Wanderley Peres
Tempo instável, com sol quente na primeira parte do dia e pancadas de chuva à tarde, ou dias quentes intercalados com dois ou três chuvosos e temperatura amena. Vai ser assim até abril, o último mês com a letra erre, voltando o calor e o risco de chuvas fortes só depois que passar maio, junho, julho e agosto, com a volta do erre de setembro.
Esse é o período chuvoso da Região Serrana, onde aconteceu a maior catástrofe climática do Brasil, com mais de mil vítimas nos municípios atingidos, 572 dessas vítimas em Teresópolis – 392 mortos confirmados e 180 desaparecidos. São estes os números oficiais de Teresópolis na maior tragédia natural já registrada no Brasil, quantidade de mortos que muita gente questiona, por motivações diversas, e pelo simples fato de alguns acharem que sabem mais do assunto de que nada sabem mas sentem-se na obrigação de opinar sobre ele.
De como foi a tragédia, ainda nos lembramos bem. Depois da chuva fina ao longo do dia 11, em quase toda a região, à noite a chuva aumentou, vindo a tromba d’água por volta das 2 horas da manhã, já no dia seguinte. Não era uma chuva igual à que ocorrera no dia anterior e no início da noite. Era uma chuva diferente. E veio acompanhada de raios e trovões. Os relâmpagos não eram intermitentes. Eram contínuos, muitos ao mesmo tempo, e em todas as direções no céu, em alguns momentos, deixando a noite dia. E a chuva forte, quando veio, se percebia, para quem estava nos bairros próximos do centro da cidade, que “era mais para o lado da Posse”. E foi da Posse e Campo Grande que chegaram as primeiras notícias da tragédia sem precedentes.
Antecipando um dia no calendário, nesta quinta-feira, a Prefeitura lembrou a tragédia em Nota, “11.01.2011, uma data que será sempre relembrada em memória às vítimas da maior tragédia natural da história do país”, como se fosse nesse dia o ocorrido. E nem haveria de errar o prefeito porque já teve que consertar engano igual cometido no ano passado, quando corrigiu lei municipal que havia tornado o dia 11 de janeiro feriado municipal, acertando o dia para 12 e cancelando o feriado, outro erro grave, e também crasso.
Se não sabe quando foi a tragédia, e não sabia, também, que havia limites para a criação de feriados no país, certamente que o prefeito, e demais membros do governo, precisam se informar, também, de quando é o período chuvoso, e de risco de tragédias em Teresópolis. Daí, vale reproduzir breve apanhado histórico das chuvas fortes em Teresópolis.
Superfaturamento nas obras de reconstrução da cidade, demora na entrega das casas, corrupção das autoridades nas licitações e entrega dos serviços, corrupção da população que se enfiou nas filas de favores como se fossem desabrigados ou vítimas da tragédia… O que aconteceu naquele fatídico 12 de janeiro de 2011 e nos dias que sucederam a catástrofe está nas páginas dos jornais. A história da tragédia está, também, na memória de muitos, especialmente de quem viveu mais intensamente os horrores daquela noite de exatos 13 anos atrás, antecedida por um longo período de chuva fina, que sempre preocupa nas cidades de montanha onde as autoridades não primam pela prevenção nem fiscalizam de forma rigorosa e adequada as ocupações nas encostas.
AS TRAGÉDIAS
Apesar do período de chuvas fortes começar no final do mês de outubro, podendo ocorrer mesmo em setembro, indo até meados de abril a estação chuvosa, as chuvas que tivemos até agora, estas moderadas e contínuas que vem e vão, foram as típicas do período do ano, sem registros de deslizamentos, embora tenha deixado vários bairros ilhados por conta dos alagamentos, esse outro problema da cidade de uns tempos para cá, desde que a Prefeitura começou a jogar asfalto de má qualidade sobre os paralelos, material que acaba dentro das galerias, entupindo tudo e impedindo a passagem das águas.
JANEIRO
Janeiro, mês em que ocorreu na Região Serrana do Rio de Janeiro a mais trágica catástrofe natural do país, exatamente treze anos atrás, em 12 de janeiro de 2011, é também o mês que mais incidem chuvas fortes em Teresópolis. E, das chuvas de janeiro temos lembranças de diversas tragédias, entre elas uma ocorrida em 29 de janeiro de 1977, quando sofremos com inundações e quedas de barreiras diversas ao longo da cidade, com a morte de 33 pessoas, 15 delas de uma mesma família, os Viana, em Santa Cecília. Em 2000, tivemos 4 mortes numa chuva forte ocorrida no dia 2 de janeiro e, em 2001, além dos alagamentos na cidade, tivemos também um acidente no Escorrido, trecho da serra próximo ao Soberbo, onde o motorista de um fusca morreu esmagado com o deslizamento de um enorme bloco de pedra. Em 2013, num dia 4 de janeiro, alagamento no Caxangá deixou mais de 100 desabrigados. Também em janeiro, tivemos chuvas durante três dias, com muita destruição, ocorridas nos dias 17, 18 e 22. Outros registros de chuvas fortes no mês de janeiro foram no dia 17, em 1978; 25 em 1979, 11 em 1981, 31 em 1982, 25 em 1985, 6 em 1992, 22 em 1994, 6 em 1996, 19 em 2000, 6 em 2002, 20 em 2007, 12 em 2011, e dia 5, em 2015. Veja sobre as demais tragédias na página seguinte.