Anderson Duarte
Apesar de ter uma cobertura vacinal excepcional, muitas informações desencontradas e rumores e boatos propagados pelas redes sociais ainda geram insegurança para muitos teresopolitanos que não buscaram a vacinação contra a Febre Amarela. Visando sanar muitas destas dúvidas, o Jornal Diário na TV recebeu nesta quinta-feira, 01, o médico infectologista Marco Liserre, do Hospital São José, para entrevista tematizada nos efeitos da imunização e na importância de prevenir a doença tendo em vista a dificuldade de tratamento. Segundo o infectologista, não há tratamento antiviral específico disponível, e a prevenção por meio da vacinação é fundamental para a redução das infecções e da mortalidade.
Marco Liserre nos explica que a infecção do ser humano se dá quando é exposto a ambientes silvestres onde os mosquitos Haemagogus e Sabethes mantêm o ciclo silvestre da doença. “Há sempre o risco desses pacientes infectados nos ambientes silvestres se deslocarem para as zonas urbanas onde o mosquito Aedes aegypti tem seu habitat natural. Isso pode fazer com que surja, também, a febre amarela urbana. Os sintomas são característicos como febre, dor de cabeça e mialgia difusa, ou seja, a dor muscular. O espectro clínico da febre amarela vai desde uma enfermidade febril leve e não específica, autolimitada e sem maiores repercussões, até o de uma doença de extrema gravidade, como a insuficiência renal e hemorragias diversa, levando ao óbito de até 50% dos infectados”, ressalta Liserre.
Com relação aos casos divulgados de reação a vacina, que estariam afastando alguns teresopolitanos dos postos de imunização, o médico garante que os efeitos secundários graves são raríssimos de acontecer com a vacina, que utiliza vírus vivos atenuados. “As contraindicações para a vacina são concentradas em pacientes com neoplasias ou sob imunossupressão farmacológica, além de pessoas com infecção avançada pelo HIV. Mas podemos afirmar que nos casos encontrados no publico alvo determinado para receber prioritariamente a vacina, são ínfimos os casos mais severos, apenas algumas reações leves, facilmente tratadas com medicamentos”, explica o médico que salienta a importância da imunização no enfrentamento a doença.
“É sempre importante salientar o que é a Febre Amarela, com tanta desinformação, noções básicas como essa acabam sendo fundamentais. Ela é uma doença causada por um vírus, transmitido por mosquitos, como vimos. Ocorre em locais de clima tropical, sendo mais comum na América do Sul e na África. A doença é chamada assim porque o paciente pode ficar com o corpo todo amarelo, condição chamada de icterícia. Apesar de haver duas formas da doença, não há diferença de sinais e sintomas entre elas. A maioria das pessoas que adquire o vírus não apresenta sintomas. Quando os sintomas aparecem, há febre baixa, dores musculares em todo o corpo, principalmente nas costas, dores de cabeça, dores nas articulações, náuseas, vômitos e fraqueza. Esses sintomas duram entre três e quatro dias, podendo desaparecer. Alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves cerca de 24 horas após a recuperação dos sintomas mais simples. Existem casos que já iniciam com sinais bastante graves, atingindo órgãos importantes do corpo, principalmente o fígado e os rins. Em casos mais graves a doença pode evoluir e causar a morte”, explica.
A alta taxa de óbitos decorrentes da febre amarela alerta para medidas de precaução, especialmente nos locais próximos aos casos, como Teresópolis, que já registrou dois episódios fatais. “Assim como foi dito, estamos diante de casos da versão silvestre da doença, portanto, ainda precisamos evitar que surjam episódios da urbana e assim, as medidas básicas são a prevenção da picada dos mosquitos e a vacinação. Os cuidados com o mosquito transmissor da dengue devem ser intensificados pela proximidade de casos silvestres”, explica o médico que ainda derruba outro mito levantado pelas redes sociais recentemente, com relação a proximidade de Teresópolis a áreas de conservação ambiental e consequentemente muita área de mata fechada. Segundo o infectologista, não há relação dos casos com as proximidades de residências, sendo típico da infecção da modalidade silvestre o contato do paciente com a região de mata fechada.