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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Sem ensino de tempo integral nunca haverá ensino público de qualidade

De certa maneira este artigo complementa o tema iniciado nesta mesma coluna na semana passada, na qual destaquei a impossibilidade do atual modelo brasileiro de ensino básico público cumprir suas funções, a saber: formar para o mundo do trabalho e para a vida em sociedade. Também propus que como saída adotássemos o ensino em tempo integral. E é sobre esta proposta que nos debruçaremos a partir de agora.

André Braga * 

De certa maneira este artigo complementa o tema iniciado nesta mesma coluna na semana passada, na qual destaquei a impossibilidade do atual modelo brasileiro de ensino básico público cumprir suas funções, a saber: formar para o mundo do trabalho e para a vida em sociedade. Também propus que como saída adotássemos o ensino em tempo integral. E é sobre esta proposta que nos debruçaremos a partir de agora. 
Não há nenhum país no mundo que consiga juntar ao mesmo tempo bons índices sociais e econômicos, que não possua ensino em tempo integral. E isso, caros(as) leitores(as), não é coincidência. Diante de tal fato, retomemos a linha de raciocínio que comecei na semana passada: se um(a) jovem, das 24 horas do seu dia, dormir 8 horas e ficar no colégio por volta de 5 horas, totalizando 13 horas, o que fará nas 11 horas restantes?
Qualquer professor que trabalhe nas redes públicas (estaduais e municipais) sabe que é preciso melhorar a qualidade dessas 5 horas que uma pessoa fica no colégio. Contudo, neste caso trata-se de melhorias exclusivamente de âmbito acadêmico. E quanto a isso, me debruçarei nos próximos artigos. Ao ressaltar o ensino integral como um norte de trabalho, é preciso focar nas 11 horas “ociosas” do(a) aluno(a). É nesse período que conseguiríamos criar, na visão do(a) próprio(a) estudante, sentido para a sua educação formal, o que não ocorre hoje. Não é comum em salas dos professores algum colega exaltar o comprometimento de um ou outro aluno, e no final de sua reflexão chegar à conclusão de que se trata de uma exceção. Isto ocorre pois não há comprometimento do aluno com a sua formação acadêmica formal, tendo em vista que no seu universo a regra é “ganhar a vida sem estudos mesmo”. 
Sem referências externas uma pessoa tenderá sempre a reproduzir as características políticas, sociais e econômicas que a cercam. O mesmo ocorre com um(a) estudante que ao não ter referências de vida cidadã exemplar ou de sucesso profissional ao alcance do seu meio social e familiar, não identifica sentido em sentar-se em bancos escolares para reproduzir a mesma vida dos seus pais. Neste caso, o único benefício do colégio é o diploma.   
 O tempo integral, principalmente o contraturno, ou seja, o turno de tarefas extracurriculares, é essencial para cumprir o objetivo de ressignificar a escola para o(a) aluno(a). É neste período que se pode inserir atividades esportivas, culturais, técnicas profissionais ou até mesmo acadêmicas imprimindo sentido à instituição escolar. Tais ações teriam um triplo caráter: lúdico, inserção ao mundo do trabalho e de socialização.
Tarefas lúdicas conseguem ser assimiladas muito mais facilmente, portanto, haveria a incorporação e engajamento dos alunos em atividades que podem render frutos profissionais no futuro. Além disso, a interação em festivais culturais, feiras e competições científicas e competições esportivas intercolegiais ampliam a interação e a experiência social do(a) jovem, alargando também seu conhecimento do mundo e consequentemente aumentam suas perspectivas profissionais. Tais fatores aumentariam o engajamento imediato dos estudantes, já no primeiro ano de efetivação desta modalidade. A partir disso, é matemática básica: quanto mais engajado no seu próprio processo de ensino aprendizagem e na construção de um futuro melhor para si e sua família, maior será seu rendimento acadêmico.
Esta é uma política que não cabe pela metade. Portanto, ou a implementamos integralmente ou será natimorta. Dessa maneira, para realizar este projeto será preciso muito esforço do poder público em disponibilidade de verba e na contratação e formação de pessoal. Contudo, já ressalto: dificuldade não pode ser encarada como inviabilidade, pois como sabemos este projeto já foi realizado num passado não muito distante.   

 

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Edição 23/11/2024
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