André Oliveira
Poucos dias depois de Teresópolis ser atingida pela maior tragédia climática da história do Brasil, em 12 de janeiro de 2011, um grupo de pessoas começou a se organizar para garantir o atendimento a muitas famílias que perderam bens, vidas e histórias. Hoje, sete anos depois da fatídica madrugada e com a maior parte das famílias atendidas pelos programas sociais, a Associação das Vítimas das Chuvas de Teresópolis – Avit – anuncia oficialmente o fim das suas atividades.
O que era uma mera organização social transformou-se na principal representação do sofrimento de inúmeras famílias de Teresópolis. Reuniões regulares ajudavam desde obtenção de novos documentos até a assessoria jurídica para o atendimento aos que não conseguiram novas moradias. O benefício do aluguel social foi sem dúvida um dos temas mais trabalhados. Não houve missão ou tarefa ligada às pessoas atingidas que não fosse ao menos avaliada pelos técnicos voluntários. O movimento ganhou ruas e praças para que o protesto não deixasse que vítimas fossem esquecidas. Audiências com políticos das diversas esferas do poder público, Executivo, Legislativo e Judiciário, mantiveram o tema aberto e cobraram as providências, que tanto demoraram a vir.
“Já fez bastante”
Com a entrega das 1600 unidades habitacionais do Parque Ermitage, uma significativa fatia de famílias que eram acompanhadas pela associação teve seu problema resolvido. Pouco restou para se fazer e por isso a diretoria colegiada optou pelo encerramento das atividades.
“A Avit já vem atuando na cidade desde janeiro de 2011 e já faz bastante. Foram atendimentos, processos encaminhados e agora chega a hora de parar”, reconhece Lucineia da Silva, presidente da Diretoria Colegiada da Associação. “Apesar do fechamento, nós vamos continuar atendendo o povo. Ainda têm pessoas que não foram contempladas e outras que aguardam indenizações e novos apartamentos. Nosso trabalho está se encerrando, porém vamos continuar dando apoio a quem precisar”, justifica.
Passadas diversas diretorias e atividades realizadas, vale ressaltar que todo o trabalho desenvolvido pela entidade, seja um simples acolhimento até a assessoria técnica e jurídica nos casos mais complexos, foi feita de forma voluntária. As pessoas envolvidas com a Avit não foram remuneradas pelo quê fizeram ao longo dos anos. “A gente sempre fez tudo com muito carinho, atendendo todas as pessoas que precisavam e nos procuravam”, garante Luciana Mattos, secretária da Avit. “Mesmo assim vamos continuar à disposição, dentro do possível, para continuar esse trabalho. Quem ainda não foi atendido pode nos procurar”, garante.
Ações continuam
Outro que doou parte de seu tempo e conhecimento para as pessoas acompanhadas foi o advogado André Veloso. Ele explica que os processos disparados através da Avit e que ainda tramitam na Justiça continuarão sendo acompanhados por ele. “Todas as pessoas que ainda têm ações judiciais, os processos estão em curso e andamento, até que haja decisão final, nós continuaremos com o apoio. Na realidade, acreditamos na sociedade civil organizada, um país como o nosso, se não houver essa união, as coisas vão ser muito mais difíceis. A instituição vai finalizar as atividades por que já fez muito por quem precisava e mesmo assim de forma voluntária, vamos continuar dando o apoio”, garante.
Para oficializar o fim das atividades a Avit realiza uma assembleia geral no dia 28 de fevereiro, às 19h, na Igreja de Santo Antônio, no Alto, onde será feita prestação de contas e deliberação sobre a extinção da associação. “A Avit teve um papel fundamental nesse período na cidade, ajudando as vítimas e além de tudo, dentro do nosso trabalho, trazer algumas benfeitorias. A Avit lutou por moradia, mas acima de tudo pela dignidade de todos”, finaliza.
Campo Grande – familiares das vítimas se juntaram à Avit para prestar homenagens aos mortos da tragédia de janeiro de 2011 “Nunca esqueceremos”