Wanderley Peres
Vinte e um ano depois do surgimento do nosso primeiro jornal, o Theresopolitano, em 1902, surgindo nos primórdios da imprensa no município os jornais “Therezopolis”, em 1911; a “Gazeta de Teresópolis”, em 1913; e “O Paquequer” e “Correio do Povo”, em 1918, todos eles extintos ainda nos anos 1920, num domingo, 23 de março de 1923, surgia o jornal “O Therezopolis”, que juntaria sua história à do “Teresópolis Jornal” em 1939 e neste sábado comemora o título seu cobiçado centenário.
Criado no ano seguinte ao que ocorreu a primeira eleição para prefeito, 1922, e dez anos depois apenas de criada a Prefeitura, em 1913, o jornal “O Therezopolis” é um documento primário da história municipal, praticamente o único recurso para pesquisas das notícias locais dos anos 1920 e 1930, onde a história da cidade está descrita de forma precisa, com a inconfundível marca do professor e intelectual Nilo Tavares, jornalista gráfico sócio de Olegário Bernardes que estabeleceria seu próprio título em janeiro de 1939. Neste “Teresópolis Jornal”, ainda em circulação, os fatos ocorridos na cidade dali em diante ficariam bem registrados também. Primeiro com o próprio Nilo Tavares, até ser substituído na direção do jornal pelo genro, Délcio Monteiro, em 1967, indo essa profícua gestão até 1981, quando o TJ passou às mãos de um grupo de empresários, assumindo sua direção o jornalista José Renato de Miranda. Pouco depois, a proprietária Marilena Capanema, vendeu o jornal ao médico e empresário Roberto Petto Gomes, prosperando o veículo, agora de um grupo de comunicação, agregando-se a ele a rádio Teresópolis AM e a Tere TV.
Relançada por Olegário Bernardes, de quem Nilo havia sido sócio no “O Therezopolis”, o jornal “Gazeta de Teresópolis”, em sua segunda fase, conta bem, também, a história a partir de 1936, ano em que ocorreu a única eleição no período de exceção da Ditadura Vargas e quando, fora um curto interregno de tempo, entre 1930 e 1947 o município ficou sem vereadores e teve os seus prefeitos nomeados pelo interventor do Estado, que era escolhido pelo presidente da República. Essa “Gazeta”, que parou de circular em 1952, ainda teria uma terceira e curta fase, em meados de 1950, da qual não se tem notícia de exemplares. Ressurgiria em 1978, em derradeira fase, que durou quase 40 anos, até 2009, quando somou sua história à da Gazeta Serrana, criada em 7 de setembro de 1970 pelo ex-vereador e empresário Pedro Helios Forster Leite, que era candidato a prefeito por aqueles dias, daí a abertura do jornal. Estiveram à frente da Gazeta nesta última fase, onde trabalhei como tipógrafo e paginador entre 1977 e 1987, a empresária Gilda Lopes Leite e a jornalista Nida Rego, que me deram de presente os seus valiosos cadernos deste jornal.
Os jornais guardam a história da cidade, especialmente numa cidade que não se preocupa com a sua memória. Prova da importância dos jornais impressos é a grande procura do acervo Pró-Memória para pesquisa diversas, agora, mesmo, se beneficiam do Pró-Memória os professores que estão se aposentando e precisam apresentar os atos oficiais, que embora oficiais, são sonegados pela Prefeitura, por não existir memória deles disponíveis ao público.
O que não se encontra no vasto acervo de jornais antigos do Pró-Memória – bens guardados pelo Pró-Memória Teresópolis, além de outros cerca de 100 títulos de jornais da terra – pode ser encontrado no “Diário de Teresópolis”, desde 1988 registrando o dia-a-dia da cidade e que, naturalmente, a coleção completa está guardada, parte, já digitalizada, para consulta do público no site do jornal.
Dos jornais que circularam antes de 1923, embora tenha alguns exemplares guardados também, são poucas as edições que sobreviveram. Do primeiro a ser editado no município, “Theresopolitano”, de 1902, o Pró-Memória dispõe de edições do ano de 1912 que já serviram para a pacificação da data certa da conquista do Dedo de Deus, por exemplo, ocorrida no dia 8 de abril e não em 9 como se dizia. É uma pena não existirem mais exemplares deste importante jornal. Do “Therezopolis”, de 1911, existe um exemplar apenas, a mesma quantidade do “Paquequer”, de 1918, quando foi criado o “Correio do Povo”, jornal adversário a ele e aos políticos que defendia, que não se sabe de um exemplar que seja. Acabaram os dois em 1922, ano da nossa primeira eleição para prefeito, quando devem ter contado versões bem diferentes do evento. Afinal, dizia um, o que ao outro não interessava contar. Bom jornal desse período, que circulou sua primeira fase de 1913 a 1918, a “Gazeta de Teresópolis” também desapareceu, existindo alguns exemplares pingados, restando como recurso para o entendimento desse tempo antigo os jornais do Rio de Janeiro, boa parte digitalizados e disponíveis para consulta pela internet, na hemeroteca da Biblioteca Nacional.