Anderson Duarte
Não, o teresopolitano não está mais violento, nem vai, finalmente, às ruas para protestar por seus direitos. O fato que estarreceu a imensa maioria dos cidadãos neste fim de semana, quando a destruição do patrimônio alheio serviu de suposta justificativa para protestar contra a ação policial, nada mais é que apenas outro modo de agir dos criminosos que insistem em por aqui se estabelecer. Isso mesmo, é assim mesmo que costuma agir a bandidagem quando um dos seus é abatido, ou seja, se tenta inflamar o cidadão de bem por supostos abusos do Estado contra o morador de comunidade. Sabedores de que é essa uma forma de agir dos criminosos que pertencem as facções tão famosas de nossa capital, passemos ao outro aspecto desta triste realidade que vivemos hoje, mesmo em uma cidade dita segura e livre do crime organizado. Não, não estamos livres deste crime organizado! Na verdade ele se estabelece a cada dia em nossos nichos de pobreza e comunidades invisíveis muitas vezes para o Estado, que depois vem com injustificada surpresa dizer que não imaginava que era assim. Mas independentemente dessa inserção das entidades criminosas organizadas, as entidades sociais e algumas empresas que atuam diretamente nestes locais, tentam incessantemente reverter esse processo de degradação que acompanha, principalmente o crime de tráfico, hoje uma possibilidade de sustento familiar para quem já cansou de receber nãos em entrevistas ou distribuições de currículos, mas que não pode chegar apenas com esses nãos em casa no final do dia.
No episódio de depredação e destruição ocorrido em Teresópolis temos duas lições muito claras: não são os teresopolitanos de bem que queimaram o ônibus por conta da morte do traficante famoso, nem agiu com o resguardo suficiente nossas autoridades de segurança. Apenas combater, como numa guerra, os bandidos pode até ser justificado em casos de guerra mesmo, afinal, quando se está em situação de guerra, até as mortes são justificadas, entretanto, não é isso que nossa cidade vive, não estamos em guerra, os prejuízos e mortes que venham a ocorrer desta batalha não podem ser justificadas como se uma guerra fosse. É preciso inteligência para vencer a organização do crime carioca, de décadas de empenho e dedicação aos modos operandis. É preciso resguardar a população e aos seus serviços quando invasivas forem necessárias. Dias antes do confronto, a empresa que responde pelo serviço de transporte público em nosso município alertava para a necessidade de intensificação das ações de resguardo em ocasiões de operações nas comunidades mais carentes. Não morreu nenhum cidadão de bem, mas e se tivesse acontecido? Essa guerra vale mesmo a pena? O teresopolitano não queima ônibus porque ele se serve dele todos os dias! O teresopolitano tem o direito de ser tratado com respeito, afinal, essa guerra é do Estado contra as instituições que ele mesmo nutriu ao longo dos anos com desserviço e incompetência para promover o bem-estar social.