Nome incontornável da música brasileira, compositora e intérprete de mão cheia, Leci Brandão é a homenageada do espetáculo que chega ao teatro do Sesc Teresópolis, neste sábado (06), às 19h30. A narrativa do musical, vencedor do 34º Prêmio Shell de Teatro, uma das mais tradicionais premiações do teatro nacional, na categoria direção, é construída a partir da relação entre mãe e filha, até a morte de D. Lecy, aos 96 anos, em 2019. “O espetáculo é contado sob o ponto de vista da mãe, referência maior na vida de Leci. São reminiscências dela. No espetáculo, às vezes, a mãe canta canções significativas do repertório da Leci para a Leci. A ideia foi construir um espetáculo cujo arcabouço mostrasse toda a tradição familiar e religiosa, o respeito e a educação de uma família preta, que a Leci traz”, resume o diretor Luiz Antonio Pilar.
As atrizes Tay O’Hanna e Verônica Bonfim interpretam Leci Brandão e sua mãe, D. Lecy, respectivamente, e Sérgio Kauffmann representa personagens masculinos presentes na vida da cantora, como o líder comunitário Zé do Caroço, inspiração de uma de suas músicas mais famosas. A simbologia do Candomblé, muito presente na vida da artista, é um dos fios condutores da dramaturgia. Filha de Ogum e Iansã na religião africana, Leci passou cinco anos sem gravar desde que se afastou da Polygram, por não aceitar reescrever suas letras. Em uma consulta às entidades no terreiro, ouve que tudo ficará bem. Ela assina com uma gravadora nacional, grava um disco com seu nome e estoura. Em agradecimento, todos os seus discos a partir de então tem uma saudação a um Orixá.
Grande parte dos 17 números musicais do espetáculo são composições de Leci Brandão, como “A filha da Dona Lecy”, “Ombro amigo”, “Gente negra” e “Preferência”. Outras, como “Corra e olhe o céu”, de Cartola, e o samba-enredo da Mangueira “História pra ninar gente grande”, campeão de 2019, são significativas na trajetória da artista.
Além do trio de atores, que também canta, estão no palco quatro músicos que tocam ao vivo – Matheus Camará (violão, clarinete e agogô), Thainara Castro e Pedro Ivo (percussão) e Rodrigo Pirikito (violão, cavaquinho e xequerê). A direção musical é de Arifan Junior, do grupo Awurê.
Mais sobre a peça
O espetáculo, com texto de estreia de Leonardo Bruno, não tem uma linha cronológica e faz algumas licenças poéticas, como a troca da música “Cadê Marisa?”, com a qual Leci ganhou um festival ainda bem jovem, por “Papai Vadiou”. A peça integra música, figurino e cenário numa coisa só. Dentro desse conceito, a cenógrafa Lorena Lima, construiu uma árvore, de 2,50m, rodeada por pedras, que é o destaque do cenário, um grande quintal, um terreiro em tons terrosos e verde, com o chão todo coberto de folhas secas de mangueira.
Leci é uma mulher à frente do seu tempo, pioneira em tudo o que tem feito em quase meio século de carreira. Primeira mulher a integrar a Ala de Compositores da Mangueira, e segunda mulher negra a ser eleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo, Leci assumiu a homoafetividade publicamente no fim dos anos 70, em entrevista ao jornal Lampião da Esquina, e, alguns anos depois, rompeu com a gravadora multinacional por não aceitar abrandar as letras contestadoras.
SERVIÇO
Espetáculo Leci Brandão – Na palma da mão
06/04, às 19h30
Sesc Teresópolis (Av. Delfim Moreira, 749 – Várzea)
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5 (meia) e grátis (credencial plena Sesc e público PCG)