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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Grande número de acidentes com motos gera desafios na reabilitação

Clínica de Fisioterapia do UNIFESO recebe cada vez mais vítimas de sinistros com esse tipo de veículo

Luiz Bandeira

Dados do Corpo de Bombeiros de Teresópolis revelam um cenário preocupante: as motocicletas estiveram presentes em 81,8% dos acidentes de trânsito atendidos pela corporação no último ano — ou seja, quatro em cada cinco sinistros envolvem motos. Esse índice alarmante se traduz em um volume crescente de vítimas com sequelas físicas, que enfrentam longos e dolorosos processos de reabilitação. A recuperação após um acidente pode levar meses ou até anos, dependendo da gravidade das lesões, frequentemente exigindo fisioterapia intensiva, cirurgias e limitações severas na rotina.
O fisioterapeuta e professor da UNIFESO, Édipo Nascimento, reforça a gravidade do problema. “De cada cinco acidentes, quatro envolvem motocicletas. É um dado muito sério”, alerta. Ele destaca o perfil diversificado das vítimas: de jovens inexperientes sem habilitação a profissionais que utilizam a moto como ferramenta de trabalho. “Infelizmente, atendemos muitos adolescentes sem capacete, sem carteira, sem noção do risco. Por outro lado, também vemos pais de família, gente que depende da moto para colocar comida em casa”, relata. Segundo ele, o uso de celular durante a pilotagem tem sido outro fator recorrente. “A gente se impressiona com a quantidade de pessoas pilotando e mexendo no celular ao mesmo tempo.”
Na UNIFESO, a reabilitação dos acidentados é feita por uma equipe multidisciplinar, envolvendo ortopedia, neurologia, dermatologia e fisioterapia. “Recebemos pacientes com fraturas expostas, que precisam de fixadores externos, curativos complexos… a fisioterapia atua em várias frentes”, explica. Entre os casos que mais marcaram o professor está o de Dilza, uma idosa atropelada por uma moto. “Ela chegou em cadeira de rodas e hoje consegue caminhar, embora com sequelas. Durante a avaliação, chorou. São traumas que ultrapassam o físico.”
Outro exemplo extremo é o de Jefferson, jovem que ficou tetraplégico. “Quando a lesão é medular, o paciente precisa ‘resetar’ os sonhos. Não é só o corpo que muda, mas a vida inteira dele e da família”. Mesmo diante de tantos desafios, Édipo reforça o papel da esperança na recuperação. “Mais do que devolver movimentos, a gente busca devolver dignidade. Cada paciente traz uma história. E a gente caminha junto.”

Professor Édipo Nascimento enfatiza que a reabilitação para acidentados é bem variada: “Infelizmente, atendemos muitos adolescentes sem capacete, sem carteira, sem noção do risco. Por outro lado, também vemos pais de família, gente que depende da moto para colocar comida em casa”

Projeto da UNIFESO investiga causas
Com o objetivo de entender e prevenir o alto número de acidentes envolvendo motociclistas em Teresópolis, estudantes da UNIFESO criaram o projeto de extensão ‘Proteger Motos’. A iniciativa busca levantar dados estatísticos e propor medidas concretas de segurança viária. A estudante de fisioterapia Débora Cristiny, que representa a ação, explica que a cidade carece de dados oficiais detalhados. “Estamos mapeando perfis de vítimas, horários, locais e tipos de acidentes. Queremos transformar esses dados em políticas públicas”, afirma.
A pesquisa é financiada pela própria instituição e tem como base os atendimentos realizados na clínica-escola da UNIFESO, em parceria com o Hospital das Clínicas de Teresópolis (HCT) e o Corpo de Bombeiros. Um dos principais achados é que a maioria dos acidentes ocorre no final da tarde — horário de pico no trânsito.
O perfil predominante das vítimas são homens entre 20 e 40 anos, especialmente entregadores e mototaxistas. “O crescimento do setor de delivery após a pandemia aumentou a frota de motos e, junto com ela, a pressa — que é uma das principais causas dos acidentes”, pontua Débora. Entre as lesões mais comuns estão as fraturas nos membros inferiores. “A moto não oferece proteção. Em colisões, as pernas geralmente são as mais atingidas”. Mais do que números, o Proteger Motos quer provocar uma mudança de cultura. “Nossa missão é promover conscientização. Mostrar que vale mais chegar atrasado do que não chegar. Segurança no trânsito é responsabilidade de todos”, conclui.

– Marcos Vinicius está desde 4 de dezembro sofrendo as consequências de um acidente que o deixou impossibilitado de trabalhar desde então, “Desde aquele dia, minha vida parou”

Acidente paralisa vida de trabalhador
Marcos Vinícius, auxiliar de serviços gerais, é uma das muitas vítimas do trânsito de Teresópolis. Ele sofreu um grave acidente enquanto trabalhava como mototaxista e, desde então, sua vida mudou completamente. “Era seis e meia da manhã. Eu ia buscar um passageiro na estrada Rio-Bahia, num cruzamento muito perigoso. Moro a cem metros de onde aconteceu. Desde aquele dia, minha vida parou”, conta. O acidente ocorreu em 4 de dezembro e, desde então, Marcos depende de benefício do governo e da fisioterapia para recuperar os movimentos.
O tratamento tem sido feito na clínica da UNIFESO e, segundo ele, os resultados são evidentes. “Os exercícios que aprendo aqui, repito em casa. Já melhorei bastante, até minha esposa percebeu.”
O drama familiar se intensifica com o fato de que seu filho também está em tratamento, vítima de outro acidente de moto. Pai e filho dividem agora sessões de reabilitação. “Depois da pandemia, muita gente virou motoboy. O número de motos explodiu. Mas os motoristas ainda tratam motociclistas com preconceito, como se todos fossem imprudentes”. Com a voz embargada, ele deixa um alerta: “Andar de moto por lazer é uma coisa. Trabalhar com ela, todo dia, é outra. O risco é constante. A vida muda num segundo.”

Motoboy atingido por motorista embriagado
Igor Werneck, motoboy de Teresópolis, viu sua vida parar após ser atingido por um carro dirigido por um motorista embriagado. O acidente ocorreu enquanto ele trafegava corretamente por uma via da cidade. “O carro invadiu a contramão e me acertou. Eu estava na minha mão, seguindo meu caminho. Foi tudo muito rápido”, relata. Desde então, Igor está sem trabalhar e com mobilidade reduzida. “Já são mais de 30 dias sem conseguir andar. Minha vida parou”. Agora em reabilitação na clínica da UNIFESO, ele busca retomar aos poucos sua rotina. “Estou iniciando a fisioterapia. Quero recuperar minha mobilidade e voltar à vida normal”.
O caso de Igor destaca que, embora muitos acidentes sejam atribuídos à imprudência dos motociclistas, nem sempre a culpa é deles. “Todo mundo fala dos erros de quem anda de moto, mas nesse caso, o erro foi totalmente do motorista do carro”. Seu relato reforça a necessidade de medidas urgentes para proteger os motociclistas — especialmente os que usam a moto como ferramenta de trabalho. “Meu sustento, meus planos, tudo foi interrompido por causa de uma irresponsabilidade no volante.”


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Edição 14/05/2025
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