam impactos ambientais diversos e ainda se arriscam na grande crista de acesso ao cume.
Apesar de vendido por muitos como um “simples trekking” (o termo correto seria hiking, inclusive), o Escalavrado tem vários lances de escalada, pontos que, mesmo que pareçam fáceis para quem já é do meio, são extremamente perigosos para os iniciantes. A inclinação da maior parte das rampas e lajes de pedra e a proximidade com abismos enormes deixam a descida perigosa mesmo em condições climáticas boas. Em caso de um rápido chuvisco, por exemplo, o visitante não irá conseguir retornar se não estiver com pelo menos o equipamento básico de escalada. Dessa forma, a falta de preparo tem feito surgir vários atalhos na tentativa de contornar lances mais expostos, causando danos ambientais irreversíveis na vegetação.
Não bastasse isso, muitos frequentadores têm seguido a criminosa e absurda prática de rabiscar seus nomes nos paredões rochosos. Recentemente, o montanhista veterano Victor Vieira, de Teresópolis, denunciou mais um ataque ao Escalavrado. “Mais uma ação de vandalismo, por ignorância ou descaso de quem guiou essa pessoa. Muito triste saber que agora temos aqui a ‘Pedra da Gávea de Teresópolis’ local preferido para se levar sem qualquer controle, um grande numero de pessoas despreparadas e descompromissadas com o respeito à natureza!”, pontuou o montanhista em diversas páginas relacionadas ao tema na rede social Facebook.
Uma das inscrições reclamadas por Victor fazia referência a um grupo de “trilheiros” do Rio de Janeiro, que após grande repercussão também utilizou o mesmo meio para se defender. “As marcações na rocha foram feitas no dia 21/04, uma data que não estivemos no local e não enviamos ninguém que pudesse representar a nossa empresa. Entretanto, com a projeção da marca Rio Radical, não temos como controlar as decisões e ações particulares a cada pessoa. Estamos, desde ontem, apurando o fato e envolvemos para isso profissionais extremamente respeitados do montanhismo e escalada, que confiam e acreditam no trabalho prestado por nós. Estivemos no Escalavrado apagando o registro pois não desejamos que o nosso nome esteja vinculado a ações de vandalismo como esta”, informa trecho da nota em relação ao triste caso, um dos muitos do mesmo tipo que tem sido registrados naquela montanha, a primeira do conjunto próximo ao Dedo de Deus, vista a partir do Soberbo ou Rio-Teresópolis. 
No último fim de semana, um dos escaladores e montanhistas mais conhecidos e respeitados do Rio de Janeiro, Antonio Paulo Faria, que tem invejável currículo de vias conquistadas e publicações relacionadas ao tema, escreveu o seguinte: "Iremos 'perder' muitas das nossas montanhas. O aumento do número de pessoas nas montanhas brasileiras chegou a um número alarmante. Um agravante é a crise econômica, porque muitos desempregados decidem se tornar 'guias', mas sem a menor condição educacional, cultural e técnica. Esses levam multidões menos preparadas ainda. O resultado dessa moda de turismo natural de baixo custo é triste. Não precisa ser vidente para prever que os acessos de muitas montanhas serão fechados".

Outros locais
Em toda a região o Escalavrado é apenas um dos muitos exemplos da prática do irresponsável “trilheirismo”. O termo, aliás, nem existe. Porém, serve para referenciar aqueles que se identificam como “trilheiros” e não fazem sequer ideia do significado da palavra “montanhista” e, mesmo com tamanha facilidade de acesso à informação, não buscam compreender a essência desse bonito e prazeroso esporte. Subir uma montanha é muito mais do que apenas chegar ao cume. É o que você ganha no caminho e o que você leva na alma e no coração – e não na mochila ou no cartão de memória do seu telefone celular.
Outro caso que vale ser citado é o do Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis, que tem como símbolo a Pedra da Tartaruga. Prestes a completar nove anos de existência, a unidade de conservação ambiental mudou a realidade de uma região onde problemas ambientais como extração de pedras e plantas, depósito irregular de lixo e queimadas eram constantes. Hoje, porém, o turismo ecológico irresponsável vem causando tantos ou mais problemas do que os registrados até 2009. Problemas como barulho na área de camping, lixo deixado nas trilhas e muitas pedras riscadas, além de destruição de placas de sinalização e depredação de outros bens na área entre as pedras da Tartaruga e Camelo tem sido comuns, infelizmente. 

É crime!
Para quem acha “bonito” deixar seu nome ou de qualquer empresa nas paredes e blocos de pedra ao longo das trilhas, nunca é demais lembrar que se trata de crime ambiental, previsto na Lei 9.605/98. Vamos a alguns pontos de legislação: Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização: Pena – reclusão, de um a cinco anos.
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I – bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II – arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de seis meses a um ano de detenção, e multa.

Denuncie
Se você encontrar alguém praticando algum tipo de ato de vandalismo em área natural, faça sua parte: Denuncie! No caso da Serra dos Órgãos, os telefones são 2152-1110 e 2152-1111. Para as montanhas localizadas no Parque dos Três Picos, use a Linha Verde (0300 253 1177). Em flagrantes nas trilhas do PNMMT, a dica é ligar para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2741-2234 e 2742-7763.

 

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Edição 26/11/2024
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