Ansiamos pela paz, promovendo discursos de ódio e ampliando o distanciamento entre os de pensamento diferente. As polarizações acentuam os extremos, assim o fundamentalismo religioso abre espaço para os fundamentalistas políticos que não só aproveitaram os discursos flamejantes e vociferantes de pretensa verdade absoluta, como também assimilaram para si os aspectos redentores e salvacionista próprios do dogma religioso.
Querem paz, mas não são as bandeiras brancas que são levantadas nos altos das praças, todavia, as vermelhas e multicoloridas das ideologias partidárias de predileção. Não são pombas alçadas ao ar, mas tomates, ovos, bomba de gás lacrimogênio.
Pedem paz e se armam para a guerra. Alimentam o ciclo da violência. Diante da morte de Abel, os justiceiros da moral e bons costumes, os seres politicamente corretos, buscam Caim para dar-lhe a paga pelo homicídio. Querem fazer justiça com as próprias mãos. Deus, sabendo do interesse e do anseio pela legalização do porte de armas para o tal uso legitimo, coloca em Caim um sinal para que quem o encontrasse não o matasse, Deus não está fomentando a impunidade, mas quer encerrar o ciclo de violência e morte iniciado no mundo. Quer cortar mal pela raiz.
Matamos com e sem armas, anulando assim quem dorme na mesma cama, demonizando o patrão a cada semana, reduzindo o filho a um mero investimento que obrigatoriamente precisa rentabilizar como qualquer fundo de investimento monetário. Anunciamos que contra nós pesa uma perseguição, entretanto, a mesma é apenas fruto de uma artimanha esquizofrênica, distante da realidade, mas estrategicamente pensada para justificar nossas reações destemperadas e impulsivas diante dos que nos rodeia.
No meio dos homicídios, genocídios, parricídios, diante das guerras frias e mesmo aquelas esquentadas com socos e pontapés, no mundo de ressentidos que desde sempre negam a vida dando-lhe respostas tresloucadas e agressivas a quem simplesmente lhes deram um “bom dia”, Jesus anuncia que felizes são os pacificadores pois eles serão chamados de filhos de Deus.
Pacificar é a capacidade que um indivíduo tem de restituir a paz a um lugar ou a um grupo que antes vivia mergulhado nas suas intransigências. Para um replicador de paz, ver seu projeto de pacificação ganhar terreno, já é em si mesmo algo que traz a felicidade, torna-se a recompensa em si.
Os homens e mulheres de paz renunciaram seu gene egoísta e absorveram uma carga genética até então improvável, isto é, suas atitudes humanizadas revelaram o DNA sagrado em suas próprias vidas. Eles são filhos de Deus.
Consequentemente, Jesus também encerra o questionamento acerca de um Deus belicoso, ansioso pela próxima guerra. O Deus, Senhor dos Exércitos, que tem sede do sangue do Faraó, Nabucodonosor, César ou que dependendo da contextualização e do punho cerrado do que lhe clama para pleitear sua causa, também pode promover vingança ao muçulmano, ao ateu, ao policial, ao bandido, ao genro, a sogra, ao marido, a esposa, etc.
Deus não tem prazer na guerra e em nenhuma instância desta. Não imagine que a vingança divina será uma bomba lançada no seu opositor, nem uma doença incurável sobre ele ou a perda de um ente querido para que seu algoz sinta uma dor incalculável. O que Deus faz diante das injustiças é restaurar os caminhos da justiça e isso não tem nada a ver com eliminar gente. O profeta Ezequiel anuncia: “Teria eu algum prazer na morte do ímpio? Palavra do Soberano Senhor. Pelo contrário, acaso não me agrada vê-lo desviar-se dos seus caminhos e viver? ”
Que o Reino de paz, justiça e equidade governe sobre nós e o seu príncipe, Príncipe da Paz, que nos fez filhos de Deus, nos comissione para uma marcha de vida a semelhança de Martin Luther King e os demais que foram de Selma a Montgomery, rumo a uma nova Terra.
