
Está em curso mais uma edição do Tour de France, prova de ciclismo mais antiga e importante do mundo, que para boa parte desse cantinho da Europa e atrai olhares do mundo inteiro. Quem é apaixonado por ciclismo de estrada, com certeza não perde uma etapa e ainda sonha em um dia pedalar pelos lindos roteiros percorridos pelos atletas profissionais. Mas, antes de realizar esse sonho, é preciso treinar longas distâncias e subidas fortes – caraterísticas principais do Tour. Felizmente, há muitos bons roteiros na região para essa prática. Um deles, muito conhecido entre os locais é a chamada ‘Volta de Friburgo’, que consiste em sair de Teresópolis, seguir até esse município, descer para Cachoeiras de Macacu, atravessar parte de Guapimirim e retornar para Teresópolis pela BR-116. Esse é um roteiro de quase 200 quilômetros cruzando diferentes estradas, contemplando muita beleza e se provando fisicamente.
Fazia muito tempo que eu tinha vontade de realizar essa ‘aventura’, mas sempre aguardava estar com o condicionamento em 100%, um clima agradável (para mim, o frio é melhor!) e talvez uma boa companhia para compartilhar essa empreitada. Depois de muitos anos esperando juntar as três ‘condicionantes’, resolvi deixa-las de lado e, aproveitando um gelado sábado de inverno, resolvi colocar a bicicleta na estrada e me aventurar pela região serrana carioca. Devagar e sempre, sempre em frente!

A RJ-130
Depois de cruzar a zona urbana, segui pela Teresópolis-Friburgo ainda antes de o sol raiar. Iluminação e vestimentas adequadas para diminuir as chances de ser atingido por um veículo e segui cruzando a RJ-130 por locais que já conheço bem, mas dessa vez com um olhar e determinação diferentes. A chamada ‘Terê-Fri’ tem muitas belezas a serem contempladas, especialmente as montanhas e lavouras. Mas, dessa vez, como o dia seria longo, só registrei na memória mesmo até chegar ao Alto de Vieira, onde dei uma breve parada no mirante a depois na placa que indica o limite com Nova Friburgo. ‘Morro Grande’ e a rampa antes do trecho final em Teresópolis são as subidas mais fortes nessa parte.
‘Friburgando’
Do limite em diante, muitas descidas até chegar à zona urbana do município vizinho. Apenas uma subida um pouco mais forte, um pouco antes de Campo de Coelho. Nesse ponto, o que acaba deixando o pedal mais lento é cruzar a área central para acessar a RJ-116, que conecta Friburgo a Cachoeiras via Mury. Um rápido lanche no ‘pé da serra’ antes de começar a suave, mas constante, estrada. À direita, a beleza das cachoeiras é um refresco ao desgaste físico. Se estivesse no Tour de France, com certeza o cinegrafista registraria as bonitas quedas d´água.

Floresta e descida
Até Friburgo são aproximadamente 70 quilômetros, distância que pode variar de onde começar. No meu caso, foram 76. Depois, mais 16 subindo quase que constantemente até o Mirante da Serra de Cachoeiras de Macacu, ainda na RJ-116. No deck, inaugurado cerca de dois anos atrás, se avista a gigante floresta protegida por APAS e parte na área do PETP. Uma parada para fotografar, sem demorar, para depois deixar a bicicleta descer por 22 quilômetros, até o centro de Cachoeiras.
Não se iluda no ‘retão’
Cheguei ao trecho mais plano do circuito no início da tarde, mais um lanche reforçado e logo toquei em direção à Parada Modelo. Entre Cachoeiras e o distrito de Guapimirim, 44 quilômetros bem planos. Mas não se iluda e ‘gaste tudo’ no trecho. A não ser que esteja com um condicionamento físico espetacular, se mantiver uma média muito alta nos ‘retões’, com certeza faltará no último desafio da ‘Volta de Friburgo’.

Chegada ao alto
Em uma jornada dessas, pedalando em uma ‘bike de estrada’, impossível não comparar à famosa prova ciclística. Guardadas as devidas proporções e diferenças, se passa por locais lindíssimos, cruzando por vezes áreas ocupadas, e diferentes desafios. O último deles, aliás, digno de uma boa etapa do Tour de France, a ‘chegada ao alto’. Depois de já ter pedalado 160 quilômetros, é preciso encarar um trecho da Rio-Teresópolis (BR-116) e depois 16 quilômetros montanha acima, cortando a Serra dos Órgãos. É duro, mesmo para quem está 100% fisicamente. Mas, assim como toda a jornada, altamente recompensador.
Concluí os 184,5 quilômetros do meu ‘tour particular’ dentro da média de tempo que esperava, apesar de ter feito a serra final mais lento do que gostaria, e fechei o dia imensamente feliz: desafio concluído, mais um tanto de memórias eternizadas e novamente a certeza de que viver é muito mais do que ficar apenas esperando!


