Luiz Bandeira
A segunda-feira começou tumultuada para quem cruzava a BR-116 na altura do quilômetro 76, na Prata, assim como aconteceu em várias outras rodovias pelo país. O motivo seria que, insatisfeitos com o resultado das urnas na eleição desse domingo, caminhoneiros e outros simpatizantes de Jair Bolsonaro resolveram manifestar sua desconfiança no pleito concluído no domingo, quando o atual presidente perdeu para Lula por uma apertada diferença de votos. Segundo os manifestantes de Teresópolis, que montaram uma barricada de pneus no meio da pista e atearam fogo nela, na Prata, a eleição não foi justa e houve fraude para beneficiar o vencedor. Dezenas de caminhoneiros foram convencidos a se juntar a manifestação ou impedidos de passar pela barreira montada na rodovia. Além dos profissionais do volante, outros adeptos do candidato do PL participaram do movimento.
Afonso Bandeira, um dos manifestantes, disse que eles estavam adotando critérios para liberar a passagem de alguns veículos. “A gente começou a juntar o grupo pra poder fazer essa manifestação do quê houve ontem, né? A gente não concorda e viemos aqui para reivindicar os nossos direitos como cidadão brasileiro, honestos e bons. Então a gente não aceita o que houve ontem, a gente não concorda. Os caminhões com cargas inflamáveis podem passar, carros pequenos podem passar, ônibus e carro de lixo, por causa da cidade”, garantiu Afonso.
Para outra manifestante, Tatiana Simões, houve fraude eleitoral nesta eleição. “Nós viemos devido ao quê aconteceu nessas últimas eleições. Há muito tempo a gente tem acompanhado tudo que tem acontecido, ninguém tá cego ao que houve e nós fomos tolidos o tempo todo, fomos proibidos de falar a verdade conhecida em todos os canais, em todos os lugares inclusive no exterior. Então nós estamos aqui hoje pra mostrar apoio ao presidente e dizer – Presidente o senhor tem a nossa voz, o senhor convoque as forças para libertar o nosso país disso que aconteceu, para que o senhor tome a posse que é de direito sua, que é de direito de cada um nós que vive nesse país e que luta por liberdade, que luta por direitos, que luta por ver o nosso país um país melhor, um país maior e todo o potencial que ele tem, pra que não seja roubado por esse povo que tem roubado e usurpado todo os nossos direitos, todos os nossos valores e querem nos deixar amordaçados”, acusa Tatiana.
Pedido de intervenção
Um dos manifestantes, Rodrigo Lima, vestido com as cores verde e amarelo, disse que espera que o presidente Bolsonaro acione as forças armadas para reverter o resultado das urnas. “A gente resolveu fechar a rodovia como no Brasil inteiro, 22 vias que a gente já fechou, é o nosso posicionamento e a gente está esperando um posicionamento do presidente da república, até agora ele não falou nada. Precisamos saber o quê que a gente vai fazer e realmente a gente está buscando um meio de se manifestar contra esse povo todo que acha que tá tudo bonitinho, tudo legalzinho. O quê a gente pede? O quê que a grande maioria está pedindo? Intervenção militar, porque não pode, não está certo. A gente não pode deixar um cara que já foi, não sei se eu posso falar, mas um cara que tem 16 processos, e que segundo ele, foi absolvido, mas não foi, foi só um erro, um erro de digitação de documento que absolveu ele. Então não é possível que mais da metade da população votou num cara desse, tem coisa errada aí”, desconfia Rodrigo.
Mais uma manifestação
No final da tarde, alguns dos manifestantes deixaram o movimento no bairro da Prata e realizaram interdição alguns quilômetros à frente, nas proximidades do Mirante do Soberbo. Com essa nova intervenção, ficaram limitados de acesso os produtores rurais que seguiriam para o Ceasa.
Liderança no país
Nesta segunda-feira, Wallace Landim, conhecido como “Chorão”, presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), líder das manifestação de 2018, divulgou vídeo nas redes sociais onde disse que os protestos não refletem demandas da maior parte da categoria. “Eu não vejo 100% da categoria. São pessoas que estão descontentes com o resultado das eleições. A gente está tentando levantar de onde está saindo o movimento”, pontuou. A seguir, Chorão acrescentou. “Fico muito triste de muitas pessoas usarem o nome dos caminhoneiros. Não luto e nunca vou lutar contra a democracia do País. Minha linha é mais de pacificação, conversar, dialogar e unificar o País”. Outro líder da categoria Plínio Dias, diretor-presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), disse que não há indício de paralisação ampla de caminhoneiros autônomos. “Vi alguns vídeos e são pessoas desconhecidas e acho que também nem são caminhoneiros”, desconfia Plínio Dias.
Outro protesto
Segundo estimativa da PRF, cerca de 50 pessoas se manifestaram contrários ao resultado das eleições aqui em Teresópolis, montando barricada e ateando fogo em pneus. O 16º Grupamento de Bombeiros Militares atuou para debelar as chamas na Prata. No estado do Rio de Janeiro foram detectadas interdições também no Km 276 da BR-116, em Barra Mansa, km 64 da BR-101 em Campos dos Goytacases e Km 486 da mesma rodovia, mas no município de Angra dos Reis. Situação semelhante ocorreu na Rodovia Presidente Dutra, principal via de ligação entre os estados do Rio e São Paulo, nos km 275 a Km 278. O protesto, segundo a PRF, causou estrangulamento e congestionamento. Na altura de Seropédica, na Baixada Fluminense, também houve protesto, mas os caminhoneiros ocuparam o acostamento. Em todo o país há relatos de outras manifestações, com prejuízo apenas para quem passa pelos trechos interditados.
Posição da PRF
A Polícia Rodoviária Federal se pronunciou no início da tarde desta segunda-feira, 31. “Desde ontem, quando surgiram as primeiras interdições, a PRF adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo, direcionando equipes para os locais e iniciando o processo de negociação para liberação das rodovias, priorizando o diálogo para garantir, além do trânsito livre e seguro, o direito de manifestação dos cidadãos, como aconteceu em outros protestos”, esclareceu a PRF por meio de nota.
Posição do TSE
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral Ministro Alexandre de Moraes exaltou a manifestação democrática do povo brasileiro. “O mais importante de tudo: tanto no primeiro quanto no segundo turno tivemos uma eleição pacífica, tranquila e com segurança. O eleitor se dirigiu à sua seção eleitoral, votou tranquilamente e retornou à sua casa sem maiores problemas”, celebrou. O presidente do TSE ainda destacou que a Justiça Eleitoral é um patrimônio nacional, “as eleições brasileiras, uma das quatro maiores do planeta, e a única que apura votos e divulga o resultado no mesmo dia da votação com segurança e transparência, é um exemplo para o mundo”, finalizou o Ministro.
