No intuito de averiguar a necessidade humana pelo Sagrado, o pesquisador sênior do Centro de Antropologia e da Mente do Instituto para Cognição e Antropologia Evolucionária na Universidade de Oxford, Justin L. Barrett, descobriu em suas pesquisas que o ser humano nasce com a capacidade de crer. Ele sugere que “a crença em Deus é uma consequência quase inevitável do tipo de mente que temos. A maioria do que acreditamos vem de ferramentas mentais que trabalham abaixo da nossa consciência. E o que nós acreditamos conscientemente é em grande parte impulsionado por essas crenças inconscientes “, e “que as crenças em deuses combinam bem com estas suposições automáticas; crenças em um Deus onisciente e todo-poderoso é ainda melhor”.
O próprio patriarca evolucionista, Charles Darwin, registra em seu livro “A Descendência do Homem” a seguinte consideração: “uma crença em agentes espirituais onipresentes parece ser universal. Somos predispostos biologicamente a ter crenças, entre elas a religiosa”.
Apesar de coletar considerações de cientistas que não tem compromisso confessional, isto é, não são religiosos querendo justificar sua fé, confesso não me surpreender com textos e estatísticas que buscam provar a existência de Deus e nossa necessidade do mesmo. Deus não cabe na mesa fria da dissecação. Por isso, tudo que falamos sobre Ele, são meras possibilidades finitas e sombreadas de quem de fato ele é.
Quando Moisés indagou Deus, diante do evento epifânico da sarça ardente, acerca da legitimidade e reconhecimento de sua missão perante seus compatriotas, o mesmo lhe respondeu: Diga que Eu Sou te enviou. Moisés queria muito mais do que uma patente que lhe autorizasse perante os seus, ele queria saber qual o nome de Deus para conhecer seus limites, fronteiras para assim controlá-lo ao seu bel-prazer, todavia, para encerrar qualquer intenção humana de avançar perímetros inalcançáveis, o EU SOU é apresentado como realidade última. No EU SOU do Eterno não cabe definições como no EU ESTOU de criaturas instáveis como nós.
Conceituar sobre Deus, pensar em sua forma, ponderar seus limites de atuação, engaiolá-lo a um perímetro religioso é desobedecer ao próprio que assevera em seu segundo mandamento: “Não faça para você ídolos, nenhuma representação daquilo que existe no céu e na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. ” Tal como o Amor que tem múltiplas faces e atitudes distintas e inusitadas, assim Deus se apresenta na experiência humana e no âmago de nosso ser.
Por isso, há aqueles que decidiram não crer em Deus, pois não têm diante de si algo tangível e manipulável. Todavia, como diria Fernando Pessoa: “Não haver deuses é um deus também”. Retira-se Deus e coloca-se a ciência, a tecnologia, o humanismo no lugar. E, assim, caminha a humanidade, pois o consequente, “embrulhar” no estômago que causa as náuseas cotidianas provocadas pelo nosso distanciamento do verdadeiro Ser. Substituiu-se o Ser (Deus) pelo não-ser (Objetos, pessoas, ideias, etc) e nessa zona de instabilidade, nota-se para todo lado, indivíduos desbaratados a procura de algo que lhes dê direção e descanso.
Não se olha para dentro de si para encontrar Deus, entretanto, é olhando para si que percebemos um vazio abismal e assim clamamos ardorosamente por Deus. É encontrando Deus que se encontra a si mesmo.
“NELE vivemos, movemos e existimos”, não há vida fora dele. Nele a existência ganha ares de dinamismo, clareza, confronto, sentido… Deve ser, por isso, que Carl G. Jung quando perguntado se cria na existência de Deus, respondeu: Não preciso acreditar. Eu sei!
E você sabe ou preferiu esquecer? Deus não sofre de autoafirmação, portanto, não precisa que creiamos nele para se sentir pertencendo a um tempo e espaço, entretanto, nós carecemos do sentir pertencente a alguém e assim se realizar como gente de verdade. Volte seus olhos e dê real importância a essa experiência de incursão do trajeto ao Sagrado.
